22 de mar. de 2010

O soneto é pior que a emenda (Juca Kfouri)

Coluna publicada na “Folha de S.Paulo” da última quinta-feira, um dia depois da manifestação no Rio, com 150 mil pessoas segundo algumas fontes, com 80 mil segundo outras e com 10 mil, de acordo com os mais realistas.

JUCA KFOURI
O soneto é pior que a emenda

Você acredita que o Rio-2016 esteja mesmo em risco por causa do projeto do deputado Ibsen Pinheiro?
QUE A emenda do deputado gaúcho prejudica o Rio, o Espírito Santo, e até São Paulo, é fora de dúvida.
Que o pré-sal não tem nada a ver com a Olimpíada no Rio também está claro, tanto que pararam de falar disso depois que foi devidamente lembrada a antecedência da candidatura carioca em relação à descoberta de petróleo na camada. Mas o barulho que se faz em torno do assunto, de tal tamanho que nem fica bem chamá-lo de soneto, revela nossa incapacidade para produzir políticos de novo tipo.
A atuação de Sérgio Cabral Filho é patética, digna de um canastrão da pior qualidade.
O governador que não se abalou de sua mansão em Mangaratiba (avaliada em R$ 4 milhões) quando houve a tragédia de Angra dos Reis (50 mortos) na passagem do ano, porque não queria parecer, segundo ele mesmo, “demagogo”, chorou pelos royalties perdidos (R$ 7 bilhões) e convocou, com direito a ponto facultativo, os funcionários públicos a participar da manifestação “espontânea” de ontem à tarde.
Alguns desses funcionários públicos que foram espancados na greve dos professores fluminenses em setembro passado e que perguntam como pode alguém, de família de classe média, que começou sua vida como jornalista e logo ingressou na vida pública ter o padrão de vida que tem o governador.
Não satisfeito, Cabral descobriu que assim não teremos a Olimpíada na Cidade Maravilhosa, coisa para a qual o COI não deu a menor pelota, tanto que declarou oficialmente ter garantias do governo federal.
Igual papelão fez o COB, que engrossou a choradeira do governador e acenou com uma hilariante quebra de contrato.
Nada de novo, aliás, porque o mesmo Carlos Nuzman que age deste modo agora disse na semana passada que o Pan-2007 não deixou legado porque assim não exigia a Odepa, diferentemente do COI em relação à Olimpíada-2016. Não é de pasmar?!
Em bom português, estamos vendo uma escalada cujos nome são chantagem ou terrorismo.
Chantagem pura e simples, terrorismo com as perspectivas dos Jogos Olímpicos e da Copa do Mundo.
Certamente se o Senado aprovar como está a emenda de Ibsen Pinheiro, e Lula não vetá-la, o Rio perderá muito, dinheiro que fará falta para manter o alto nível de segurança pública do Estado fluminense, assim como suas boas escolas e ótimos hospitais e estradas, para não falar dos aeroportos, saneamento básico etc. Só não se sabe o que é pior: se a demagogia em curso de Cabral ou o silêncio inicial de José Serra.
Sim, porque o governador de São Paulo chegou a dizer que sabia da emenda apenas “pelos jornais”, saída tosca para não se posicionar.
Claro que não era mera omissão, tão a gosto dos políticos que não querem se comprometer.
Era mentira mesmo, porque ninguém pode acreditar que um tema de tal importância não seja acompanhado de perto pelo governador do Estado mais poderoso do Brasil e, ainda por cima, candidato à presidência da República.
E de políticos desse tipo o país está farto, ou, isto é, deveria estar, porque continua a elegê-los.

Retirado do Blog do Juca

17 de mar. de 2010

15 de mar. de 2010

Antes do Amanhecer

Pode ser interessante um filme que conta a história de duas pessoas que se conhecem em um trem, começam a conversar até o amanhecer do dia seguinte e se apaixonam? Se for um filme de Richard Linklater, não só pode como deve.

O que a história de Antes do Amanhecer tem de mais interessante é o fato de que o casal se apaixona por meio de uma gostosa e intensa conversa que dura poucas horas. Repleto de diálogos inteligentes, o filme elabora um perfil realista dos protagonistas e desenvolve uma história simples, porém comovente.

O filme inicia em um trem e, desde o momento em que o casal começa a conversar, já é possível perceber o grande entrosamento que adquirem um pelo outro. Isso é essencial no início para que acreditemos que Celine pudesse mesmo aceitar o convite de um desconhecido para descer do trem e passar uma noite com ele.

A partir daí, a conversa entre eles domina a narrativa, trocando de assunto de uma maneira muito fluida e natural. A naturalidade dos diálogos entre os dois é evidenciada pela forma como eles se relacionam: desde a cena na loja de música, quando ficam extremamente desconfortáveis enquanto escutam uma canção, até quando Jesse, de forma desajeitada, tenta pedir um beijo a Celine, podemos sentir um relacionamento real surgindo diante de nossos olhos. Além disso, outro destaque na conversa são as questões filosóficas abordadas no filme, que vão de questões políticas até metafísicas, que colorem os personagens de maneira muito eficiente.

E se o trabalho de Hawke e Delpy surge com um entrosamento fantástico, que auxilia na verossimilhança do roteiro, Richard Linklater também merece destaque ao manter, por exemplo, um plano em que Jesse tenta ajeitar o cabelo de Celine, que cai novamente em seu rosto (e então ela mesma arruma), ou outro em que ele tenta pegar a mão de Celine, que desvia a ação, fazendo com que Jesse fique meio sem jeito, mostrando mais uma vez a naturalidade das ações. Além disso, aproveitando de forma muito elegante a belíssima cidade de Viena, Linklater usa planos abertos dos locais que serão palco para os diálogos do casal, como se estivesse apresentando-os para o espectador, para depois se concentrar efetivamente na relação entre os dois.

Encerrando de uma forma dúbia e melancólica, mostrando os locais em que o casal havia passado, só que agora completamente vazios, Antes do Amanhecer exibe uma ótima história que suscita vários questionamentos no espectador, o que evidentemente torna a experiência de assisti-lo não só um mero passatempo, mas também uma reflexão sobre a vida - e de uma forma muito sensível.

FICHA TÉCNICA

Antes do Amanhecer (Before Sunrise) - Nota A
Direção: Richard Linklater. Roteiro: Richard Linklater e Kim Krizan. Com: Julie Delpy e Ethan Hawke.

Obs.: a crítica da continuação, Antes do Pôr-do-Sol, encontra-se aqui.

14 de mar. de 2010

Dep. Quito 1 x 1 Inter

Entretanto, se por um lado a equipe colorada apresenta atuações sofríveis, ao menos vai desenhando uma estratégia bem clara: ganhar em casa e não perder fora de casa. E Libertadores é basicamente isso. - André

O colorado conseguiu seu objetivo e saiu da altitude com um pontinho precioso. Mas tem que começar a jogar mais se quer sonhar com o bi da Libertadores. - Eu Mesmo

Lá no Imparciais, a análise imparcial do jogo de quinta-feira.

10 de mar. de 2010

Apocalipse motorizado

"Na anti-cidade, quem deve é olhar é o pedestre. Se você está a pé, “proteja-se das máquinas”, elas matam. Mas se você tem uma armadura de duas toneladas, em especial aquelas com vidros escuros, acelere, afinal a vida que atravessa na sua frente deve olhar, parar e deixar o seu veículo passar."

Muito boa a leitura deste texto, recomendo.

9 de mar. de 2010

Impressões

Para quem não sabe, eu trabalho em casa e não tenho saído muito - não tanto quanto antes, pelo menos. Por isso, tenho andado menos de ônibus, visto menos lugares, etc. Ontem as aulas recomeçaram e, com elas, veio a obrigação de voltar a ter uma vida mais ou menos "normal", no que diz respeito a ir para outros lugares. Portanto, este início de semestre me proporcionou um choque um pouco maior do que os anteriores, e talvez estas duas impressões soem um pouco óbvias para vocês, mas de qualquer forma, não posso deixar de publicá-las por aqui.

Em primeiro lugar, na linha D43 - Universitário, fiquei chocado ao ver que as possibilidades de inserção de publicidade parecem não ter fim; depois de colocar anúncios nos vidros traseiros dos ônibus e em televisões que passam pouco conteúdo de qualidade duvidosa (horóscopo, trívias sobre futebol, etc.) como justificativa para passar muito conteúdo publicitário, eis que os gênios da publicidade calharam de colocar sua marca também nos... puta-merdas!! Sabe aqueles "pegadores de mão" que são colocados nas barras horizontais que servem para nos segurarmos nos ônibus, para serem usados por pessoas que não alcançam lá em cima? Pois bem, o coletivo que eu andei ontem tinha vários deles, de plástico, com a mensagem "Anuncie aqui" e um telefone. Juro que procurei uma câmera, pensando tratar-se de uma pegadinha do Mallandro, mas a naturalidade dos outros passageiros me fez cair na realidade.

Outra coisa que me deixou espantado foi, já no Campus do Vale, ver um anúncio feito em uma folha A4 com os dizeres: "Compro ouro / vendo jaleco". Estou até agora tentando achar uma relação entre as duas coisas.

Como as coisas ficam mais estranhas em três meses...

5 de mar. de 2010

O cinema argentino

Eu poderia falar aqui por muitos parágrafos sobre a superioridade do cinema argentino em relação ao brasileiro, particularmente para aqueles que ainda não entendem como os filmes nacionais pré-selecionados ao Oscar acabam ficando no meio do caminho. Porém, acho melhor dar apenas um pequeno exemplo de técnica cinematográfica aplicada à narrativa para ilustrar essa superioridade hermana. Ele vem do candidato argentino ao Oscar deste ano, O Segredo dos Seus Olhos, e trata-se de um plano-sequência de uns cinco minutos que é extremamente complexo do ponto de vista da execução, particularmente nos segundos iniciais (o "voo" pelo estádio) e a passagem por uma abertura seguida da queda de um personagem. É claro que o filme é muito mais do que isso, mas este plano-sequência pode ser tomado como exemplo em uma escala menor. Apesar de provavelmente perder o Oscar neste domingo para A Fita Branca, de Michael Haneke, fica aí um exemplo de técnica a ser seguido pelo Cinema brasileiro (outra mudança seria nos temas, que nos últimos anos são praticamente os mesmos, mas isso é uma outra história).

O Método Científico - Série "Fácil de Entender"

O passo fundamental para entender a ciência é saber como ela funciona. Infelizmente, muitas pessoas pensam que a ciência é um "conjunto de achismos" e que as teorias científicas são apenas "idéias oriundas da cabeça dos cientistas".

Parte da série Fácil de Entender, este vídeo explica como funciona o método científico e por que ele merece a mesma credibilidade que oferecemos às tecnologias que utilizamos em nosso dia-a-dia. Mostra como o conhecimento científico é construído, de simples intuições em um laboratório a teorias aceitas pela comunidade científica e ensinadas nas escolas.


PS: o texto acima não é meu, apenas retirei das informações do vídeo. Todos os créditos para a Liga Humanista Secular do Brasil (LiHS).

Momento cultura inútil

Aprendi uma palavra nova hoje: Anatidaefobia. O que significa? Bem, acreditem ou não, é o medo de ser observado ou perseguido por patos(!).

Mas acalmem-se: essa patologia (modo trocadilho infame on) não existe; ela foi inventada pelo cartunista Gary Larson para uma tirinha. Aliás, ela está aqui. A não ser que tu se sinta realmente observado ou perseguido por patos...

Moldura Digital também é cultura... inútil.

4 de mar. de 2010

Videoclipes legais - Ok Go

Desde que me lembro, sempre gostei de videoclipes, por vários motivos. Gosto especialmente da possibilidade que eles têm de comunicar a música, de servir como um veículo de divulgação para ela. Nesse sentido, preciso dizer que adoro clipes originais, divertidos, legais, enfim, criados não necessariamente para contar o que a música está dizendo, mas como uma forma de arte que serve à música que eles representam.

Exemplos não faltam; há diretores e músicos empenhados nisso. De bate-pronto, quanto aos diretores, me lembro de Michel Gondry e Spike Jonze e, quanto aos músicos, de Aphex Twin, Chemical Brothers e Ok Go. Por ora, fiquem com dois clipes muito bem feitos e que devem ter dado um trabalho dos diabos da banda estadunidense Ok Go. Em breve virão mais alguns.

Este é o vídeo de "Here It Goes Again", que virou uma febre no Youtube e foi o responsável por alavancar a carreira da banda. Foram gravado dezessete takes até que o resultado ficasse bom:



E este é o vídeo de "This Too Shall Pass". Toda a construção levou um mês e meio para ficar pronta, e foram precisos uns sessenta(!) takes para finalmente sair o resultado final. A cada erro (que às vezes ocorria nos primeiros trinta segundos de gravação) era preciso reiniciar toda a parafernália; para isso, havia um grupo de 30 pessoas, e o processo de reinicialização demorava cerca de uma hora. O clipe, dirigido por James Frost, a banda e Syyn Labs (que também trabalhou na construção de tudo) é um plano-sequência rodado com uma Steadicam, e é uma verdadeira obra-prima:

3 de mar. de 2010

Semelhanças

Post novo no Imparciais, comentando a grande conquista do Grêmio no fim de semana. Vai lá.

História Real

...E toca o meu celular no meu aniversário! Então eu penso: "Quem será que quer me desejar feliz aniversário?". Já fico pensando em responder que não vou fazer festa alguma, etc. Aí olho pra ver quem é e aparece "sem identificação" no visor. Atendo:

- Alô?

- Oi, gostaria de falar com o sr. Silvio.

- Não tem ninguém com esse nome aqui.

- Desculpe, foi engano.

- ...

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