Um conto em três partes (parte 1)
Caminhava pela rua em passos lentos, despreocupado. Passou por sobre um pedaço de espelho que jazia no chão e percebeu que não havia visto seu reflexo nele. Ao passar por um carro estacionado, olhou no reflexo do vidro para confirmar se tinha reflexo ou não. “Era só o que faltava eu não ter reflexo”, pensou enquanto se observava naquela janela de carro. Tinha uma missão a cumprir e não podia ser retardado por uma descoberta tão importante justo agora; para ele, o reflexo era como a alma. Era bom saber que ainda tinha uma.
Vinha pensando há algum tempo em fazer o que iria fazer; porém, nunca havia juntado a coragem suficiente. A idéia sempre estava lá, sorrateira. Agora ela havia tomado conta da sua mente de maneira definitiva. “Mas por que é assim?”, pensava enquanto continuava sua caminhada até aquele prédio que havia escolhido um dia antes. Durante o seu derradeiro passeio, aproveitava para lembrar algumas coisas que o motivaram a tomar uma atitude tão drástica em relação à própria vida.
Lembrou que nunca havia realmente sofrido na sua vida. Não mais do que uma pessoa comum, pelo menos. E bem menos, com certeza, do que a maioria das pessoas cujas vidas apareciam nas manchetes de jornais que ele lia diariamente. Isso o incomodava, esse sofrimento que ele quase compartilhava com completos estranhos. As injustiças que acompanhava todos os dias, ele sentia que se relacionava com elas de maneira diferente da maioria das pessoas. Ele as sentia. As raciocinava. E o resultado disso não fazia bem.
4 comentários:
Todo contista é um romancista fracassado.
Todo comentarista de blog é um contista fracassado.
Comentaristas de blog só fazem a caridade de alimentar a mediocridade alheia.
E quem comenta no próprio blog só alimenta a própria mediocridade.
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