A situação da educação (parte I - os alunos)
Depois de iniciar meu estágio de licenciatura, no início do mês passado, pude não só comprovar o estado calamitoso da educação pública no Brasil como também concluí que a minha percepção prévia sobre o tema era até otimista perto da realidade encontrada. Os problemas que encontrei em sala de aula até agora são muitos e de muitas naturezas. Todo mundo tem uma parcela de culpa nessa situação e tudo parece sem solução rápida aparente.
Nessa pequena série de textos, tentarei expor, com alguns exemplos, onde cada setor envolvido tem culpa no cartório para o estado lamentável da educação no Brasil.
Em primeiro lugar, a culpa dos alunos.
Por parte dos alunos existe uma óbvia falta de interesse. Para além do fato de as aulas serem, no imaginário das crianças e dos adolescentes, chatas e desnecessárias (e algumas de fato são), não há o menor esforço por parte da maioria deles em tentar pelo menos demonstrar algum interesse. Existe, por exemplo, uma cultura muito forte entre os estudantes que supõe que nota baixa é sinal de brincadeira e que quem tira nota boa deve ser zoado. Portanto, ao tirar uma nota 3, Zezinho se vira e diz para o seu colega Luizinho: "ganhei de ti, que tirou 4!". Chega então o Huguinho, que tirou 10 na prova, mas este é rapidamente ignorado pelos coleguinhas. Essa total inversão de valores - muito conveniente, por sinal - é um dos responsáveis por notas baixas e conseqüente desinteresse nas aulas.
Além disso parece existir, entre a maioria dos alunos, dois tipos principais e opostos: os hiperativos e os absolutamente desinteressados.
Sobre os primeiros, lembro que quando ainda estava buscando uma escola para o estágio presenciei uma cena que parecia saída de uma obra de ficção: um aluno atirava uma bolinha de papel para outro, que tentava acertá-la COM UM TACO DE BASEBALL, enquanto a professora tentava dar aula. Está certo que na minha sala de aula isso não acontece, mas a tônica das aulas é sempre de que isso pode ocorrer. Fazendo um breve resumo do comportamento dos alunos em aula, a coisa é mais ou menos assim: enquanto eu estou explicando a matéria, SEMPRE tem alguém conversando com outro aluno ou jogando uma bolinha de papel em outro ou se levantando e indo até a classe do colega ou dando um soco no braço de alguém. Sempre. Então é preciso interromper a aula, pedir para o Fulano sentar/parar de socar o colega/juntar o papel do chão/parar de falar, ou então tirar o aluno de sala de aula, e depois tentar continuar. Isso irrita, isso é chato, isso atrapalha o andamento das aulas.
Já os desinteressados são mais interessantes, pois não atrapalham tanto as aulas, mas igualmente contraproducentes. A minha turma é uma 6ª série, na qual deveria haver alunos de 11 e 12 anos. Porém, lá tem alguns com 15 e 16 anos, todos re-repetentes, e todos eles são desse tipo. Se eu proponho uma atividade posso ter a certeza prévia de que eles não vão executá-la, mesmo que eu os ameaçasse de morte. Um dia, abordei um deles e perguntei por que ele não fazia a tarefa. Ele me respondeu que no ano que vem vai fazer um supletivo. Ah, tá. Outro dia, a atividade era escrever uma carta para o ex-presidente do Brasil entre os anos de 1922 e 1926 (final do período da Política do Café-com-Leite), Arthur Bernardes. O objetivo era expor pra ele a situação ruim do Brasil e sugerir mudanças, com base no que eles haviam aprendido em sala de aula. Pra variar, a turma mais velha não estava fazendo nada - e valia nota, só pra constar. Então, de tanto insistir com um deles, ele finalmente tirou uma folha do caderno, anotou algumas coisas e me entregou. Emocionado com a atitude do jovem, deixei aquela folha como a última da pilha para saber que era dele e poder conferir o resultado do meu esforço. Ao começar a corrigir os trabalhos, fui direto para o do menino, que tinha a seguinte redação:
"Arthur Bernardes
Um abraço do seu amigo [fulano] para o senhor presidente. Seja feliz aí no céu!!! Fim."
Não riam, por favor.
Na seqüência da série, a culpa dos professores.
Nessa pequena série de textos, tentarei expor, com alguns exemplos, onde cada setor envolvido tem culpa no cartório para o estado lamentável da educação no Brasil.
Em primeiro lugar, a culpa dos alunos.
Por parte dos alunos existe uma óbvia falta de interesse. Para além do fato de as aulas serem, no imaginário das crianças e dos adolescentes, chatas e desnecessárias (e algumas de fato são), não há o menor esforço por parte da maioria deles em tentar pelo menos demonstrar algum interesse. Existe, por exemplo, uma cultura muito forte entre os estudantes que supõe que nota baixa é sinal de brincadeira e que quem tira nota boa deve ser zoado. Portanto, ao tirar uma nota 3, Zezinho se vira e diz para o seu colega Luizinho: "ganhei de ti, que tirou 4!". Chega então o Huguinho, que tirou 10 na prova, mas este é rapidamente ignorado pelos coleguinhas. Essa total inversão de valores - muito conveniente, por sinal - é um dos responsáveis por notas baixas e conseqüente desinteresse nas aulas.
Além disso parece existir, entre a maioria dos alunos, dois tipos principais e opostos: os hiperativos e os absolutamente desinteressados.
Sobre os primeiros, lembro que quando ainda estava buscando uma escola para o estágio presenciei uma cena que parecia saída de uma obra de ficção: um aluno atirava uma bolinha de papel para outro, que tentava acertá-la COM UM TACO DE BASEBALL, enquanto a professora tentava dar aula. Está certo que na minha sala de aula isso não acontece, mas a tônica das aulas é sempre de que isso pode ocorrer. Fazendo um breve resumo do comportamento dos alunos em aula, a coisa é mais ou menos assim: enquanto eu estou explicando a matéria, SEMPRE tem alguém conversando com outro aluno ou jogando uma bolinha de papel em outro ou se levantando e indo até a classe do colega ou dando um soco no braço de alguém. Sempre. Então é preciso interromper a aula, pedir para o Fulano sentar/parar de socar o colega/juntar o papel do chão/parar de falar, ou então tirar o aluno de sala de aula, e depois tentar continuar. Isso irrita, isso é chato, isso atrapalha o andamento das aulas.
Já os desinteressados são mais interessantes, pois não atrapalham tanto as aulas, mas igualmente contraproducentes. A minha turma é uma 6ª série, na qual deveria haver alunos de 11 e 12 anos. Porém, lá tem alguns com 15 e 16 anos, todos re-repetentes, e todos eles são desse tipo. Se eu proponho uma atividade posso ter a certeza prévia de que eles não vão executá-la, mesmo que eu os ameaçasse de morte. Um dia, abordei um deles e perguntei por que ele não fazia a tarefa. Ele me respondeu que no ano que vem vai fazer um supletivo. Ah, tá. Outro dia, a atividade era escrever uma carta para o ex-presidente do Brasil entre os anos de 1922 e 1926 (final do período da Política do Café-com-Leite), Arthur Bernardes. O objetivo era expor pra ele a situação ruim do Brasil e sugerir mudanças, com base no que eles haviam aprendido em sala de aula. Pra variar, a turma mais velha não estava fazendo nada - e valia nota, só pra constar. Então, de tanto insistir com um deles, ele finalmente tirou uma folha do caderno, anotou algumas coisas e me entregou. Emocionado com a atitude do jovem, deixei aquela folha como a última da pilha para saber que era dele e poder conferir o resultado do meu esforço. Ao começar a corrigir os trabalhos, fui direto para o do menino, que tinha a seguinte redação:
"Arthur Bernardes
Um abraço do seu amigo [fulano] para o senhor presidente. Seja feliz aí no céu!!! Fim."
Não riam, por favor.
Na seqüência da série, a culpa dos professores.
8 comentários:
"Portanto, ao tirar uma nota 3, Zezinho se vira e diz para o seu colega Luizinho: "ganhei de ti, que tirou 4!". Chega então o Huguinho, que tirou 10 na prova, mas este é rapidamente ignorado pelos coleguinhas."
Esses estudantes de hoje são todos uns PATOS.
caralhoooooooooo!!!!! (com tom de tristeza...)
É verdade....
É f***.
Escrevi um post baseado no teu.
Abraços
Cara, me esforçei pra não rir, mas não deu... :D
OBS: Dá uma nota cinco pro guri pela originalidade! hehe
Concordo com o Leo, dá uma nota cinco (se não for mais). Se a nota dele for zero, ele vence.
Ótima tirinha sobre a falta de interesse dos alunos.
Se um dele não quiser fazer, é só gritar :
- NÃO QUER FAZER, SEU FILHO DA PUTA? SABE QUEM MATA AQUELAS PESSOAS DO TRÁFICO? É VOCÊ, SEU MERDA! ZERO MEIA, TRAZ O SACO, PORQUE ESSE AQUI VAI FALAR PESSOALMENTE COM ARTHUR BERNARDES!"
A VEJA iria sugerir isso, pelo menos.
Muito, muito bom o texto...
Mas não teve como não rir !!!
É hilário, mas ao mesmo tempo trágico...
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