29 de jan. de 2007

Woody Allen e os relacionamentos

Tá aí um realizador que eu conheci há pouco tempo - menos de dois meses - e que não paro de devorar. Nesse intervalo, já foram cinco filmes assistidos - Ponto Final, Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, Os Trapaceiros, O Dorminhoco e Hannah e Suas Irmãs - e nenhuma decepção. Eu sei que cinco filmes de um cineasta com mais de trinta anos de carreira e uma média invejável de quase um filme por ano é pouco, mas acho que já é um bom demonstrativo.

Todo mundo que conhece o cara já sabe quais são suas características - e quem não sabe que procure pela internet ou vá ver seus filmes -, portanto não vou gastar o tempo de vocês com isso. Mas faço questão de dizer que é simplesmente maravilhoso o jeito com que ele consegue destilar por cada filme seu, seja lá qual for a história, algumas mensagens que lhe são caras. Poderia citar vários temas, mas me prenderei naquele que acho o mais fascinante no momento: os relacionamentos.

Allen é extremamente cínico ao conceber os relacionamentos amorosos de seus filmes e os diálogos em torno destes, e consegue passar uma impressão realista - às vezes, pessimista - a respeito da sua visão de amor. Seja em mensagens diretas, como a decisão de certo personagem em Ponto Final, ou indiretas, como nos vários diálogos espalhados em seus filmes - às vezes literalmente espalhados: pode-se encontrar uma frase deliciosamente perdida em meio a uma cena trivial -, conseguimos entender que, para ele, o maior problema nos relacionamentos humanos está justamente na segunda palavra: os humanos.

Tá, eu sei que se você não viu nenhum filme dele talvez não saiba do que eu estou falando - e pode até nem estar gostando. Mas faça-me um favor e dê uma chance para esse que é um dos maiores roteiristas de todos os tempos, sem sombra de dúvida. E não me lembro de outro roteirista que, além de fazer uma verdadedira auto-análise nos seus filmes, ainda tem uma vida pessoal digna das suas histórias mais loucas - bastas lembrar as circunstâncias de sua separação com a atriz Mia Farrow para casar com a sua filha adotiva(?).

Como exemplo dos geniais diálogos em torno do tema, acompanhe duas anedotas que Allen conta em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa: a primeira é aquela em que ele fala para a câmera, no começo do filme, que jamais faria parte de um clube que aceitasse como membro alguém como ele. Então ele fala que essa é a piada-chave da sua vida no que toca a sua relação com as mulheres. A segunda, já no fim, é a do cara que vai ao psiquiatra e diz: "Doutor, o meu irmão é maluco. Acha que é uma galinha." E o médico pergunta: "Por que é que não o traz de volta a si?". E ele responde: "Até faria, mas preciso dos ovos". Então Allen conclue, melancólico: "É mais ou menos o que sinto sobre as relações entre as pessoas. São totalmente irracionais, loucas e absurdas, mas nós vamos agüentando porque precisamos dos ovos".

Para terminar, deixo mais um diálogo woodyalleniano, extraído de O Dorminhoco, grande homenagem às comédias do cinema mudo(?), após ele e a Diane Keaton terem roubado o nariz(?) do maléfico ditador e com isso terem destruído os seus planos:

Diane Keaton: O Erno vai liderar a revolução e o novo governo.

Woody Allen: Olha, você não entende? Em seis meses, roubaremos o nariz de Erno. Soluções políticas não funcionam. Não importa quem esteja no poder. São terríveis. Os políticos... Por que está me olhando assim?

DK: Acho que você realmente me ama.

WA: Claro que eu a amo. lsto é o que importa. E você me ama. Sei disso, e não a culpo, querida. Sabe, eu, eu... não estou falando mal do Erno. Ele é ótimo, se é que gosta de um alto, louro prussiano, nórdico, ariano estilo nazista.

DK:Mas, Miles, relacionamentos entre homens e mulheres não duram. Foi provado cientificamente. Existe uma substância química nos nossos corpos que faz com que nos irritemos uns com os outros.

WA: lsso é ciência. Não acredito na ciência. A ciência é um beco sem saída intelectual. É um bando de gente com ternos de lã, mentindo com dinheiro de fundações.

DK: Você não acredita na ciência. E também não acredita que sistemas políticos funcionem. E você não acredita em Deus.

WA: Certo.

DK: Então, no que acredita?

WA: No sexo e na morte. Duas coisas que acontecem apenas uma vez na minha vida. Mas pelo menos depois da morte você não fica enjoado.

3 comentários:

Anônimo disse...

definitivamene não conheço o suficiente da obra para comenta-la com mais segurança...mas concórdo com a última parte do diálogo abaixo:
"DK: Então, no que acredita?

WA: No sexo e na morte. Duas coisas que acontecem apenas uma vez na minha vida."

Abraço...Falooooooow.

Anônimo disse...

definitivamene não conheço o suficiente da obra para comenta-la com mais segurança...mas concórdo com a última parte do diálogo abaixo:
"DK: Então, no que acredita?

WA: No sexo e na morte. Duas coisas que acontecem apenas uma vez na minha vida."

Abraço...Falooooooow.

Kleiton disse...

Cara, sou fã do Allen.

Ainda não vi O Dorminhoco, mas esse diálogo q tu transcreveu é simplesmente genial.

Outra parte do Annie Hall (Noivo Neurotico, Noiva Nervosa) que eu adoro é quando ela começa a frequentar o analista, e consegue em uma sessão mais do que ele já conseguiu em anos de análise.

Genial.

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