A situação da educação (parte II - os professores)
Continuando a série sobre as diversas variáveis existentes que prejudicam a educação brasileira, desta vez vamos aos mestres. Acho que todo mundo sabe que os professores da rede pública de ensino são, de modo geral, mal remunerados. Isso é a origem de uma série de problemas que afetam a educação e, apesar de explicar em parte o problema, não o justifica de forma alguma.
Um professor que já esteja há, digamos, mais de dez anos no ensino público provavelmente já tenha sido acometido do mal que as professoras da escola em que estou estagiando (que a partir de agora, para fins didáticos, vou chamar de "minhas professoras" - visto que não há homens dando aula lá) têm: a total apatia. Sei que a minha experiência nessa escola não pode ser considerada uma amostra suficientemente grande para servir de parâmetro global, mas os relatos que já juntei sobre o tema me dão um pouco de confiança para afirmar que essa situação não é exclusiva de lá. É impressionante como o lema "Eu finjo que dou aula e eles fingem que aprendem" tem peso de lei entre as minhas professoras, e mais impressionante ainda é o sentimento de rivalidade, irreversibilidade ou mesmo ódio que existe em relação aos alunos.
Quanto ao lema "Eu finjo que dou aula e eles fingem que aprendem", as minhas professoras dão exemplos diários disso. A professora que eu estou substituindo, por exemplo, tem o péssimo hábito de dar, uma semana antes da prova, um questionário de "revisão". Isso não seria um problema caso esse questionário não fosse EXATAMENTE as questões que cairão na prova. Como ainda por cima ela dá as respostas na aula posterior às questões, basta os alunos memorizarem-nas e transcreverem-nas na hora da prova, podendo esquecê-las minutos depois. Isso quando não se dão nem ao trabalho de estudarem, pois basta uma cola bem feita para evitar o enfadonho ato de estudar. Dessa forma, vários alunos totalmente inaptos são aprovados, ano a ano, até concluírem o ensino médio sem saber quase nada - em alguns casos, nada mesmo - sobre nada. Além disso, eles ficam mal-acostumados com esse método, que estimula a preguiça mental e o analfabetismo funcional - o que por sua vez cria um exército de cordeiros, mas isso é papo para outra postagem.
Em relação aos vários sentimentos existentes nos coraçãozinhos das professoras, exemplos pessoais do meu estágio também não faltam: certo dia, quando estava na Sala dos Professores, uma professora perguntou à outra se já havia batido, ao que duas outras responderam "ainda não, graças a Deus". Em outras palavras, há um sentimento de obrigação no ato de dar aula, e uma obrigação enfadonha, monótona e desestimulante. Isso sem contar o jeito como algumas professoras se referem a seus alunos na Sala dos Professores - sem a presença de nenhum aluno, é claro: algumas meninas são chamadas de putas, alunos de preguiçosos, etc. e tal. A carga de pessoalidade que provém daí é grande demais na hora de uma avaliação, por exemplo. Sem contar que isso cria pré-conceitos entre elas, o que não é muito saudável na relação aluno-professor. Um dos maiores exemplos desses pré-conceitos é a irreversibilidade existente em alguns alunos, como se estes fossem casos perdidos. Já cansei de ouvir a frase "Fulano não tem salvação", o que parece dar carta branca para que a professora não precise mais se preocupar com ele. Vejam bem, não digo que não haja casos perdidos, mas não há como negar que existem casos superestimados, quando na verdade eles apenas necessitariam uma maior atenção.
Existem vários problemas que concorrem para estimular esse tipo de comportamento nos professores, e que vão minando ao longo dos anos qualquer sinal de idealismo que poderia ter existido em algum momento. É certo que eles são mal remunerados - particularmente na esfera estadual - e que vários alunos não estão nem aí pra nada, mas simplesmente desistir de tentar mudar qualquer coisa ao mesmo tempo em que se continua ali, dando aula, me parece um erro. Trate de mudar de profissão, ora bolas! O problema aí talvez seja o fato de o professor ser concursado - o que significa estabilidade no emprego -, que de certa forma dá um comodismo a ele. Em todo o caso, dar mais atenção ao ato de ensinar, dedicar-se mais a sua profissão e esforçar-se para tentar mudar as coisas seria um belo pontapé inicial para iniciar o movimento das engrenagens que podem alterar esse caos educacional, e isso - para o bem ou para o mal - só pode partir dos mestres.
Um professor que já esteja há, digamos, mais de dez anos no ensino público provavelmente já tenha sido acometido do mal que as professoras da escola em que estou estagiando (que a partir de agora, para fins didáticos, vou chamar de "minhas professoras" - visto que não há homens dando aula lá) têm: a total apatia. Sei que a minha experiência nessa escola não pode ser considerada uma amostra suficientemente grande para servir de parâmetro global, mas os relatos que já juntei sobre o tema me dão um pouco de confiança para afirmar que essa situação não é exclusiva de lá. É impressionante como o lema "Eu finjo que dou aula e eles fingem que aprendem" tem peso de lei entre as minhas professoras, e mais impressionante ainda é o sentimento de rivalidade, irreversibilidade ou mesmo ódio que existe em relação aos alunos.
Quanto ao lema "Eu finjo que dou aula e eles fingem que aprendem", as minhas professoras dão exemplos diários disso. A professora que eu estou substituindo, por exemplo, tem o péssimo hábito de dar, uma semana antes da prova, um questionário de "revisão". Isso não seria um problema caso esse questionário não fosse EXATAMENTE as questões que cairão na prova. Como ainda por cima ela dá as respostas na aula posterior às questões, basta os alunos memorizarem-nas e transcreverem-nas na hora da prova, podendo esquecê-las minutos depois. Isso quando não se dão nem ao trabalho de estudarem, pois basta uma cola bem feita para evitar o enfadonho ato de estudar. Dessa forma, vários alunos totalmente inaptos são aprovados, ano a ano, até concluírem o ensino médio sem saber quase nada - em alguns casos, nada mesmo - sobre nada. Além disso, eles ficam mal-acostumados com esse método, que estimula a preguiça mental e o analfabetismo funcional - o que por sua vez cria um exército de cordeiros, mas isso é papo para outra postagem.
Em relação aos vários sentimentos existentes nos coraçãozinhos das professoras, exemplos pessoais do meu estágio também não faltam: certo dia, quando estava na Sala dos Professores, uma professora perguntou à outra se já havia batido, ao que duas outras responderam "ainda não, graças a Deus". Em outras palavras, há um sentimento de obrigação no ato de dar aula, e uma obrigação enfadonha, monótona e desestimulante. Isso sem contar o jeito como algumas professoras se referem a seus alunos na Sala dos Professores - sem a presença de nenhum aluno, é claro: algumas meninas são chamadas de putas, alunos de preguiçosos, etc. e tal. A carga de pessoalidade que provém daí é grande demais na hora de uma avaliação, por exemplo. Sem contar que isso cria pré-conceitos entre elas, o que não é muito saudável na relação aluno-professor. Um dos maiores exemplos desses pré-conceitos é a irreversibilidade existente em alguns alunos, como se estes fossem casos perdidos. Já cansei de ouvir a frase "Fulano não tem salvação", o que parece dar carta branca para que a professora não precise mais se preocupar com ele. Vejam bem, não digo que não haja casos perdidos, mas não há como negar que existem casos superestimados, quando na verdade eles apenas necessitariam uma maior atenção.
Existem vários problemas que concorrem para estimular esse tipo de comportamento nos professores, e que vão minando ao longo dos anos qualquer sinal de idealismo que poderia ter existido em algum momento. É certo que eles são mal remunerados - particularmente na esfera estadual - e que vários alunos não estão nem aí pra nada, mas simplesmente desistir de tentar mudar qualquer coisa ao mesmo tempo em que se continua ali, dando aula, me parece um erro. Trate de mudar de profissão, ora bolas! O problema aí talvez seja o fato de o professor ser concursado - o que significa estabilidade no emprego -, que de certa forma dá um comodismo a ele. Em todo o caso, dar mais atenção ao ato de ensinar, dedicar-se mais a sua profissão e esforçar-se para tentar mudar as coisas seria um belo pontapé inicial para iniciar o movimento das engrenagens que podem alterar esse caos educacional, e isso - para o bem ou para o mal - só pode partir dos mestres.
4 comentários:
Assino embaixo.
assino em baixo. mas uma coisa: não existem casos perdidos. é arrogância demais julgar o futuro de alguém pelo pouco que se conhece do presente dessa pessoa
Colocaria, também, a questão da "objetividade": hoje o colégio prepara pro vestibular, que seleciona que entra na faculdade, que prepara para o mercado.
No segundo grau, alunos e/ou professores volta e meia falam algo tipo "ah, isso aqui não é importante porque não cai no vestibular".
Pois, Valter.. fazemos o estágio e parece que damos de cara com ela, "a realidade"... o nosso mundo ilusório quando os alunos nos esperavam, ansiosos pelas aulas preoaradas com cuidado, é só algo de nossa cabeça de professor inicial...
É complicado mudar as coisas, e as vezes é o nosso cansaço, misturado com a indiferença dos alunos que faz as coisas ficarem como estão. Mas eu acho, tamém, que dá para mudar, o resultado é positivo e mesmo que de mais trabalho a satisfação pessoal vem junto...
bjs
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