11 de jul. de 2007

Dinheiro e meio ambiente

Tem coisas que se interligam de maneira quase natural, e tem vezes que a gente consegue pegar um exemplo claríssimo para ilustras essas interligações. Um exemplo disso é a ligação cada vez maior entre futebol e dinheiro, muito bem exemplificada lá no Cataclisma 14. No meu caso, vou falar de uma outra ligação, aquela tensa que existe entre capital e meio ambiente. Todo mundo sabe que hoje em dia é o dinheiro quem manda. Ele passa por cima de todas as questões éticas, morais, religiosas e humanas possíveis em nome do lucro. Isso inclui o respeito ao meio ambiente - basta ver quem não quis assinar o Protocolo de Kioto, por exemplo.

Pois bem, feita essa introdução, vamos aos fatos. No início de maio, após um vasto estudo de impacto ambiental, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, através da Fepam, concluiu o mapa do zoneamento ambiental que era aguardado para que se soubesse se a Aracruz Celulose ganharia ou não a liberação das licenças para plantio de exóticas em solo gaúcho. A indústria de celulose não gostou nem um pouco do resultado do estudo que indicava que a metade sul gaúcha, principal alvo do plantio de eucaliptos, teria a área aprovada para plantio drasticamente limitada. Foram levados em conta para o estudo, entre outros aspectos, o respeito a áreas de proteção ambiental e o espaçamento mínimo obrigatório de rios, nascentes, etc.

Tal insulto custou caro: a então secretária da pasta, Vera Callegaro, foi demitida e substituída pelo procurador Carlos Otaviano Brenner de Moraes. Após um pedido da Aracruz para a revisão do estudo, já com secretário novo, o resultado não poderia ser outro: exatamente hoje a empresa anunciou ao governo do RS um investimento de US$ 2 bilhões no Estado, após não haver mais nenhum impedimento para ela. Citando o site do governo e grifando uma parte importante, "De acordo com Yeda Crusius, 'o empreendimento transforma todo o Rio Grande do Sul a partir da sua região Sul'."

O que se pode avaliar a partir disso? Ora, que havia um custo político e econômico muito grande, tão grande que foi maior do que a preocupação com o meio ambiente. Afinal, todo mundo sabe o que o PT pagou por ter mandado a Ford embora em 1999; caso acontecesse o mesmo à Aracruz, o frágil governo de Yeda Crusius sofreria eternamente com as críticas que se seguiriam. Agora, não. Com a vinda da empresa, "recursos serão empregados na produção de celulose, na construção de terminais hidroviários e na base florestal do Estado, com geração de 12,5 mil empregos temporários e 5 mil fixos. A nova planta de produção de celulose, já integrada à atual, em Guaiba, começa a operar em março de 2010" (Fonte: capa do site do governo do RS de hoje. Não tem link direto, foi mal aí).

Pode-se concluir que infelizmente o dinheiro fala mais alto, sempre. Afinal, basta ver o quanto a Aracruz investiu, junto com as outras duas maiores empresas de celulose (a Stora Enso e a Votorantim Celulose e Papel) nas últimas eleições aqui no estado: cerca de R$ 1,36 milhão para 75 candidatos a deputado e governador. Entre esses, a Aracruz conseguiu ajudar a eleger 21 deputados estaduais e 14 federais. Aí fica fácil, né?

Perguntinha para encerrar: o que você acha que é mais importante, o desenvolvimento rumo ao progresso ou a manutenção de normas, sejam elas ambientais, éticas, etc.?

4 comentários:

Marieta Marks Löw disse...

O caso da demissão de Vera Callegaro já vem sendo comentado e criticado por ambientalistas pelo desrespeito ao estudo técnico e pela falta de consciência ecológica e de ética do governo de Yeda. E os estudos mais atuais da ecologia apontam para a monocultura como a principal causa de degradação dos ecosistemas e da biodiversidade. E é exatamente essa transformação que a nossa governadora vai nos propiciar: um imenso deserto verde a partir da região sul. Lamentável.

Thiago F.B disse...

é cara...não adianta pensar no que é mais importante, afinal, o que importa mesmo é o Dinheiro, e como vc mesmo disse...quando chegar a vez dele decidir não vai ter argumento que se sustente!!!
E saiba desde já, que nossos filhos e netos sofrerão imediatamente essa ação como um todo, não só aki, como no mundo todo!!!
abraço..>Falooooow.

André disse...

Ainda bem mesmo que dinheiro não dá em árvore, porque senão não sobraria nenhuma...

Anônimo disse...

Caralhofilhodaputa!
Que vaca essa yeda! Olha, o gaúcho tem mais é que se fude mesmo, depois de escolhe essa paulista paga pau de empresário!

QUESTÃO: qual o papel do intelectual nisso? o que nós, que sabemos disso e estamos putos da cara, devemos fazer?

Proposta: a princípio, seria interessante uma espécie de guerrilha midiática, termo esse que ouvi por aí. A gente pode não ter força para destruir prédios (ou meio ambientes) mas podemos fazer aquele trabalho de formiga. tu não é parceiro de difundir essa informação, sei lá, na esquina democrática, abordando as pessoas, distribuindo folhetinhos, sei lá. Por quê disso? Uma: abrir uma segunda fonte de informação para pessoas acostumadas com lasier martins e w. bonner, para q saibam em quem votaram e se sintam, quem sabe, incomodados em votar em quem conhecem só por meio de propaganda.

Cara, eu to falando sério! Acho, para mim, que isso é um pequeno dever de estudante de universidade pública, em retornar para sociedade todo investimento nele depositado.

abração

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