13 de mar. de 2007

Coisas de auto-ajuda

Auto-ajuda, segundo o Aurélio: Método de aprimoramento pessoal em que o indivíduo pretende buscar, sem ajuda de outrem, soluções para problemas emocionais, superação de dificuldades, etc.

Paradoxalmente, muitas pessoas buscam auto-ajuda em livros de auto-ajuda, ou seja, buscando a ajuda de outrem. Enfim, não era isso que eu queria falar agora, mas sim sobre a capacidade que certas coisas têm para nos fazer bem ou pelo menos melhorar um dia ruim.

Pode ser um filme, uma frase, uma música - o que é mais comum no meu caso - ou outra coisa. De repente a gente se sente imerso por um sentimento bom que, se não resolve nosso problema real na prática, ao menos faz a gente se sentir melhor por instantes suficientes para que possamos seguir em frente e enfrentar o tal problema. Nesse sentido, respeito os livros de auto-ajuda. Muitos "entendidos" os consideram sub-literatura ou algo do gênero (ou sub-gênero), mas o que importa nesse caso parece muito mais o fim do que os meios. Sim, nesse caso eu entendo até as religiões - até a do Missionário R. R. Soares, mas isso fica para um outro post, senão esse fica muito longo. Por ora, só o que interessa é entender que às vezes as pessoas encontram força e motivação em coisas um tanto quanto incomuns - uma pedra, uma religião, um duende, um partido político, um time de futebol.

Toda essa introdução foi para mostrar o alento que um simples livro pode causar a uma pessoa. Vejam essa carta que foi encontrada dentro do livro “O Presidente Machado de Assis” de Josué Montello, da Coleção Machado de Assis - A Obra Completa. Ela nos dá, entre outras coisas, a medida exata da máxima relação entre obra e leitor, quando um se amalgama no outro. Nesse caso específico, a obra estabelece uma relação tão pessoal com seu receptor que não é possível tratar apenas como "auto-ajuda"; este levará aquela para sempre no coração, na cabeça, na alma. E essa sensação, ah, como é boa... Enfim, clique na figura para vê-la maior:

"Machado de Assis:

Em 1960, acometeu-me obstinada moléstia. Desesperado, numa meia-água, minhas mãos trêmulas mal conseguiam traçar algumas linhas de esperança da vida.

A par da doença física, atormentava-me, quiçá, o ambiente psicológico da solidão.


Foi então que, em determinado dia, entra-me porta a dentro a obra completa de Machado de Assis.


A convivência com Quincas Borba, o excêntrico filósofo e com o fabuloso Brás Cubas restituiu-me como por encanto à saúde que teimava em não voltar.


Ainda hoje, na tristeza, conforto-me com a leitura de Machado de Assis. Não sei que afinidade, que aproximação espiritual, que reciprocidade transformam-me a tristeza
em encantamento, em poesia, em enlevo, dando-me consolo, com o desconsolo dos livros, me devolvem para a vida.

16.03.68"


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