11 de dez. de 2006

Pinochet e o problema da História

E morreu mais um ditador da América Latina. Augusto José Ramón Pinochet Ugarte faleceu ontem, aos 91 anos de idade, de ataque cardíaco. Deixa um legado dividido: mais ou menos metade das pessoas lembrará dele como o salvador do Chile, o homem que colocou o país no rumo do progresso e da prosperidade econômica; outra metade se recordará de Pinochet como um dos mais sanguinários ditadores que a América Latina conheceu.

Essa dualidade não é exclusiva só no caso de Pinochet - basta mencionar a nossa ditadura, que gera tantas interpretações díspares. Ela se calca em duas premissas básicas:

- a primeira diz respeito aos resultados práticos, ou seja, o que foi conseguido pelo regime do ditador, não importando o que foi feito durante o processo - em uma categoria maquiavélica de pensamento, na qual os fins justificam todos os meios -, ou o inverso: todos os horrores cometidos para tão pouco conseguido, em uma visão mais, digamos, humanitária;

- a segunda aponta na direção da dicotomia socialismo x capitalismo, tão em voga na época e que ecoa até hoje na sociedade latinoamericana. Isso significa que ou Pinochet foi um herói por ter livrado o Chile - e até certo ponto a América Latina - da ameaça vermelha, ou ele deve ser lembrado como um monstro, patrocinado pelas armas e dólares americanos em uma conspiração contra o socialismo.

Pois bem, o grande problema da História é esse aí mesmo: essas visões contraditórias - e ao mesmo tempo tão ricas em argumentação - sobre o mesmo tema, que nunca encerram a discussão. É como se não houvesse um lado certo, mas sim apenas ângulos diferentes. E isso acontece tanto na história recente quanto na história mais, ãh, velha.

Por um lado, na História do Tempo Presente as visões contraditórias aparecem claramente de acordo com a visão de mundo e a idelogia que cada um possui, inflamando a discussão de maneira apaixonada e claramente tendenciosa. Por outro lado, quanto mais se recua no tempo, mais fácil é escrever qualquer besteira que anule o que foi escrito anteriormente sobre determinado assunto, visto que sempre tem meia dúzia para acreditar nelas - e os revisionistas do Holocausto estão aí para não me deixar mentir.

E no final, o que sobra é a versão vencedora. É aquela que, literalmente, entrará para a História. Será ensinada para as crianças e adolescentes em sala de aula, será transmitida em inúmeros documentários de televisão e passará de boca a boca através dos tempos para inúmeras gerações, passada como a verdade tal qual ela ocorreu. E aí, como Pinochet entrará para a História? (continua...)

3 comentários:

Kleiton disse...

Pra avisar: o Moldura Digital já está na seção hello, hello! do Cataclisma14.

Ah, e essa coisa de moderação de comentários não está com nada... Tá, eu sei que é uma garantia pra ti, mas ainda assim, começando assim tu vai ficar igual a globo.

Ou pior.

Eu mesmo disse...

A moderação de comentários é para evitar o que acontecia no outro blog, de aparecer aquelas propagandas totalmente nada a ver. É o spam chegando também aos comentários!

Kleiton, não te preocupa que os teus comentários serão todos aprovados...

Rodrigo disse...

Eu também adotei a moderação de comentários no blog, mas não por causa do spam (que eu já tinha eliminado com a verificação de palavras): esses dias recebi um comentário com uma afirmação preconceituosa contra os árabes. Deletei o comentário e decidi adotar a moderação.
Já o Pinochet... Na História que EU produzir, ele será o vilão. Agora, para o Olavo de Carvalho (sempre ele!), o Pinochet deve ser herói...

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