16 de ago. de 2007

Teoria do Caos

Existem certas engrenagens na vida que por sua vez mexem outras engrenagens que por sua vez... Enfim, até criar uma situação tão atípica que ao olhar o início e o fim do processo você não sabe como as coisas chegaram até onde estão. É como aquela frase célebre da Teoria do Caos, "o bater de asas de uma simples borboleta pode provocar um tufão do outro lado do mundo".


Pois bem, acompanhem o seguinte caso, olhando o início e o fim (por enquanto):

Início: o vôo 3054 da TAM, de Porto Alegre para São Paulo, teve problemas para pousar e acabou batendo em um prédio da empresa próximo ao aeroporto de Congonhas, matando mais de 190 pessoas.

Fim: o empresário Oscar Maroni Filho, dono do Bahamas Club, um grande american bar (?), acabou de ser preso por admitir em uma entrevista que promove prostituição de luxo. Além disso, ele teve seu Bahamas (o puteiro em questão) fechado e seu hotel de luxo de onze andares (Oscar's Hotel) interditado e com possibilidade até de ser demolido.

Pois bem: depois de muito procurar culpados pelo maior acidente aéreo da história do Brasil (Lula, falta de ranhuras na pista, problemas técnicos, TAM), parece que o grande vilão é o tal Oscar e o seu hotel, que tem quarenta metros e está na rota dos aviões que pousam no aeroporto paulista.

Como se chegou a isso? Ora, junto a muita exploração midiática, com direito a histórias trágicas das vítimas, entrevistas com especialistas, parentes das vítimas e gente que previu o acidente, especulações em torno do que aconteceu e tentativas desesperadas de encontrar logo um culpado - de preferência o governo Lula -, um piloto disse que um grande prédio que fica próximo ao aeroporto atrapalhava os pousos. Pressão da opinião pública pegando, não restou outra alternativa às autoridades competentes (?) a não ser ir atrás da informação. Só então elas perceberam que o prédio realmente atrapalhava os aviões. Detalhe: a construção do prédio foi aprovada pela Aeronáutica em maio de 2000. O pedido de visto até foi negado meses antes, mas porque os hóspedes poderiam se incomodar com o barulho dos aviões, e não por causa da segurança dos vôos. Mas foi aprovada, tudo em ordem. Desde 2000.

Daí ficaram putos com o dono do hotel, o tal empresário Oscar Maroni Filho, e foram atrás dos podres do cara. Então tiveram a idéia genial de prender o cara por promover putarias no Bahamas. Ora, todos os moradores de São Paulo sabem o que é o american bar do Maroni; Eu Mesmo, que nunca fui pra lá, já sabia. A casa funciona há mais de vinte anos e, pra ter uma idéia de como a sua atividade era notória, dá uma olhada nessa capa da revista Isto É Dinheiro de setembro de 2004 (clica nela pra ir na reportagem). Mais de vinte anos funcionando:

Pronto, pegaram o cara por causa de um crime (?) que ele cometia há anos, com a conivência dos maiores empresários e políticos brasileiros (leia a reportagem e veja os preços cobrados), para arranjar um bode expiatório. Agora ele está preso, seu puteiro fechado e seu hotel lacrado. Não interessa se o cara é pilantra ou não é, essa não é a questão e nem pode ser provado ou não provado aqui. Não estou defendendo o cara, não o conheço e não sei nada da vida dele. O que importa é ver como os rumos de um acontecimento podem ir sendo tão desviados a ponto de a gente quase não conseguir mais fazer as associações corretas entre início e fim. O caso do acidente com o vôo 3054 é exemplar nesse e num monte de outros sentidos e deveria ser agora analisado por teóricos da Comunicação e sociólogos e posteriormente por historiadores (tá, historiadores do tempo presente, podem começar agora também...). Um caso em que o foco se perdeu há muito tempo no meio de acusações infundadas, reportagens sem sentido, usos indevidos e conexões desconexas, como tantos outros aqui no Brasil.

3 comentários:

Anônimo disse...

quero virar político. ou até empresário.

André disse...

Teoria do agendamento. Ou, mudando um pouco o que diz o Poema no Ônibus:

Escravidão eficaz
A mídia diz
E você vai atrás

Thiago F.B disse...

hehehe
cara...que doideira isso...
Quem foi o FDP que inventou a tal palavra justiça????

Justiça é uma palavras mais utópica que utopia...
abraço mew...
Falooooooooooow.

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