9 de mar. de 2007

Inovações Tecnológicas e Mudanças Sociais

O pessoal do Cataclisma 14 tem, nas últimas semanas, feito inúmeras reportagens interessantíssimas a respeito das novidades na área de informática e seu impacto agora e amanhã na vida das pessoas. Lá eles já falaram do projeto One Laptop Per Child, de sistemas operacionais online e muitas outras coisas novas que estão acontecendo e que podem revolucionar o mundo tal qual o conhecemos hoje. "Revolucionar", no caso, significa melhorar a condição de vida das pessoas e proporcionar uma sociedade democrática direta, ao contrário da nossa "representativa".

Porém, mesmo reconhecendo o caráter revolucionário dessas criações, não consigo vislumbrar qualquer mudança que não seja direcionada por uma força maior - governos ou empresas. Enfim, teorias de que as mudanças na informática levarão a sociedade à Anarquia (capa da Superinteressante de outubro de 2006) ou a um mundo socialista ou a um mundo melhor ou qualquer coisa assim não me parecem muito verossímeis. Olhando para trás, temos vários exemplos de novidades tecnológicas com grande potencial revolucionário que foram apropriadas pelos modelos em voga para seu próprio proveito, o que me faz ter um pé atrás com relação à tão propagada "revolução".

A invenção da imprensa deveria ter revolucionado a sociedade a partir do século XI, tornando-a mais igualitária. O que se viu quando a poeira baixou, porém, foi ela ser utilizada para servir de base ideológica para uma série de regimes que, em maior ou menor grau, defenderam seus próprios interesses, exploraram economicamente o povão e alienaram todo mundo (Se você não pensa assim, provavelmente é um alienado. Ou talvez eu seja um conspiratório-paranóico).

Mais tarde, no fim do século XIX e início do século XX, inúmeras invenções fizeram o Ocidente regozijar-se de finalmente alcançar o progresso e varrer a "barbárie" para longe. Tirando o fato de estabelecer o que é "bárbaro" e o que é "civilizado" - mal do qual a gente padece até hoje -, as mesmas invenções foram utilizadas para explorar mais, matar mais e aprofundar mais o abismo entre países e pessoas ricos e pobres.

Ao longo do tempo o capitalismo conseguiu catalisar esse processo. Michael Hardt e Antonio Negri, escritores de O Império, analisam o sistema capitalista de uma forma que ajuda a entender melhor tudo isso. Para eles o capitalismo já passou de uma fase transcendente para uma fase imanente. Isso quer dizer que hoje em dia ele não é mais uma coisa "externa" a nós, mas algo que perpassa cada poro de todos. Ele hoje é parte do que somos. Entre outras conseqüências, isso faz com que toda idéia "revolucionária" concebida na segunda-feira seja incorporada na sexta e na outra segunda já esteja na propaganda de alguma multinacional ou nas camisetas dos mais descolados.

Novas tecnologias, ao mesmo tempo em que apontam para mudanças sociais pertinentes, dão condições para que o sistema vigente delas se aproprie para melhor continuar sua sobrevivência. Os principais governos do mundo já falam em censura na Internet (a China efetivamente já faz isso), cadastramento e arquivamento de dados dos navegadores, enfim, controle de conteúdo. É bom que usemos a experiência do passado para tentar não cair nas mesmas armadilhas e finalmente tentar implantar melhorias significativas de inclusão e equiparação social. Porque dar acesso à Internet para as pessoas acessarem apenas os Megaportais não adianta em nada.

Mas, para terminar esse post pessimista de uma maneira pessimista, esse sentimento de exploração parece ser inerente ao homem. Como já dizia Hobbes, o "homem é o bicho do homem". Parece que o problema não é o sistema econômico ou as novas tecnologias, mas sim o bicho homem.

4 comentários:

Anônimo disse...

é...posso dizer q foi um tanto pessimista mesmo...eu diria q na minha opinião ainda temos akela luz no fim do túnel com relação ao assunto propriamente dito...
Mas definitivamente sou obrigado a concórdar com o final onde se afirma q o grande problema é o homem...pq no final o grande problema do nosso universo sempre foi o homem...
Abraço....
Faloooooow.

Kleiton disse...

Cara, as inovações tecnológicas aparecem como meros instrumentos. Assim como o Estado tem o dever de utilizá-los para promover a inclusão social e diminuir a disparidade, é impossível impedir que as grande empresas de comunicação os utilizem para gerar cada vez mais dinheiro para si mesmas - e alienar cada vez mais a massa.

Tentar impedir essa utilização por parte das empresas seria censura. E além do mais, a internet ainda é um dos poucos "veículos" onde realmente existe uma certa "igualdade" entre grandes e pequenos. Afinal de contas, o site da Globo é tão "acessável" de qualquer computador quanto um blog conspiratório-paranóico.

André disse...

No final das contas, tudo acaba em dinheiro.

Leandro Corrêa disse...

Não seja tão pessimista. Se não me engano, é na África do Sul que as companhias de celular mais estão fazendo festa.

A fome e a ganância do Capitalismo tem feito as empresas acirrarem a concorrência na disputa por mercados. Disseminar a tecnologia e a internet entre as populações mais pobres significa, para elas, aumentar o tamanho do mercado consumidor e, consequentemente, suas possibilidades de encher os bolsos. Mas para a sociedade, significa inclusão digital.

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