6 de nov. de 2008

E daí?

Então o Barack Obama foi eleito presidente dos Estados Unidos. Mas e daí? Bem, e daí que é o primeiro negro a conseguir esse feito na história daquele país, e significa a quebra de oito anos de hegemonia republicana. Sim, mas e daí?

A questão racial nos EUA é muito diferente da questão no Brasil. Aqui, temos um racismo polido, meio britânico, do qual quase temos orgulho. Lá, a coisa é bem mais punk - vide, por exemplo, a Ku Klux Kan, ainda hoje com mais de 3000 homens, e os tumultos de Los Angeles em 1992 (http://en.wikipedia.org/wiki/1992_Los_Angeles_riots). Portanto, a vitória de um negro para o cargo de presidente nos EUA pode ser comparada, guardadas as devidas proporções, com, digamos, a eleição de uma pessoa oriunda das classes populares no Brasil. Toda a expectativa em torno do que uma pessoa assim, tão "diferente" do padrão que até então vinha tomando o poder, faz com que pareça que basta a ela subir ao poder para instaurar a felicidade, a igualdade e a fraternidade.

E é exatamente nesse ponto que eu gostaria de tocar: da mesma forma que a eleição de um ex-metalúrgico pernambucano fez com que muita gente acreditasse que finalmente teríamos igualdade no Brasil, lá nos EUA (não só lá, mas enfim) acredita-se que Obama, por ser negro, filho de queniano, etc. e tal, vai acabar com a crise financeira internacional, mudar radicalmente a política externa belicista norte-americana e ajudar o mundo todo. Infelizmente, acredito que esses segundos ficarão tão desapontados quanto os primeiros ficaram.

Sim, porque se o Lula deixou os pobres menos pobres, deixou também os ricos muito, mas muito mais ricos, aumentando ainda mais a desigualdade social no país; além disso, durante o seu governo ele vem tomando várias atitudes que antes ele e seu partido abominavam. Por que ele faz isso? Porque ele é malvado? Porque ele é de origem humilde? Porque ele é nordestino? Não, é porque ele é um homem só, assim como Obama.

Infelizmente, quanto mais eu estudo História mais eu vejo que uma andorinha só realmente não faz verão. Não basta somente alguém chegar, cheio de vontade de mudar o status quo, para que as coisas mudem. É preciso haver mais, é preciso ter um conjunto de características, locais e globais, conjunturais e estruturais, que aqui vou didaticamente chamar de "Winds of change". Não basta, claro, haver somente o vento; porém, não basta somente o homem. Entretanto, parece que não é isso que pensa a imprensa internacional, que vê em um homem como Obama a figura que vai mudar tudo. Claro que, havendo esperança no imaginário das pessoas, pode haver alguma mudança. O problema é que não será nem um milésimo dessa mudança que vem sendo prevista pelos mais otimistas - e por outros nem tão otimistas assim.

Muito em parte, isso tem a ver com outro assunto relacionado, que voltarei a abordar amanhã: o fato de Obama ser do partido rival daquele que governa os Estados Unidos há quase oito anos. Afinal, se eles são rivais, isso quer dizer que devem ser praticamente opostos, não?

Tentaremos chegar a uma conclusão amanhã.

Um comentário:

Anônimo disse...

três colocações me azucrinam: se a gente não fosse assim tão racista, será que a eleição de osama teria tanta importância? li um comentário de um jornalista que ele até se arrepiou qdo viu a cena do osama com a família após o resultado da vitória. e, por fim, a cobertura jornalística aqui no brasil varando a madrugada parecia até copa do mundo, cara!

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