31 de mar. de 2009

Estão comprando todos (ou todos estão se vendendo)

“O roteiro foi o seguinte: passeio de helicóptero, jogo do São Paulo no Morumbi, 5 sorteados para bater penalti no intervalo do jogo e Bar da Brahma com petiscos e chopps por conta da LG. Ao final de tudo isso, cada um ganhou o celular que eles passaram o dia todo experimentando. É bom deixar claro que tudo isso foi oferecido sem a obrigação de fazer posts ou menções ao produto ou marca.

A estratégia é clara: utilizar formadores de opinião em redes sociais para gerar um retorno em buzz (comentários) para o produto. Ambos saem ganhando. Os participantes por ganharem uma bela história para o seu blog/flickr e a LG por fazer parte dessa história.”

Se conseguir, continue lendo o texto do Simviral sobre presentes e outros agrados enviados a blogueiros e formadores de opinião da rede.

Visto no Blog dos Malvados.

27 de mar. de 2009

E...

...o mês de março já tem mais postagens do que o mês de janeiro e fevereiro juntos. Isso que eu chamo de evolução!

Notas rápidas sobre o Grêmio

Após a conclusão do primeiro turno da fase de grupos:

- O Grêmio pegou um grupo muito fácil;
- Mesmo assim, está tendo mais sorte que juízo;
- Se tivesse feito todos os gols feitos que perdeu (só os FEITOS), estaria com saldo +32;
- Victor e Adílson são os melhores jogadores do Grêmio. Arrisco dizer que são de nível de Seleção;
- Os atacantes gremistas têm que fazer um cursinho de pontaria. Sugiro o Taison ou o Nilmar como professores.

23 de mar. de 2009

Música, emoções, pessoas

Quase dois anos após anunciar uma pausa por tempo indeterminado, a banda Los Hermanos fez dois shows no último fim de semana, um no Rio de Janeiro e o outro em São Paulo, como banda de abertura do Radiohead (juntamente com o Kraftwerk). Infelizmente, eles não falaram nada sobre voltar definitivamente ao trabalho. Enfim, foi um show com muitos pontos positivos (músicas há muito não tocadas, como "Cher Antoine", empolgação da grande maioria dos presentes - coisa rara em shows de abertura para bandas gringas - o Detonautas que o diga) e alguns probleminhas (uns errinhos meio toscos na execução), mas daqueles em que as emoções falam mais do que as palavras: vendo os caras ali, tocando mais uma vez, tive uma sensação muito boa, da qual estava mesmo precisando sentir. É daquelas coisas que só sentindo, sabe? Então, é melhor nem tentar escrever. O que eu quero dizer com essa postagem é como a música pode significar tanto para alguém, como ela pode ser transformadora de humores, emoções e, por que não, de mundos. Como ela nos dá coragem, nos causa nostalgia, tristeza ou alegria com uns poucos acordes, e como aqueles que as executam/compõem/cantam acabam adquirindo uma importância talvez desproporcional nas nossas vidas, apenas por aquelas palavras unidas a uma melodia cheia de notas musicas que chamamos de canção. É como minha mãe uma vez me contou: estava ela caminhando pela rua quando ouviu pelo rádio a notícia de que John Lennon havia sido assassinado. Ela chorou ali mesmo, na rua, sem se importar com os que por ali passavam; afinal, o que importava naquele momento era a dor de ter perdido alguém tão importante, tão querido, mesmo que esse alguém nem sequer fazia idéia da sua existência. É como os Hermanos são pra mim, assim como os irmãos Gallagher ou o Pearl Jam. Com certeza, no dia em que eles se forem vou chorar, no meio da rua ou em casa, por ter perdido pessoas especiais da minha vida. Mesmo que elas sequer tenham feito idéia de que eu existia.

20 de mar. de 2009

Ditabranda III

Saiu na Folha de São Paulo de hoje:

"A Folha de S.Paulo disse, em editorial, que a ditadura no Brasil havia sido "branda", se comparada a outros países. Você concorda com essa afirmação?
- Sim: 981 Votos 53%
- Não: 870 Votos 47%
Total de votos: 1851 "

Cada leitor tem o jornal que merece, ou cada povo tem o regime que merece?

18 de mar. de 2009

O videogame & eu II

Dando continuidade à nova série, começando pelo Super Nintendo:

Se até então eu já adorava videogames, quando ganhei o SNES vi uma revolução para mim: lembro-me que, inicialmente, quando eu comprei o hoje clássico Street Fighter II, chamava meus amigos para muitos duelos. Passava horas jogando, terminei o jogo com todos os personagens, me especializei no melhor de cada um, enfim, fiquei viciado. Até então, eu preferia jogos de aventura - Street Fighter era a exceção. Porém, com o SNES eu descobri um gênero de jogo que mudaria a minha vida: O RPG.

Infelizmente não me lembro qual foi o primeiro jogo de RPG que caiu na minha mão. Talvez tenha sido The Legend of Zelda: a Link to the Past (que nem é um RPG clássico, mas que contém elementos suficientes para quem gosta). Só sei que, quando vi, estava gastando horas terminando jogos como Breath of Fire, Secret of Mana, Super Mario RPG, Final Fantasy, Dragon Quest, Robotrek... Retornei aos meus videogames antigos para jogar os RPGs que eu havia deixado passar, como a série Final Fantasy do NES e Phantasy Star do Master System e do Mega Drive. Então, veio Chrono Trigger, até hoje eleito por muitos (eu incluído) como um dos melhores RPG de todos os tempos. O jogo tinha sete finais diferentes, viagens no tempo, uma história cativante e personagens tridimensionais, coisa rara nos videogames da época. Terminei o jogo com quatro finais e adorei. E queria mais. E veio mais.

Havia jogos fantásticos também em outros estilos, claro. Posso citar, assim, de primeira, Super Mario World (até Super Mario All-Stars também, relembrando o Nintendinho), F-Zero, Killer Instinct, International Superstar Soccer (e seus genéricos de Campeonato Brasileiro, claro), Super Metroid e Mario Kart.

O SNES ainda propiciaria a mim o terceiro episódio americano de Final Fantasy antes de se despedir, mas o console que me apresentou o gênero RPG (e que contava com muitos ótimos jogos desse gênero) pareceria obsoleto quando eu adquirisse o Playstation, da Sony. Esse foi o primeiro console que comprei com meu próprio dinheiro, e valeu cada centavo. Contando com gráficos nunca vistos antes, ele significava um grande avanço em relação à geração anterior - inclusive aos seus concorrentes de geração, o Nintendo 64 e o Jaguar, da Atari (alguém se lembra dele?). E os seus RPGs? Ah, a série Final Fantasy migrou para o console da Sony, fazendo a festa de milhões de fãs. FF VII significou uma revolução nos RPGs, sendo considerado o melhor de todos os tempos, com uma história madura e com muitas reviravoltas, personagens inesquecíveis, gráficos incríveis e muito, mas muito tempo gasto para terminar o jogo com tudo que se tinha direito. Eu levei inacreditáveis 64 horas para conseguir fazer todas as quests do jogo. Quer saber? Valeu cada minuto. Muitos outros RPGs vieram para o Play, como Parasite Eve, FF VIII, IX e Tactics, Dragon Quest VII... A Square virava A empresa na hora de fazer RPGs, e eu era um jogador feliz. Isso sem contar os outros gêneros (como não lembrar, por exemplo, de Winning Eleven?), que tornavam o Play um console completo.

Então, veio o Playstation 2, seu sucessor, e aí eu já não tinha tanto tempo pra jogar como antes. Dessa forma, joguei menos jogos, mas com a mesma intensidade de antes. FF X (grande estréia para o PS 2), FF X2 e FF XII serviram como horas de diversão para mim, assim como Dragon Quest VIII e, novamente, Winning Eleven.

Continua...

16 de mar. de 2009

O videogame & eu

Começarei hoje a série sobre videogames. Nada melhor para estreá-la do que contando um pouco a minha história com os consoles. Para quem não sabe, jogo videogame há mais ou menos 24 anos (putz, estou velho...), e desde que comecei não consegui mais parar. Lembro-me de acordar cedo em alguns finais de semana da minha infância apenas para me deliciar jogando River Raid, Enduro, Seaquest e muitos outros títulos do meu Onix Junior, videogame da plataforma Atari. Mais tarde, minha mãe me deu de presente o Dynavision 2 (plataforma NES), e me recordo que ele veio com um jogo de aventura/luta em que o herói era um lutador de kung fu que tinha que salvar a namorada. Era um jogo tosco, mas pra mim era o máximo - infelizmente, não lembro do seu nome. No dia em que ganhei o presente, fiquei jogando até muito tarde, a ponto de a minha mãe ter que me tirar da sala para eu parar de jogar. Fiquei muito brabo com ela - coisa de guri: mal sabia eu que, décadas mais tarde, escreveria sobre o tal jogo me referindo a ele como "tosco".

A partir daí a minha memória fica confusa em relação à ordem dos videogames que tive, mas não em relação a quais foram: Master System (o original), Mega Drive (Mega Drive mesmo, não o Genesis), Super Nes, Playstation 1, Playstation 2 e, recentemente, Nintendo Wii. Passei a desejar muito o Mega Drive por causa do Sonic, e enchi demais o saco da minha mãe para que ela me comprasse um. É interessante que eu quase não ganhava presentes, e estava muito satisfeito com isso, visto que os que eu ganhava eram basicamente videogames e as "fitas" (ou cartuchos). Eu quase morava nas locadoras (que mais tarde praticamente desapareceriam, por conta do preço dos CDs e DVDs em relação aos cartuchos) e alugava quase todo o final de semana pelo menos uma fita.

Do Mega Drive tenho pelo menos uma história legal para lembrar: em dezembro de 1994, fraturei um osso do pé. Por conta de um erro na hora de engessá-lo, tive que amargar três meses de gesso, ou, em outras palavras, o verão inteiro. E não é que meus fiéis amigos me acompanharam em boa parte desta "jornada" infeliz, jogando comigo tardes e mais tardes do console da Sega? Recordo-me bem que os que mais jogávamos eram Fifa Soccer '94 (clássico insuperável até começarem a produzir os Winning Eleven) e um jogo de corrida com uns veículos esquisitos, cujo nome infelizmente não recordo.

Aliás, gostaria de agradecer publicamente a todos os meus companheiros de jogo, aqueles que gastaram muitas horas de suas vidas divertindo-se ao meu lado, e dizer a eles que certamente não seria o mesmo sem suas companhias. Anderson, Thiago, Duda, Marcelo e meu irmão Beto, é claro, fazem parte de uma ala seleta da minha memória, recheada de jogos, da qual eu não pretendo me desfazer nunca. Um muito obrigado a todos vocês, e amanhã tem mais videogame aqui no Moldura.

Pequena observação

No dia em que não for mais necessário colocar em banheiros públicos uma placa pedindo para as pessoas não urinarem no chão e limparem as eventuais sujeiras que fizerem, eu começo a acreditar na humanidade.

13 de mar. de 2009

O Cinema de autor e Watchmen

Uma dúvida que muitas pessoas têm, quando o assunto é cinema, é sobre como identificar a assinatura de determinado diretor em um filme. Em vários casos isso é mesmo difícil, pois em Hollywood existem muitos diretores que são contratados para fazer um filme para o (e do) produtor, executando uma direção genérica e sem nenhuma característica essencial - coisa que, infelizmente, só vem aumentando a cada década. Entretanto, há muitos outros que ainda conseguem, se não completamente fazer um "cinema de autor", estabelecer certas características que os definem como cineastas peculiares. Para exemplificar isso, o link a seguir mostra como ficaria a adaptação de Watchmen na visão de seis diferentes cineastas. É uma brincadeira, é claro, mas que é feita a partir do estereótipo que se tem desses diretores, graças justamente as suas assinaturas cinematográficas. O site é em inglês, mas mesmo que você não entenda bulhufas tem uma ilustração que mostra bem o que o texto quer dizer. Clique aqui e divirta-se!

12 de mar. de 2009

Ditabranda II

E a Folha de São Paulo insiste no erro. No dia 5 de março, o jornal publicou um artigo do historiador Marco Antonio Villa defendendo o uso do termo "Ditabranda". O artigo é recheado de absurdos e foi duramente criticado em vários lugares (aqui temos um exemplo), inclusive dentro da própria Folha. Eu fiquei extremamente indignado com tamanho absurdo da utilização de uma retórica bem construída para falar tantas mentiras patrocinadas. Abaixo, algumas observações minha ao texto de Villa. Antes, leia o querido aqui.

- "É ROTINEIRA a associação do regime militar brasileiro com as ditaduras do Cone Sul (Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai). Nada mais falso." Eu queria ver ele explicar a Operação Condor, por exemplo. Ah, mas dela ninguém sabe nada, já que não saiu na Folha.

- "O regime militar brasileiro teve características próprias, independentes até da Guerra Fria". Putz, o maior argumento para o golpe de 1964 foi justamente a suposta ascensão comunista que estava ocorrendo no Brasil e que estaria infiltrando-se até no governo do João Goulart...

- "Enquanto a ditadura argentina fechou cursos universitários, no Brasil ocorreu justamente o contrário." Meia verdade, escondendo o que não convém. Senão, o que significou a perseguição a vários professores universitários e o lento, mas efetivo, sucateamento dos cursos de Humanas nas universidades federais?

- "inclusive de obras críticas ao governo". Interessante o autor não ter citado sequer uma obra. Mais interessante ainda é perceber que a censura não poupava nada nessa época, cinema, teatro, música, livros, televisão, a ponto de até novelas da Globo terem sido censuradas, algumas por nada a não ser a mera desconfiança de que havia alguma mensagem subliminar comunista - um exemplo clássico, além de Roque Santeiro, era de uma personagem de uma novela das oito, meio bruxa e que tinha um gato preto. A censura proibiu o uso dessa personagem, alegando que, se ela era bruxa e tinha um gato preto, é porque deveria haver uma mensagem subliminar ali.

- "No Brasil, naquele período, circularam jornais independentes -da imprensa alternativa- com críticas ao regime". Sério, nessa parte eu dei risada. É CLARO que circularam tais publicações, mas nenhuma com o amém do governo! Muito pelo contrário, como prova a primeira ação movida e ganha contra o Estado sobre tortura no regime militar: o réu foi preso por SUSPEITA de colaborar com uma gráfica da "imprensa alternativa" e apanhou tanto para confessar e entregar os seus supostos cúmplices que perdeu, entre outras coisas, todas as suas funções intestinais.

- "E os festivais de música popular e as canções-protesto?" O fato de eles terem existido não quer dizer que a ditadura concordava com eles. Que o diga Geraldo Vandré, Chico Buarque e tantos outros. Um exemplo de que canções-protesto não significam "ditabrandas" é o caso de Victor Jara, no Chile. Mas como a Folha não escreveu sobre ele, talvez ele não tenha existido também. Se os artistas brasileiros que protestavam tivessem sido pegos como ele foi pelo regime militar, não duvido que os seus destinos não fossem os mesmos.

Para terminar, deixo uma frase que ilustra bem esse caso: "É possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade". Infelizmente.

10 de mar. de 2009

Ditabranda

Para quem ainda não sabe, a Folha de São Paulo, no seu editorial do dia 17 de fevereiro, ao escrever sobre Hugo Cháves e seus esforços para se manter no poder na Venezuela, escreveu o seguinte:

"Mas, se as chamadas "ditabrandas" -caso do Brasil entre 1964 e 1985- partiam de uma ruptura institucional e depois preservavam ou instituíam formas controladas de disputa política e acesso à Justiça-, o novo autoritarismo latino-americano, inaugurado por Alberto Fujimori no Peru, faz o caminho inverso. O líder eleito mina as instituições e os controles democráticos por dentro, paulatinamente."

Ditabranda.

Aí, no dia seguinte, choveram cartas de repúdio a esse termo, e a redação do jornal novamente soltou uma pérola:

"Nota da Redação - Na comparação com outros regimes instalados na região no período, a ditadura brasileira apresentou níveis baixos de violência política e institucional."

Mais cartas apareceram para o jornal. A professora Maria Vitória Benevides escreveu para o Painel do Leitor da Folha, no dia 20 de fevereiro:

"Mas o que é isso? Que infâmia é essa de chamar os anos terríveis da repressão de 'ditabranda'? Quando se trata de violação de direitos humanos, a medida é uma só: a dignidade de cada um e de todos, sem comparar 'importâncias' e estatísticas. Pelo mesmo critério do editorial da Folha, poderíamos dizer que a escravidão no Brasil foi 'doce' se comparada com a de outros países, porque aqui a casa-grande estabelecia laços íntimos com a senzala - que horror!"

O jurista Fábio Konder Comparato também escreveu:

"O leitor Sérgio Pinheiro Lopes tem carradas de razão. O autor do vergonhoso editorial de 17 de fevereiro, bem como o diretor que o aprovou, deveriam ser condenados a ficar de joelhos em praça pública e pedir perdão ao povo brasileiro, cuja dignidade foi descaradamente enxovalhada. Podemos brincar com tudo, menos com o respeito devido à pessoa humana."

Já a redação do jornal Folha de S. Paulo publicou no mesmo dia a seguinte nota, obviamente reducionista, atendo-se a uma questão que não tem a ver com nada do que foi dito (ditaduras de esquerda, percebam o velho argumento de sempre):

"Nota da Redação - A Folha respeita a opinião de leitores que discordam da qualificação aplicada em editorial ao regime militar brasileiro e publica algumas dessas manifestações acima. Quanto aos professores Comparato e Benevides, figuras públicas que até hoje não expressaram repúdio a ditaduras de esquerda, como aquela ainda vigente em Cuba, sua ‘indignação’ é obviamente cínica e mentirosa."

Realmente lamentável a atitude da Folha. Lamentável mesmo. Esse revisionismo recheado de relativismo (duas pragas que contaminam a História nas últimas décadas) é altamente perigoso, e com base em vários comentários que li por aí, infelizmente funciona bem. A ditadura brasileira não foi branda, e compará-la com "outros regimes instalados na região no período" para justificar o uso do termo é de um simplismo preocupante. A propósito: dizer que a ditadura brasileira de 1964 a 1985 não foi branda não quer dizer, necessariamente, defender alguma ditadura de esquerda ou qualquer ditadura que seja. Argumentar nesse nível também é simplista - e conveniente.

Só para lembrar os desavisados, a Folha teria oferecido, durante a ditadura militar, suas viaturas de distribuição para transportar quem combatia a ditadura para os porões da OBAN. Por essa e outras ficou conhecida como "Diário Oficial da OBAN".

Utilizar-se de um termo como o que a Folha escreveu - "Ditabranda" - é tentar dar um novo sentido a um período que não foi brando, é tentar resignificar algo que, por interesses próprios de determinadas pessoas e/ou meios de comunicação, para eles deveria ser visto pelas próximas gerações como algo não tão desagradável como de fato foi. Afinal, utilizar a palavra "branda" é carregar a ditadura brasileira de significados que ela não possui e nunca possuiu. E é aqui que está o equívoco da avaliação da Folha: a comparação, nesse caso, é subjetiva e está servindo a um propósito anterior à própria comparação. Explico: se eu quero provar que a ditadura brasileira foi branda (propósito anterior), então eu a comparo com outras do período que mataram mais pessoas (comparação subjetiva). Ora, quem definiu que existe um critério para comparar ditaduras? E quem definiu qual é esse critério? É como a professora Maria Vitória Benevides escreveu, poderíamos então dizer que a escravidão no Brasil foi "doce" quando comparada com outras, ou que o Holocausto não foi tão ruim assim, comparado com o que aconteceu na URSS, ou que a "ditadura" do Chaves é branda, comparada com a do Pinochet, etc. Uma coisa não justifica nem ameniza a outra.

Nesse sentido, esse termo é uma tentativa sutil de manipulação histórica (tão sutil que muitos não a enxergam - ou convenientemente se negam a enxergar). Não foi uma pessoa isolada na Folha que escreveu isso; o termo aparece num editorial, defendido depois numa nota da Redação. Infelizmente, o jornal é lido por milhões de pessoas, e a maioria realmente acredita piamente em tudo o que um veículo de comunicação respeitável como a Folha escreve. Afinal, se a Folha escreve, deve ser verdade absoluta. Por que a Folha iria mentir, não é mesmo?

5 de mar. de 2009

O futebol e as entrevistas

Eu adoro futebol. Amo mesmo, tanto jogar quanto assistir. Tá, eu gosto mais de jogar, mas isso não significa que a minha paixão como espectador seja pequena. Porém, não sou torcedor de estádio. Contento-me perfeitamente em ficar no conforto do meu lar, vendo uma partida pela TV, tranquilamente, com tudo o que a transmissão me proporciona de melhor (replays, informações pertinentes, resultados de outros jogos, segurança, etc.) e, infelizmente, de pior. E é sobre isso - o que há de pior - que pretendo escrever um pouco agora.

Uma das coisas que mais me irrita em transmissões de jogos de futebol pela TV são as entrevistas com os jogadores. Seja pela qualidade da pergunta ou pela uniformidade covarde da resposta, elas viraram um instrumento jornalístico de última qualidade que, a rigor, só serve para duas coisas: encher linguiça na grade da emissora e tentar criar alguma polêmica com base em uma frase distorcida de alguém. É impressionante o grau de pasteurização que esse tipo de entrevista sofreu. É mais ou menos assim:

Repórter: E aí, Amaurizinho Sergipano, o que o teu time vai ter que fazer pra virar o jogo no segundo tempo?
Amaurizinho Sergipano: Tem que jogar com mais garra, marcar mais forte e não errar na hora do último toque.

Repórter: Estamos aqui com Iésclison. Iésclison, com um a menos agora, no segundo tempo tem que tentar manter o resultado, né?
Iésclison: Vamos ver o que o professor vai nos passar agora no vestiário, mas temos que jogar com mais garra, marcar mais forte e não errar na hora do último toque pra levar os três pontos.

Quase sempre, a mesma estrutura: uma pergunta óbvia e uma resposta mais óbvia ainda. Para piorar, TODOS os repórteres de campo têm o mesmo sotaque e TODOS os jogadores falam do mesmo jeito. Parece que estamos sempre escutando a mesma coisa.

Se pudesse, eu sugeriria para as emissoras novas e interessantes abordagens no campo e, para os jogadores, o modo Romário on sempre (para quem não sabe, o baixinho foi o último grande entrevistado no futebol brasileiro, como respostas antológicas). Ficaria mais ou menos assim:

Repórter: E aí, Amaurizinho Sergipano, perdeu mais um pênalti hoje, hein? Enquanto vocês não receberem os salários atrasados tu não vai mais acertar nenhum?
Amaurizinho Sergipano: Eu não! O presidente do clube até trocou de carro e vem dizer que não tem dinheiro para pagar os salários... Vou continuar me fazendo até ele pagar.

Repórter: Iésclison, é verdade que você é gay?
Iésclison (empurrando o repórter): Vai te #*$@, seu f*$%$¨#$@@!! (logo outros jogadores chegam, alguns tentando apartar a briga e outros ajudando a bater no repórter, já chegando na voadora).

Fica aí a sugestão. Acho que eu nunca mais trocaria de canal no intervalo entre o primeiro e o segundo tempo...

3 de mar. de 2009

Desmemória

Algo em torno de 80% do que eu penso se perde. Essa é a quantidade de coisas que eu penso e, passadas algumas horas, ja sumiram da minha mente. Pensamentos relevantes, bobagens, devaneios aleatórios, tudo isso faz parte da minha vida somente no momento em que é criado, para pouco depois fenecer em algum lugar obscuro do meu cérebro. É a minha desmemória.

Eu gosto de observar pessoas na rua, quando não tenho nada melhor para fazer. Gosto de imaginar como devem ser as suas vidas, como elas chegaram até ali. Aquela menina deve ser muito amada pela sua família, e não sabe o quanto é bonita. Aquele cara ali talvez tenha sofrido muito na vida e tenha perdido a esperança em algumas coisas que não deveria. Aquele senhor parece ser bem simpático, deve estar indo para a casa da filha, provavelmente visitar a neta, e naquela embalagem deve haver um presente para a garotinha. Todos esses pensamentos, toda essa imaginação, no final do dia já terá desaparecido. Todo esse meu passatempo, que me ajudou a me distrair e, por que não, me alegrar, terá, na calada da noite, ido embora sem ao menos se despedir. No dia seguinte, sequer me lembrarei que pensei na vida dessas três pessoas. De tão conhecidas na minha imaginação, logo voltarão a ser o que eram antes de eu imaginar uma vida para elas: nada.

Idéias para escrever no meu blog, como elas costumam desaparecer com a mesma facilidade com que aparecem. Tento até escrevê-las em uma folha, quando dá, mas às vezes me esqueço até que fiz alguma anotação. Quantas boas idéias já perdi nesse exercício involuntário de esquecimento? Não tenho a menor idéia, mas penso que muitas, e algumas até poderiam ter sido realmente boas.

Interessante que existe em mim a consciência de que todos esses pensamentos existiram, mas não existem mais. E, justamente pelo fato de eu não me lembrar deles, posso garantir que eles existiram?

Mais interessante ainda é o fato de que eu gostaria de não me esquecer de nada disso que eu comentei até agora, se pudesse escolher. Em compensação, há tanta coisa na minha cabeça que eu gostaria de apagar, tanta coisa que aconteceu e que não tem mais por que estar na minha memória. Essas coisas que só ocupam espaço, juntamente com outras que só me fazem sofrer, dessas eu me esqueceria sem pensar duas vezes. Mas, quanto mais eu me esforço para esquecê-las, mais elas ficam vivas na minha mente, exatamente o oposto do que acontece com aquilo que eu gostaria de lembrar.

Hum... vou anotar tudo isso agora mesmo, torcendo para que essas idéias - e o fato de que eu fiz tais anotações - não acabem indo para a minha desmemória.

2 de mar. de 2009

Imprensa...

Bono chama Chris Martin, do Coldplay, de "defeituoso e cretino". É com essa manchete que a notícia no link é dada, deixando para o final, lá embaixo na página, a informação de que Bono disse "que estava apenas brincando: "O Coldplay é uma boa banda e Martin uma boa alma".

Putz, o cara faz uma brincadeira e, para ganhar leitores, a Folha coloca essa manchete. Lamentável...

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