Desmemória
Algo em torno de 80% do que eu penso se perde. Essa é a quantidade de coisas que eu penso e, passadas algumas horas, ja sumiram da minha mente. Pensamentos relevantes, bobagens, devaneios aleatórios, tudo isso faz parte da minha vida somente no momento em que é criado, para pouco depois fenecer em algum lugar obscuro do meu cérebro. É a minha desmemória.
Eu gosto de observar pessoas na rua, quando não tenho nada melhor para fazer. Gosto de imaginar como devem ser as suas vidas, como elas chegaram até ali. Aquela menina deve ser muito amada pela sua família, e não sabe o quanto é bonita. Aquele cara ali talvez tenha sofrido muito na vida e tenha perdido a esperança em algumas coisas que não deveria. Aquele senhor parece ser bem simpático, deve estar indo para a casa da filha, provavelmente visitar a neta, e naquela embalagem deve haver um presente para a garotinha. Todos esses pensamentos, toda essa imaginação, no final do dia já terá desaparecido. Todo esse meu passatempo, que me ajudou a me distrair e, por que não, me alegrar, terá, na calada da noite, ido embora sem ao menos se despedir. No dia seguinte, sequer me lembrarei que pensei na vida dessas três pessoas. De tão conhecidas na minha imaginação, logo voltarão a ser o que eram antes de eu imaginar uma vida para elas: nada.
Idéias para escrever no meu blog, como elas costumam desaparecer com a mesma facilidade com que aparecem. Tento até escrevê-las em uma folha, quando dá, mas às vezes me esqueço até que fiz alguma anotação. Quantas boas idéias já perdi nesse exercício involuntário de esquecimento? Não tenho a menor idéia, mas penso que muitas, e algumas até poderiam ter sido realmente boas.
Interessante que existe em mim a consciência de que todos esses pensamentos existiram, mas não existem mais. E, justamente pelo fato de eu não me lembrar deles, posso garantir que eles existiram?
Mais interessante ainda é o fato de que eu gostaria de não me esquecer de nada disso que eu comentei até agora, se pudesse escolher. Em compensação, há tanta coisa na minha cabeça que eu gostaria de apagar, tanta coisa que aconteceu e que não tem mais por que estar na minha memória. Essas coisas que só ocupam espaço, juntamente com outras que só me fazem sofrer, dessas eu me esqueceria sem pensar duas vezes. Mas, quanto mais eu me esforço para esquecê-las, mais elas ficam vivas na minha mente, exatamente o oposto do que acontece com aquilo que eu gostaria de lembrar.
Hum... vou anotar tudo isso agora mesmo, torcendo para que essas idéias - e o fato de que eu fiz tais anotações - não acabem indo para a minha desmemória.
Eu gosto de observar pessoas na rua, quando não tenho nada melhor para fazer. Gosto de imaginar como devem ser as suas vidas, como elas chegaram até ali. Aquela menina deve ser muito amada pela sua família, e não sabe o quanto é bonita. Aquele cara ali talvez tenha sofrido muito na vida e tenha perdido a esperança em algumas coisas que não deveria. Aquele senhor parece ser bem simpático, deve estar indo para a casa da filha, provavelmente visitar a neta, e naquela embalagem deve haver um presente para a garotinha. Todos esses pensamentos, toda essa imaginação, no final do dia já terá desaparecido. Todo esse meu passatempo, que me ajudou a me distrair e, por que não, me alegrar, terá, na calada da noite, ido embora sem ao menos se despedir. No dia seguinte, sequer me lembrarei que pensei na vida dessas três pessoas. De tão conhecidas na minha imaginação, logo voltarão a ser o que eram antes de eu imaginar uma vida para elas: nada.
Idéias para escrever no meu blog, como elas costumam desaparecer com a mesma facilidade com que aparecem. Tento até escrevê-las em uma folha, quando dá, mas às vezes me esqueço até que fiz alguma anotação. Quantas boas idéias já perdi nesse exercício involuntário de esquecimento? Não tenho a menor idéia, mas penso que muitas, e algumas até poderiam ter sido realmente boas.
Interessante que existe em mim a consciência de que todos esses pensamentos existiram, mas não existem mais. E, justamente pelo fato de eu não me lembrar deles, posso garantir que eles existiram?
Mais interessante ainda é o fato de que eu gostaria de não me esquecer de nada disso que eu comentei até agora, se pudesse escolher. Em compensação, há tanta coisa na minha cabeça que eu gostaria de apagar, tanta coisa que aconteceu e que não tem mais por que estar na minha memória. Essas coisas que só ocupam espaço, juntamente com outras que só me fazem sofrer, dessas eu me esqueceria sem pensar duas vezes. Mas, quanto mais eu me esforço para esquecê-las, mais elas ficam vivas na minha mente, exatamente o oposto do que acontece com aquilo que eu gostaria de lembrar.
Hum... vou anotar tudo isso agora mesmo, torcendo para que essas idéias - e o fato de que eu fiz tais anotações - não acabem indo para a minha desmemória.
6 comentários:
Muito bom!
Com destaque para o penúltimo parágrafo. Paradoxalmente, quanto mais queremos esquecer alguma coisa, mais lembramos dela, justamente por pensar demais nela. Pois na verdade são coisas que, por mais que neguemos, são muito importantes.
Abraços!
Anoto tudo pra minha desmemória não me boicotar...
Eu sempre carrego um bloquinho e uma caneta comigo, na mochila. Pode não resolver a questão da desmemória, mas pelo menos ajuda a guardar alguns argumentos interessantes.
Eu acho que...
Do que a gente tava falando mesmo?
Por conta disso que descobri pra que serve o bloco de notas do celular e do próprio pc quando to no trabalho... Anoto sempre que posso.
O impressionante é que as vezes percebo que tenho tantas anotações que nem consigo mais dar cabo de tudo e tals. Anotar coisas me renderam algumas músicas...
"Por conta disso que descobri pra que serve o bloco de notas do celular"
Uma vez me acordei no meio da noite depois de ter um sonho completamente maluco. Não pensei duas vezes: peguei o celular e anotei no bloco de notas que era para escrever algo sobre aquilo. Até hoje não escrevi... Mas a nota tá lá.
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