14 de fev. de 2008

A Bússola de Ouro


Na grande indústria de hoje em dia, quando algo faz sucesso várias pessoas tentam desesperadamente empurrar algo parecido para se aproveitar da situação favorável. É assim na música (quando uma banda de determinado estilo estoura, rapidamente surgem outras iguais), na literatura (vide os casos recentes de O Código Da Vinci e os "Desvendendando", "Descobrindo", "Acabando", etc., o tal Código, e de O Segredo e seus sucessores) e não poderia deixar de ser também na sétima arte. Com o sucesso estrondoso de O Senhor dos Anéis (17 Oscar, líder absoluto nas bilheterias de dezembro e janeiro de 2001, 2002 e 2003 e quase 3 bilhões de dólares de arrecadação), todos os estúdios correram atrás de adaptações fantásticas para encherem os bolsos. Para se ter uma idéia, até livro escrito por criança os caras adaptaram (Eragon). Não era surpresa que logo chegaria a vez de A Bússola de Ouro, best seller literário de Philip Pullman.

Antes dele, dois outros filmes-franquia tentaram ocupar o lugar de O Senhor dos Anéis: o mediano Crônicas de Nárnia e o fraco Eragon, que com arrecadações de respectivamente 730 milhões e 245 milhões de dólares em todo o mundo tiveram um sucesso relativo embalado pela trilogia de Peter Jackson. Enquanto Nárnia já tem continuação garantida, Eragon ainda espera o seu destino cinematográfico enquanto franquia. 

Quanto a Bússola de Ouro, seu destino é um paradoxo; talvez crentes do sucesso do filme, os realizadores fizeram um filme quase idêntico ao de SdA: A Sociedade do Anel, um final inacabado que diz para o espectador "até o ano que vem!". O problema é que o fiasco nas bilheterias pode fazer com que poucos apareçam no ano que vem, e a própria continuação da franquia pode estar sob ameaça. Mas o que pode ter feito com que esse longa, com US$ 180 milhões de orçamento, fizesse esse vexame retumbante até agora?

Em primeiro lugar, o óbvio: por melhor que fosse, Bússola de Ouro está ancorado num suposto nicho de mercado, o da fantasia. "Suposto" porque parece que há um certo tempo o público cansou desse tipo de fantasia - os próprios números descendentes de Nárnia e Eragon mostram isso. O Senhor dos Anéis representou um ápice no gênero não por ser qualquer fantasia, mas por ser a obra-prima do aclamado e lendário Tolkien e por ser uma trilogia realmente excelente do ponto de vista cinematográfico. Definitivamente, não é o caso de Bússola de Ouro.

O filme comete erros atrás de erros, do início ao fim. Os realizadores parecem não saber como contar uma história complexa (existem vários universos paralelos, no da história as pessoas têm suas almas separadas dos corpos e representadas por animais, e há muitos anos foram construídas bússolas de ouro para contar a verdade sobre o Pó que une todos esses universos... ???) de maneira clara e sucinta ao mesmo tempo; em vários momentos somos atirados de um tempo para outro, e em um momento a protagonista é tutelada pelo personagem de Daniel Kraig para um instante depois já estar sob a guarda de Nicole Kidman. O pior momento do corra-para-contar-toda-a-história-logo ocorre já no terço final, quando Kidman conta o destino de Craig, desaparecido do filme há uma meia hora, em meio minuto, seguido de flashes explicativos. Ridículo é um adjetivo fraco para esse subterfúgio. Aliás, o nome de Craig deveria ser tirado dos créditos, já que se bobear ele aparece menos do que os garotinhos que Lyra Belacqua vai resgatar. 

Os personagens também são mal desenvolvidos por conta dessa pressa em contar a história. As feiticeiras, por exemplo; não há tempo para estabelecer nenhuma relação com Serafina Pekkala, simplesmente porque ela aparece uns onze segundos na película. O ursão é, talvez, o personagem mais destacado na história, mas mesmo com ele a relação estabelecida é tênue. 

O roteiro não tem furos, tem rombos. A todo momento eu me perguntava "mas por que isso está acontecendo ASSIM?". Vejamos três exemplos (contém spoilers): 
- o ursão vence uma batalha contra determinado personagem (aliás, a resolução dessa batalha é a coisa mais Rocky dos últimos tempos - lamentável) e fica muito ferido, inclusive com uma pata que parece estar quebrada. No instante seguinte ele já está levando a menina na garupa através de quilômetros de um terreno inóspito e sob forte tempestade de neve! 
Lyra Belacqua e o ursão chegam a um precipício que só tem uma pequena ponte (clichezão). A menina passa e a ponte cai, deixando o seu companheiro do outro lado (clichezão). Ele diz pra ela ficar ali que ele vai buscar ajuda (clichezão), provavelmente se referindo ao amigo aeronauta. Pois bem, alguns minutos depois surgem da direção do precipício centenas de homens, sei lá de onde, para capturar as criancinhas. Então, quando tudo parece perdido, lá está o ursão, surgindo do nada, junto com mais umas centenas de pessoas - do "bem" - e o aeronauta lá em cima, na sua nave com capacidade para umas dez pessoas. Ah, e quando a luta termina as centenas de pessoas do bem simplesmente ignoram a protagonista, a quem estavam dando total importância até o momento. 
- Lyra entra num lugar extremamente vigiado, onde as crianças estão aprisionadas. Então ela fala para um deles - devidamente vigiado: "peça para as crianças vestirem roupa para o frio". Pouco tempo depois, um corte rápido para a menina explodindo uma máquina não sei como e outro corte, em seqüência, mostrando as crianças saindo do tal lugar super vigiado. Simplesmente não se conta como elas conseguiram fugir, numa demonstração gritante de preguiça por parte do diretor.

Em suma, Bússola de Ouro é uma aula de como não se adaptar um best-seller, de como não se aproveitar de um suposto nicho de mercado e, principalmente, de como desperdiçar 180 milhões de dólares - se bem que pelo menos os efeitos visuais foram bem elaborados, justiça seja feita. Esperemos a continuação, então (argh). 

FICHA TECNICA

A Bússola de Ouro - Nota D

Direção: Chris Weitz. Com: Nicole Kidman, Daniel Craig, Dakota Blue Richards, Eva Green.

4 comentários:

Thiago F.B disse...

Estava sem acompanhar o MD fazia um bom tempo...agora que li os últimos vamos fazendo breves comentários:
*Com relação à veja, eu penso que infelizmente NUNCA vai haver algum meio de comunicação 100% comprometido com os fatos. O que chama a atenção é o relaxamento e o amadorismo...só.
*Gostei da parte sobre SP. Pode parecer meio bobo, mas é o ponto de vista mais honesto, pq não de alguém calejado pela cidade.
*Sobre A Bússula de Ouro-eu já não tava muito pilhado de ver o filme, agora então nem se fala ;)
Uma nota sobre Eragon-To lendo o livro e posso dizer que até agora está muito bom. É uma leitura leve e muito agradável.

Anônimo disse...

ai junior, corrige o título da "bússola"....bússula não dá pra agüentar, me dá nos nervo, por favor!!! beatriz

André disse...

Ao assistir o filme, torci muito para que Daniel Craig aparecesse novamente em cena - mas como 007, e fuzilando impiedosamente todas as personagens, roteirista e diretor.

Anônimo disse...

meu deus do ceu quanta critica, mais ta tudo certo mesmo vc tem rasão é isso ai o filme foi mal feito nem da pra entender a história direito,parabens adimiro pessoas que se rebelam contra tsanta burice...

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