11 de jul. de 2008

[REC]

Para ter uma idéia do que tu vai ler nos próximos parágrafos, veja esse vídeo:




Trata-se do trailer de [REC], que não mostra uma cena sequer do filme, apenas as reações das pessoas a sua pré-estréia na Espanha.


Se tu gosta de filme de terror/suspense, tem que ver esse filme. Se tu gosta de cinema, também. [REC] é a mais recente surpresa do cinema espanhol, que nos últimos anos vem se destacando principalmente nesse gênero, desde Guillermo del Toro e seu A Espinha do Diabo, passando por O Labirinto do Fauno e O Orfanato (de J. A. Bayona), além de outros. Definitivamente a Espanha desbancou o Japão como principal Cinema do gênero, apostando em qualidade técnica e inovações em temas que aparentemente já estavam batidos. Vamos ao caso específico de [REC] e seus méritos em relação a inovar o já batido.


Resumidamente, dá pra dizer que o filme é uma mistura de Dawn of the Dead (e todos os filmes de mortos-vivos que vieram na seqüência) com A Bruxa de Blair. Ou seja, um filme de zumbi com uma câmera na mão. Nada original, né? Aí que está um dos méritos do filme: a falta de originalidade é magistralmente driblada com um elenco de primeira, aliado a um roteiro inteligente e à competência da direção, que precisou ensaiar muito bem algumas cenas em que simplesmente tudo tem que dar certo em planos-seqüência de alguns minutos, no escuro e em corredores apertados. Ou, como diria Stephen King: “não importa a história, mas sim o narrador”.


[REC] mostra uma tentativa de reportagem de um programa de TV espanhol, que acompanha por uma noite o trabalho dos bombeiros. Um câmera e uma repórter vão passar a noite num quartel de bombeiros e mostrar um pouco da rotina de trabalho deles. O início do filme é propositalmente monótono, visto que mostra apenas cenas dos bombeiros ali, parados, dando entrevista, comendo, jogando basquete, e nada acontece. A repórter chega a dizer para Pablo, o cameraman, que deseja que aconteça alguma coisa para que a matéria se torne mais interessante. Pouco depois, um chamado leva uma equipe de bombeiros (sempre acompanhada pela de TV) a um prédio de seis apartamentos mais uma cobertura no qual os vizinhos não conseguem dormir graças aos gritos histéricos de uma moradora. Até aí, nada de mais, a não ser depois que essa moradora quase mata um policial e um bombeiro e que, ao tentarem sair do prédio com os feridos, todos dentro do prédio descobrem que este foi recém lacrado pela vigilância sanitária, que pede calma a todos e diz que aguardem ali dentro enquanto ela executa alguns procedimentos.


Obviamente, a partir daí temos grandes momentos de tensão, que vão aumentando gradativamente. Funciona mais ou menos assim: início do filme, monotonia; depois, um momento tenso, seguido de outro; depois, mais uma calmaria; por fim, tensão subindo gradativamente até chegar ao ponto de tu querer parar de assistir por não agüentar o suspense. Sério, fazia muitos anos que um filme não me assustava tanto - aliás, não sei se algum jamais me assustou a esse ponto. O diretor faz grande uso da perspectiva da câmera na mão: Pablo filma tudo que pode, tanto por curiosidade (mórbida) quanto por “amor” à profissão e também como uma tentativa de sobrevivência naquele terror. Sua câmera, após várias pancadas, começa às vezes a ter o som falhado, o que torna a ação extremamente incômoda em alguns momentos, tornando o suspense mais acentuado. Em outro momento, as luzes se apagam e o único recurso para enxergarmos é a luz da câmera de Pablo, tornando o clima ainda mais claustrofóbico. E quando a luz da câmera começa a falhar, então? A câmera de Pablo torna o filme muito mais próximo ao espectador, que se sente mais dentro do filme, o que obviamente aumenta - e muito - a tensão.


Outro fator que eleva a carga de tensão é saber, desde o início da apresentação aos “zumbis”, que esses lembram muito mais aqueles de Extermínio do que do já citado filme de George Romero: aqui eles correm, arrombam portas, enfim, agem com inteligência quase humana (com o perdão do trocadilho) para conseguir o que querem: atacar os não-infectados. Além de dar mais realismo, esse recurso é muito, mas muito mais assustador.


O roteiro é magistralmente construído para alternar momentos completamente sem ação com outros absolutamente angustiantes que os seguem imediatamente e sem transições graduais, fazendo com que o seu coração entre em uma montanha-russa dos infernos, e ainda nos entregar aos poucos o que está acontecendo. Isso sem contar nos momentos que o espectador acha que vai levar um daqueles sustos batidos e nada acontece, apenas para que um momento depois ele seja levado a pular da cadeira com o que aparece na tela. Os últimos dez minutos do filme, aliás, são absolutamente assustadores; se você for assistir [REC], prepare o seu coração (como diria Galvão Bueno), porque ele vai tentar saltar pra fora do seu corpo nesses minutos finais, que entram pros anais do Cinema assim como os vinte primeiros minutos de O Resgate do Soldado Ryan.


Infelizmente o filme, que saiu em novembro na Europa, não chegou aqui no Brasil – nem sei se vai chegar. Portanto, pode baixá-lo sem culpa.


Hollywood, preguiçosa que só ela, já está providenciando um remake de [REC]. Chama-se Quarantine e deve estrear por lá no fim do ano.


FICHA TECNICA


[REC] - Nota A


Direção e roteiro: Jaume Balageró e Paco Plaza. Com: Manuela Velasco.

3 comentários:

Gabriel disse...

Tá meu e a grande pergunta: Onde tu viu esse filme?

Anônimo disse...

Essa resenha me deixou morrendo de curiosidade de ver o filme, ainda mais que sou um fã de terror.
Aproveitando: quando este blog será novamente atualizado?

Abraços

Laura disse...

Onde tu viu e quando isso vem pra cá?!!!

Beijo

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