31 de jan. de 2007

Mel Gibson, violência e autenticidade

Muita gente está aconselhando o senhor Mel Gibson a procurar ajuda psiquiátrica devido a sua suposta predileção pela violência demonstrada pelos filmes por ele dirigidos (Coração Valente, A Paixão de Cristo e, agora, Apocalypto). Eu humildemente discordo. A violência extremamente gráfica nos seus filmes é apenas um ponto em comum de algo maior: sua preocupação com a autenticidade de suas obras. Sabemos que o cinema não é nem nunca poderá ser um retrato fiel da realidade; um filme pode ser, no máximo, a realidade daquele realizador. Porém, existem elementos que tornam um filme mais "real" do que outro, e são exatamente esses elementos que parecem ser o alvo da preocupação de Gibson. A violência é gráfica, na cara do espectador, para dar mais veracidade às cenas, assim como a escolha pela língua falada na época - aramaico, hebraico e latim para A Paixão e iucateque para Apocalypto. E é exatamente esse tom de verossimilhança o maior mérito e o maior defeito de seu novo filme.

Contando a história quase homérica de Jaguar Paw (porque não traduziram seu nome, por Deus?), passada no início do século XVI, Apocalypto é um filme que fala na verdade sobre o ciclo interminável de conquistas entre povos. Afinal, ele começa com uma parte da tribo de J.P. (Jaguar Paw, tá?) caçando uma pobre anta na floresta. Pouco tempo depois, sua tribo é submetida rapidamente pelos Maias e vários moradores são levados como escravos de guerra para serem depois ritualmente sacrificados. No meio do ritual, um sacerdote Maia inicia um discurso que poderia ter facilmente saído da boca do atual Dono do Mundo, o sr. Bush. Nele, o Maia fala que eles são o povo escolhido por Deus para comandar o mundo, etc. e tal. Pouco depois, seriam esmagados pelos espanhóis. Ou seja, a arrogância humana em querer tornar-se o senhor do mundo nunca foi exclusividade contemporânea, e mais do que isso, só existe dentro das circunstâncias de cada época e civilização. A pergunta que fica é: quem será que vai destronar os norte-americanos?

Tecnicamente o filme é muito bom. Ponto positivo para a fotografia (os planos naturalistas são fantásticos), montagem, maquiagem (as tatuagens, os cabelos, etc.), direção de arte (as construções maias são incríveis) e as atuações (que contam com a maioria do elenco amador). Ponto negativo para a utilização de câmera digital e o excessivo uso de câmera lenta e subjetiva. Não sou contra a câmera digital; existem filmes em que ela funciona bem - e Michael Mann sabe usá-la como poucos, como em Colateral, por exemplo -, mas nesse filme ela definitivamente não é a melhor escolha. Quanto à câmera lenta e à subjetiva, porra, o Mel Gibson exagerou! Ele as emprega em momentos completamente inapropriados, chegando a mostrar o ponto de vista de uma... cabeça decepada!

A própria violência do filme, tão alardeada por muitos, não incomoda. Ela se apresenta totalmente integrada ao filme; aquela serve a esse. É muito diferente, por exemplo, do por si só sanguinário O Albergue. Se a violência do filme é muito gráfica e se o diretor não faz nenhuma concessão para aliviar determinadas cenas, isso deve-se à pretendida autenticidade referida mais acima.

Enfim... Chegamos à principal rateada do filme, que diz respeito justamente à verossimilhança que parece ser o objetivo de Gibson: Apocalypto exibe um sem número de deus ex machina (ou seja, pessoa ou coisa que de repente aparece e resolve uma dificuldade aparentemente insolúvel), a partir do segundo ato, que chega a irritar. É o seguinte: J. P. precisa fugir dos Maias, voltar para a sua ex-aldeia e salvar sua esposa grávida e seu filho pequeno de dentro de um buraco, em uma aventura que rivaliza com a da Odisséia. Até aí, tudo bem. O problema é que, desde que chega na cidade Maia, J. P. passa por um sem-número de situações em que sua morte seria certa em um mundo minimamente normal. Porém sempre tem um porém para salvá-lo no último momento. Sempre. E isso incomoda muito, já que a preocupação com a reconstituição do filme não basta como contraponto de autenticidade a essas "intervenções divinas".

Bem, com tudo isso colocado na balança, posso dizer que Apocalypto não é um filme ruim. Entre seus méritos, coloca Mel Gibson como um diretor consagrado tecnicamente, e ainda faz filmes como Gladiador tornarem-se menos sérios, com seus diálogos em inglês. Afinal, Gibson provou que dá para fazer filmes de época com a língua da época. Entretanto, o filme poderia ter sido feito de maneira diferente, e isso acaba compromentendo um pouco o projeto.

FICHA TÉCNICA:
Apocalypto (2006) - Nota: C
Direção: Mel Gibson. Com: Rudy Youngblood, Raoul Trujillo, Rodolfo Palácios, Dalia Hernandez, Carlos Emilio Baez, Jonathan Brewer, Morris Birdyellowhead, Amilcar Ramirez, Israel Contreras, Isabel Diaz.

30 de jan. de 2007

Marketing de Guerrilha

É o ataque da publicidade!!! (ou, como diria o Kleiton, um gol de placa) :

29 de jan. de 2007

Woody Allen e os relacionamentos

Tá aí um realizador que eu conheci há pouco tempo - menos de dois meses - e que não paro de devorar. Nesse intervalo, já foram cinco filmes assistidos - Ponto Final, Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, Os Trapaceiros, O Dorminhoco e Hannah e Suas Irmãs - e nenhuma decepção. Eu sei que cinco filmes de um cineasta com mais de trinta anos de carreira e uma média invejável de quase um filme por ano é pouco, mas acho que já é um bom demonstrativo.

Todo mundo que conhece o cara já sabe quais são suas características - e quem não sabe que procure pela internet ou vá ver seus filmes -, portanto não vou gastar o tempo de vocês com isso. Mas faço questão de dizer que é simplesmente maravilhoso o jeito com que ele consegue destilar por cada filme seu, seja lá qual for a história, algumas mensagens que lhe são caras. Poderia citar vários temas, mas me prenderei naquele que acho o mais fascinante no momento: os relacionamentos.

Allen é extremamente cínico ao conceber os relacionamentos amorosos de seus filmes e os diálogos em torno destes, e consegue passar uma impressão realista - às vezes, pessimista - a respeito da sua visão de amor. Seja em mensagens diretas, como a decisão de certo personagem em Ponto Final, ou indiretas, como nos vários diálogos espalhados em seus filmes - às vezes literalmente espalhados: pode-se encontrar uma frase deliciosamente perdida em meio a uma cena trivial -, conseguimos entender que, para ele, o maior problema nos relacionamentos humanos está justamente na segunda palavra: os humanos.

Tá, eu sei que se você não viu nenhum filme dele talvez não saiba do que eu estou falando - e pode até nem estar gostando. Mas faça-me um favor e dê uma chance para esse que é um dos maiores roteiristas de todos os tempos, sem sombra de dúvida. E não me lembro de outro roteirista que, além de fazer uma verdadedira auto-análise nos seus filmes, ainda tem uma vida pessoal digna das suas histórias mais loucas - bastas lembrar as circunstâncias de sua separação com a atriz Mia Farrow para casar com a sua filha adotiva(?).

Como exemplo dos geniais diálogos em torno do tema, acompanhe duas anedotas que Allen conta em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa: a primeira é aquela em que ele fala para a câmera, no começo do filme, que jamais faria parte de um clube que aceitasse como membro alguém como ele. Então ele fala que essa é a piada-chave da sua vida no que toca a sua relação com as mulheres. A segunda, já no fim, é a do cara que vai ao psiquiatra e diz: "Doutor, o meu irmão é maluco. Acha que é uma galinha." E o médico pergunta: "Por que é que não o traz de volta a si?". E ele responde: "Até faria, mas preciso dos ovos". Então Allen conclue, melancólico: "É mais ou menos o que sinto sobre as relações entre as pessoas. São totalmente irracionais, loucas e absurdas, mas nós vamos agüentando porque precisamos dos ovos".

Para terminar, deixo mais um diálogo woodyalleniano, extraído de O Dorminhoco, grande homenagem às comédias do cinema mudo(?), após ele e a Diane Keaton terem roubado o nariz(?) do maléfico ditador e com isso terem destruído os seus planos:

Diane Keaton: O Erno vai liderar a revolução e o novo governo.

Woody Allen: Olha, você não entende? Em seis meses, roubaremos o nariz de Erno. Soluções políticas não funcionam. Não importa quem esteja no poder. São terríveis. Os políticos... Por que está me olhando assim?

DK: Acho que você realmente me ama.

WA: Claro que eu a amo. lsto é o que importa. E você me ama. Sei disso, e não a culpo, querida. Sabe, eu, eu... não estou falando mal do Erno. Ele é ótimo, se é que gosta de um alto, louro prussiano, nórdico, ariano estilo nazista.

DK:Mas, Miles, relacionamentos entre homens e mulheres não duram. Foi provado cientificamente. Existe uma substância química nos nossos corpos que faz com que nos irritemos uns com os outros.

WA: lsso é ciência. Não acredito na ciência. A ciência é um beco sem saída intelectual. É um bando de gente com ternos de lã, mentindo com dinheiro de fundações.

DK: Você não acredita na ciência. E também não acredita que sistemas políticos funcionem. E você não acredita em Deus.

WA: Certo.

DK: Então, no que acredita?

WA: No sexo e na morte. Duas coisas que acontecem apenas uma vez na minha vida. Mas pelo menos depois da morte você não fica enjoado.

25 de jan. de 2007

A Cara da Libertadores

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23 de jan. de 2007

Oscar 2007 - Indicados

Tá, eu sei que o Oscar é mais uma eleição política do que uma premiação do Cinema, mas eu gosto de acompanhar, nem que seja para ter uma noção do que assistir (e do que não assistir). Os indicados a prêmios técnicos (particularmente montagem) costumam ser bons, assim como os de roteiro e filme estrangeiro. Mas esse ano parece que a maioria das indicações faz por merecer. E esse ano vai, Scorsese! Enfim, taí a lista:


Melhor Filme

Babel
Cartas de Iwo Jima
Os Infiltrados
Pequena Miss Sunshine
A Rainha

Melhor Ator
Forest Whitaker - O Último Rei da Escócia
Leonardo DiCaprio - Diamante de Sangue
Peter O"Toole - Venus
Ryan Gosling - Half Nelson
Will Smith - À Procura da Felicidade

Melhor Ator Coadjuvante
Alan Arkin - Pequena Miss Sunshine
Djimon Hounsou - Diamante de Sangue
Eddie Murphy - Dreamgirls - Em Busca de um Sonho
Mark Wahlberg - Os Infiltrados
Jackie Earle Haley - Pecados Íntimos

Melhor Atriz
Helen Mirren - A Rainha
Judi Dench - Notas Sobre um Escândalo
Kate Winslet - Pecados Íntimos
Meryl Streep - O Diabo Veste Prada
Penélope Cruz - Volver

Melhor Atriz Coadjuvante
Abigail Breslin - Pequena Miss Sunshine
Adriana Barraza - Babel
Cate Blanchett - Notas Sobre um Escândalo
Jennifer Hudson - Dreamgirls - Em Busca de um Sonho
Rinko Kikuchi - Babel

Melhor Direção
Alejandro González Iñárritu - Babel
Clint Eastwood - Cartas de Iwo Jima
Martin Scorsese - Os Infiltrados
Paul Greengrass - Vôo United 93
Stephen Frears - A Rainha

Melhor Roteiro Original
Babel
Cartas de Iwo Jima
O Labirinto do Fauno
Pequena Miss Sunshine
A Rainha

Melhor Roteiro Adaptado
Borat
Filhos da Esperança
Os Infiltrados
Notas Sobre um Escândalo
Pecados Íntimos

Melhor Filme de Animação
Carros
A Casa Monstro
Happy Feet: O Pingüim

Melhor Direção de Arte
O Bom Pastor
Dreamgirls - Em Busca de um Sonho
O Grande Truque
O Labirinto do Fauno
Piratas do Caribe: O Baú da Morte

Melhor Fotografia
Dália Negra
Filhos da Esperança
O Grande Truque
O Ilusionista
O Labirinto do Fauno

Melhor Figurino
O Diabo Veste Prada
Dreamgirls - Em Busca de um Sonho
A Maldição da Flor Dourada
Maria Antonieta
A Rainha

Melhor Montagem
Babel
Diamante de Sangue
Filhos da Esperança
Os Infiltrados
Vôo United 93

Melhor Maquiagem
Apocalypto
Click
O Labirinto do Fauno

Melhor Trilha Sonora Original
Babel
O Bom Pastor
O Labirinto do Fauno
Notas Sobre um Escândalo
A Rainha

Melhor Canção Original
Carros - "Our Town"
Dreamgirls - Em Busca de um Sonho - "Listen"
Dreamgirls - Em Busca de um Sonho - "Love You I Do"
Dreamgirls - Em Busca de um Sonho - "Patience"
Uma Verdade Incoveniente - "I Need to Wake Up"

Melhor Edição de Som
Apocalypto
Cartas de Iwo Jima
A Conquista da Honra
Diamante de Sangue
Piratas do Caribe: O Baú da Morte

Melhor Som
Apocalypto
A Conquista da Honra
Diamante de Sangue
Dreamgirls - Em Busca de um Sonho
Piratas do Caribe: O Baú da Morte

Melhores Efeitos Visuais
Piratas do Caribe: O Baú da Morte
Poseidon
Superman - O Retorno

Melhor Filme Estrangeiro
After the Wedding
Dias de Glória
O Labirinto do Fauno
As Vidas dos Outros
Water

Melhor Documentário
Deliver Us From Evil
Iraq in Fragments
Jesus Camp
My Country, My Country
Uma Verdade Incoveniente

Melhor Documentário – Curta-Metragem
The Blood of Yingzhou District
Recycled Life
Rehearsing a Dream
Two Hands

Melhor Curta de Animação
The Danish Poet
Lifted
The Little Matchgirl
Maestro
No Time for Nuts

Melhor Curta-Metragem
Binta and the Great Idea (Binta y la Gran Idea)
Éramos Pocos (One Too Many)
Helmer & Son
The Saviour
West Bank Story

22 de jan. de 2007

Cinema

Recomeço a postar críticas de filmes por aqui. O esquema é o seguinte: não são necessariamente filmes novos, mas todos que estiverem aqui vão ter sido vistos há pouco tempo e passarão por uma avaliação amadora da minha parte, recebendo um conceito plagiado da UFRGS (A, B, C e D). O primeiro da nova série é...
O ano em que meus pais saíram de férias (2006, direção de Cao Hamburguer) - nota A
O filme se passa em 1970 e acompanha Mauro, um garoto mineiro de 12 anos, deixado para o avô em São Paulo pelos seus pais, que supostamente vão sair em férias. Na verdade, seus pais estão sendo perseguidos pelos militares e precisam fugir, e inventam essa história de férias para não abalar o garoto. O pai de Mauro promete que voltará antes da Copa do Mundo começar, o que de certa forma tranqüiliza seu filho. O problema é que o avô de Mauro morre antes do menino chegar, e agora cabe a Schlo, vizinho judeu do falecido, a responsabilidade pela tutela de Mauro até seus pais voltarem – se é que voltarão.

Um dos grandes triunfos do roteiro é acertar a mão ao colocar dois temas tão aparentemente distintos – futebol e ditadura, um tema leve e outro pesado – em um mesmo filme. Ele alterna momentos tensos com toques cômicos de maneira orgânica, o que faz com que o filme jamais se torne apenas um ode ao esporte ou um “documento” sobre o regime militar. Um bom exemplo disso está na parte em que vemos os estudantes “subversivos” comemorando o gol da Tchecoslováquia contra o Brasil, dizendo que seria uma vitória do comunismo se o Brasil perdesse. Logo em seguida, ao sair a virada dos brasileiros, vemos a comemoração eufórica do bairro inteiro, inclusive dos esquerdistas.

Utilizando uma fotografia granulada para dar mais proximidade à época retratada, o filme consegue envolver o espectador na época em que se passa. A direção de arte também ajuda nesse ponto graças ao figurino apurado e à preocupação em manter tudo o mais próximo possível dos anos 60. Com tudo isso e mais os registros de trechos de algumas partidas do mundial de 1970, somos quase transportados àquela época, e confesso que tive saudade de um tempo que não vivi graças a uma espécie de nostalgia que perpassa todo o filme.

Mas o longa não é só flores; sem cinismo, ele retrata a ditadura como um elemento do filme, evitando tornar-se apenas um filme “anti-militar” para realmente contar uma história cujo tema – ditadura – perpassa-o de maneira decisiva. É muito interessante reparar que o realizador tenha optado em nos deixar com as mesmas informações que o garoto tem, como se enxergássemos a sua história através do seu ângulo – o que é reforçado pela narração em off de Mauro: observe que em nenhum momento sabemos para onde os seus pais foram, nem o conteúdo dos bilhetes que Schlo e o personagem de Caio Blat trocam e o que aconteceu com o judeu na delegacia.

Além disso, os atores atuam de maneira segura, sem deixar a peteca cair, mesmo os atores infantis. Isso talvez se deva ao fato de o diretor já ter experiência com a criançada (ele dirigiu O Castelo Rá-Tim-Bum – o filme). Michel Joelsas consegue passar toda a impaciência do garoto Mauro, e Germano Haiut faz de seu personagem um sujeito contido que às vezes parece se perguntar “por que comigo, meu Deus?”.

O maior defeito do filme talvez resida no fato de não conceituar melhor o período em que se passa. Ao não fazer menções diretas à ditadura, dá a impressão que o filme foi feito apenas para brasileiros – na melhor das hipóteses, para quem conhece a história recente do país. Poderia haver uma pequena introdução em legenda ou em narração em off que não faria mal algum.

Sem fazer concessões no seu final, o filme parece honrar o apelido que ganhou de alguns – o de “filme mais argentino já feito no Brasil” –, graças à forma tocante com que trata um tema ainda delicado da história do Brasil. Mas encará-lo assim seria desonrá-lo, pois ele é muito mais que isso. É uma história tocante, um relato de uma época aterrorizante, vista da ótica de um menino de 12 anos apaixonado por futebol. Só por ter juntado isso sem parecer piegas ou panfletário já vale uma conferida.

18 de jan. de 2007

Quantos países existem no mundo?

Me fiz essa pergunta há algum tempo atrás. Como faço com a maioria das minhas dúvidas, perguntei para Deus: fui no Google e comecei a procurar a resposta. E não é que ela é muito mais complexa do que parece? Isso porque o próprio conceito de país é muito aberto. O Aurélio nos diz que país é:
"1.Região, terra, território.
2.Pátria, terra.
3.Território habitado por uma coletividade, e que constitui uma realidade histórica e geográfica com designação própria; nação.(...)
6.Jur. Conjunto formado de povo e território, não chegando a constituir um Estado, por lhe faltar soberania ou governo independente."
Tá, e com base nisso, o País de Gales é um país? E Porto Rico, Guiana Francesa, Groelândia (ou Groenlândia)? Pois não há unanimidade nesse ponto: a ONU tem 192 países-membros; o Departamento de Estado dos EUA tem uma lista de 193 "Estados independentes"; A FIFA tem 207 países associados.
Quer mais confusão? Nenhuma dessas listas inclui Sealand, por exemplo. O Principado de Sealand é um "Estado" situado no mar, a 11 km da costa de Harwich, Essex, sudeste da Inglaterra. Trata-se de uma base naval construída pelo Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial e desativada após o fim do conflito. Em 1967 Roy Bates levou a família para morar lá e fundou um país, que chamou de Sealand. O principado tem constituição, hino, bandeira, dinheiro e site oficial.
Também não incluem a Ladônia nas listas. Ela é uma micronação localizada no sudeste da Suécia que pediu independência em 1996, para proteger três esculturas de Lars Vilks, fundador do país. Também tem bandeira e site.
No fim das contas, não sei quantos países existem no mundo. Isso me faz pensar que o ser humano é realmente muito contraditório nas suas ações e conquistas: já foi à Lua, fez descobertas incríveis, mas não é nem ao menos capaz de contar o número de países que ele mesmo criou.

16 de jan. de 2007

Aqueles loucos japoneses

Eu não gosto de generalizar, mas japonês parece ser o povo mais louco que existe na face da Terra (e talvez ganhe da maioria dos povos extra-terrestres). Para comprovar essa afirmação basta assistir alguns programas japoneses. Os caras têm um senso de humor digno do Joselito, o Sem-Noção, e adoram as coisas mais toscas do mundo (mais toscas até que os programas da RedeTv!). Duvida? Então dá uma conferida nessas pérolas:
- No primeiro vídeo, temos uma espécie de reality show: três japas trancados numa sala recebem a visita de dois malucos que começam a fazer palhaçadas. Quem rir leva pau. Simples assim!
- No segundo e no terceiro podemos assistir a uma versão trash das Olimpíadas do Faustão (ou daquelas brincadeiras que o Domingo Legal fazia). Um magrão tem que sentar num tanque com água fervendo para acionar um mecanismo que faz uma japinha balançar numa cadeira, fazendo com que seus peitos - minúsculos - balancem. Se liguem no espírito oriental de competição...
- Já no último vídeo vemos uma pegadinha tipicamente japonesa - ou seja, sem a mínima noção: um pobre transeunte vai a um banheiro químico e... ah, olhem por si mesmos. João Kléber perde de goleada! Observações: vejam até o fim, porque a "modalidade" da pegadinha muda de maneira joselística; percebam como os japoneses cagam - e atestem, mais uma vez, sua queda para a loucura; divirtam-se!

15 de jan. de 2007

Mentalidade de época (2)

Ainda sobre o post anterior, uma pequena reflexão sobre gerações: se você tem entre vinte e dois e vinte e sete anos, ao ver adolescentes de treze a quinze anos, provavelmente em algum momento deve ter pensado algo do tipo: "na minha época não era assim". Você, mulher feita, vê meninas de treze anos com mais experiência sexual do que você e as encara meio torto; você, homem adulto, olha para um guri de quatorze anos saindo de mãos dadas com duas (?) meninas de treze anos com mais experiência sexual do que você e lembra, transtornado, que nessa idade a única coisa em que pensava era jogar botão/videogame/futebol ou coisa que o valha. Pois bem, a distância que separa você deles é de apenas cerca de uma década.
Agora pense comigo: o jornal do post passado é de 1967, quarenta anos atrás. Portanto, se a diferença de cerca de uma década entre a "nossa" geração e a geração desses "novos moleques" pode ser entendida como incômoda, meio como um desajuste entre nós e eles - desajuste esse em que somos nós os desatualizados - , imagina entre os que viveram em 67 e nós, por exemplo. Estou falando especificamente de nossos pais.
Eu já pensava um pouco assim sobre o assunto, mas só ao folhar meses de jornais de quarenta anos atrás me dei real conta do abismo que existe entre o que eles pensavam quando tinham a nossa idade (ou um pouco menos) e o que nós pensamos hoje. E me dei conta de como esse abismo na mentalidade afetou (afeta?) o relacionamento entre pais e filhos. Seguindo o raciocínio adiante e olhando em retrospectiva, é fácil entender muitas das discussões que nós, filhos, tivemos (temos?) com nossos pais.

O que me leva a pensar o que, se às vezes achamos nossos pais uns caretas, nossos filhos pensarão de nós... E mais: o que poderíamos fazer para nos ajustarmos, para nos atualizarmos a essas mudanças constantes na forma como a gurizada trata o sexo, o relacionamento humano, o futuro, o passado, etc.? Deveríamos nos ajustar, nos atualizar, ou isso seria um atestado de que nosso jeito de enxergar as coisas é errado, e na verdade não há certo ou errado nessa história?
Não tenho para mim a resposta a essas questões. Aliás, acho que essas questões são muito mais complexas do essas postas aqui. Mas, de uma coisa eu tenho certeza: ser pai e mãe não é mole. E respeito mais do que nunca a minha mãe.

10 de jan. de 2007

Mentalidade de época

Estou agora dando uma espiada em jornais antigos, coisa de trabalho. Ao passar os olhos por edições do Correio do Povo e da Zero Hora de 1967, ambas de Porto Alegre, fui transportado para outra época. Tá, parece tratar-se de obviedade ou sentimentalismo à primeira vista, mas uma olhada mais profunda indica outra coisa. São apenas quarenta anos que separam aquelas edições de jornal dos dias de hoje - o que, em termos geológicos, é uma piscadela bem rápida -, mas quanta coisa mudou! Particularmente, a mentalidade. Era a época da ditadura (ainda sem o AI-5), da moral e dos bons costumes, e o Maio de 68 e a geração paz e amor ainda estavam por vir. Vivia-se ainda a herança comportamental do início do século, e percebe-se que existia uma preocupação nas pessoas em fazer as coisas dentro da ordem estabelecida (estabelecida por quem mesmo?).
Um trecho do jornal Zero Hora de 11/10/67 ilustra bem essa mentalidade. Trata-se do "Correio do Coração", seção do jornal que respondia dúvidas sentimentais de leitores, todos os dias. As perguntas eram respondidas por uma tal de Tânia e o sentimental deveria usar um pseudônimo para questioná-la. Então o "Amoroso de Bagé" mandou uma dúvida que estava atormentando-o, dúvida essa que eu transcrevo literalmente abaixo. É longo, mas a resposta vale a pena:
AMOROSO DE BAGÉ (Bagé) – Para comêço de estória, tenho 30 anos e pertenço a uma corporação. Fui noivo uma vez, mas meu noivado não deu certo, pois não gostava da môça. Vivi alguns anos com outra môça, mas agora não gosto mais dela. Acontece que vim a morar com a viúva de um tio meu. Passei a gostar dela e nós nos tornamos amantes. Não sei se estamos errados ou não. Nossa ligação ainda é segrêdo. Ela é rica e recebe pensão do marido, ao passo que eu sou pobre e não tenho nada de meu. Pretendemos continuar nossas relações em segredo para não chocarmos nossos parentes e para que ela não perca sua pensão. Vivemos como dois amigos perante suas filhas e familiares. Eu vivo bem e me sinto bem, vivendo com ela. Não pago coisa alguma em casa e ela ainda me ajuda no que preciso. Agora estou namorando uma garôta há pouco mais de um mês e sinto que amo essa garôta. Já estou pensando até em noivado. A garôta é direita e de boa família. Entretanto, meu passado não me recomenda, pois tive noiva, amantes... O que devo fazer se um dia minha namorada descobrir tudo? Agora eu me atormento, arrependido de meu passado... Não quero que minha namorada chegue a saber de nada disso...
RESPOSTA – Prefere, então, continuar a iludi-la? Fazendo com que ela pense que você chegou aos 30 anos sem a menor experiência sexual? Ora, meu caro, isso não é nada viável nem prático. Em primeiro lugar, ninguém acredita em tanta pureza por parte de um rapaz – aliás êsse tipo de pureza até desprestigia o elemento masculino aos olhos das mulheres. Em segundo, se você pensa mesmo em se casar com essa môça, deve tratá-la como tal e não como uma bobinha que deve ser mistificada. Assim como você não gostaria de que ela o enganasse sôbre o seu passado, também você lhe deve sinceridade e franqueza.
Êsse é apenas um dos aspectos da questão. Outro é a sua grande instabilidade emocional. Ora gosta de uma, ora gosta de outra... e quem lhe garante que dentro de alguns meses ou alguns anos, sua amada atual não lhe pareça uma “chata”? Além disso, você a conhece há muito pouco tempo, e o casamento, sendo um compromisso sexual , sentimental, social e legal, é um problema muito mais complexo do que você julga, não se tratando de uma mera questão de gostar ou não gostar de alguém. Isso sem esquecer que você não é capaz de sustentar-se nem a si mesmo, e que chegou aos 30 anos sem ter situação definida, sem a menor aptidão para manter uma família em boas condições.
Terceiro ponto importante é sua ligação atúal. Pelo que ela conta do seu caráter. Queira ou não, você não passa de um gigolô de sua tia. E a profissão de gigolô, que sempre indica falta de brio masculino, nesse caso particular é agravado pelo fato de se tratar de pessoa de sua família. Se você não respeita nem a própria tia, quem nos garante que você respeitará sua sogra, sua avó, suas sobrinhas, suas cunhadas, suas filhas?
Você tem 30 anos, meu caro. Não é mais um brotinho em pleno crescimento, com as suas confusões sentimentais e sexuais, procurando orientar-se numa vida adulta ainda desconhecida e maravilhosa. Se você tivesse 16 ou 17 anos, eu acharia que tudo não passava de um restinho de seu complexo de édipo, mas que poderia acabar superado com o tempo. Com 30 anos, porém, você atingiu a plenitude de sua vida adulta. E quem é você? O que é que você pensa da vida? O que é que você deseja da vida? Quais são os seus princípios morais? Como é que você se orienta na vida? Ou você simplesmente vai vivendo? Lembre-se que esse despreocupação, do que essa amoralidade está na base de muitos criminosos, que se deixam levar pelas ocasiões, incapazes de se traçarem uma diretriz na vida e apenas aproveitando as oportunidades que lhes aparecem.
Com 30 anos, você tem obrigação de tomar consciência de sua pessoa, de sua situação na vida, no mundo, na sociedade. De deixar de viver como bicho, só preocupado com o próprio bem-estar. De fazer sua vida, de definir de uma vez por tôdas a sua personalidade, de tomar decisões conscientes.
E francamente, acho que você deve fazer tudo isso antes de pensar em compromisso seja com quem fôr. Atualmente você não tem condições morais, emocionais e psicológicas para isso.
Seja homem. No bom sentido.

9 de jan. de 2007

Boicotes

Se me fosse pedido para escolher uma – e apenas uma – convicção para levar vida afora, hoje eu escolheria, sem sombra de dúvida, a de que o boicote é a melhor arma de pressão que o cidadão comum possui. Porém, pelo menos no caso dos brasileiros, ele quase nunca é utilizado, normalmente sob o pretexto de que “não adianta nada fazer a minha parte sozinho”.

No nosso mundinho capitalista de hoje, a única coisa que atinge as pessoas – as grandes corporações mais ainda – está ligada ao dinheiro. É quando se deixa de ganhar que se sente. Uma das formas de protesto que atinge o bolso das corporações é a destruição, o quebra-quebra. Entretanto, os sucessivos ataques terroristas recentes acabaram com o glamour desses atos de revolta, ligando-os à violência, ao caos e – por que não – a um ar meio ultrapassado.

Parece que a única forma de atingir o bolso sem infringir a lei é mesmo o boicote. Quer um exemplo prático? Os cambistas. TODO MUNDO reclama deles, mas quando alguém precisa de ingresso e não encontra mais nos postos de venda vai correndo comprar com um cambista. Agora pensem comigo: se ninguém nunca mais comprasse nenhum ingresso de nenhum cambista, o que aconteceria? Essa profissão (profissão?) entraria em um rápido processo de extinção e sobrariam mais ingressos nas bilheterias. Isso porque os caras não teriam para quem vender e morreriam com os ingressos nas mãos.

Infelizmente, os brasileiros – para não dizer os seres humanos – parecem não estar acostumados a boicotar; basta ver alguma coisa que sintam necessidade de comprar que a compram, simples assim. E enquanto isso somos obrigados a agüentar o ótimo tratamento que as empresas dão aos seus clientes, particularmente as empresas de telefonia fixa e de celular, os planos de saúde, empresas de cartão de crédito e vááárias lojas comerciais e suas propagandas com letras minúsculas.

Pois bem. Dito isso, trago a vocês uma sugestão de boicote, se quiserem começar a treinar para algo sério: trata-se do boicote à Cicarelli. Essa rapariga conseguiu a façanha de fazer com que o Youtube fosse fechado pelos servidores nacionais. Isso em si não é nada de mais, visto que é possível acessá-lo por vários meios. O problema nesse caso é mais embaixo: trata-se de um ato de censura pelo fato de que a “privacidade” de uma pessoa – no caso, uma “celebridade” – que estava dando em um local público – uma praia – foi atingida. Mais informações sobre o boicote aqui.

UPDATE: o Youtube voltou a poder ser acessado de servidores do Brasil. Viram como é fácil?

8 de jan. de 2007

Gramática

Olhem um exemplo prático do cuidado que se deve ter para colocar o adjetivo no local certo:


Quer dizer que se o canhoto for negro tem que comprar outro modelo? Cliquem na imagem para ver o anúncio original.

Vi no Jacaré Banguela.

Tirinha do dia

O André Dahmer é foda...

4 de jan. de 2007

Mistérios das relações humanas

Voltei, depois de umas pequenas "férias", e começo falando sobre alguns mistérios - ao menos para mim - das relações humanas. Coisas aparentemente banais, que acontecem a todo momento, mas que eu não consigo entender. Vamos a eles:

Situação 1: Você está caminhando pela rua quando, de repente, percebe que um cidadão vem em sua direção. Eis que você se prepara para dar aquele passinho esperto para a direita para desviar do transeunte, quando vê que o mesmo vai dar um passo para a esquerda, o que vai fazer com que vocês se batam. Então imediatamente você dá um passo para a esquerda para desviar do sujeito, que acaba dando um passo para a direita e, como resultado, vocês dois trombam. Por que diabos isso acontece? Por que quando vemos alguém vindo na nossa direção somos atraídos, como um imã, na sua direção, até quase atropelá-lo?

Situação 2: Você está conversando um assunto qualquer com alguém. De repente, é interrompido por alguém ou alguma coisa. Quando vai retomar a conversa de onde parou, é acometido de uma amnésia súbita que o faz esquecer completamente sobre o que falava. O pior: a pessoa (ou as pessoas) com quem você conversava também não sabe dizer qual era o assunto tratado! Mas por que diabos isso acontece? A outra pessoa esquecer até poderia ser explicável pelo fato dela não estar prestando atenção em você, mas por que você, que era quem estava falando e, portanto, o maior interessado na história, não tem a menor idéia do que falava há poucos segundos atrás? Seria o Alzheimer?

Situação 3: Alguém boceja. Imediatamente, como num efeito dominó, todas as pessoas que viram o bocejo começam a bocejar (talvez baste ler isso para bocejar também). Deus, por quê? Bocejo é contagioso?

Situação 4: Dois amigos estão caminhando na rua. Um vira para o outro, do nada, e pergunta: "o quê?". O outro responde: "o que o quê?", ao que ouve como resposta: "o que foi que você falou?". "Nada", responde ele, com aquela expressão de quem não tem a menor idéia do que está acontecendo. E não tem mesmo, porque ele não havia falado nada; seu único som emitido veio diretamente da cabeça do infeliz que o imaginou. Equacionando, fica assim: ninguém falou nada, uma pessoa escutou algo. Perfeito como 1+1=3.

Bem, essas são as situações estranhas que passam pela minha cabeça agora. Se vocês lembrarem de alguma outra, sintam-se livres para falar. Quanto às possíveis razões para elas existirem, eu tenho uma boa: Deus não criou o homem a sua imagem e semelhança, mas sim à imagem e semelhança de um programa da Microsoft. Logo, também temos nossos bugs.

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