Recebi na sexta-feira um e-mail de um grande amigo, Marcel Bittencourt (com quem tive a honra de tocar na banda
Eu, o Zé e os Cara), com um texto de sua autoria a respeito de um assunto que ainda não havia sido abordado por aqui. Gostei tanto do escrito que resolvi compartilhá-lo com vocês, com a devida autorização do seu criador:
Será?
Ontem sofri um choque. Aconteceu uma daquelas clássicas cenas de cinema, onde um personagem fica parado, boquiaberto, chocado com uma cena trágica. Infelizmente existiam duas diferenças ali: a notícia era real e o personagem era eu. E você. E todos os brasileiros.
Entrei no supermercado e passei o olho no jornal, que estampava em letras garrafais: "CALHEIROS ABSOLVIDO". Não pude acreditar. Tentei ler de novo. E de novo. E mais uma vez, num último e inútil fio de esperança. Mas não, estava ali, estampado na capa de um jornal popular e escancaradamente exposto pra quem quisesse ver.
Isso me levou a fazer uma pergunta: Será?
Será que temos que passar por esse tipo de constrangimento? Primeiro, revistas de grande circulação denunciam o que todos já sabiam, só não tinham como provar. Depois, o Senado tem a capacidade de questionar se a seção deveria ser aberta. Lógico!!! Óbvio que tinha que ser aberta! Nós, eleitores, que teclamos "confirma" e botamos os senadores lá temos o direito de saber como se posicionam nossos senadores numa situação crítica e importante como essa. Depois decidem pela seção fechada, pela cortininha que esconde a obscenidade, pelo pano debaixo do qual são tomadas as decisões políticas desse país. E, por fim, resta a notícia a qual ninguém gostaria de ser obrigado a ler, ouvir, assistir, comentar e, principalmente, ser submetido: Ele foi absolvido.
Será que os senhores que compõem o senado federal acham mesmo normal uma pensão alimentícia de quase R$20.000,00?
Será que os senhores que compõem o senado federal acreditam que ele é mesmo inocente?
Será que os senhores que compõem o senado federal não vêem nada de anormal no crescimento do patrimônio pessoal do senhor Renan Calheiros?
Será que os senhores que compõem o senado federal pensam que daqui para frente aquela instituição terá algum respeito do cidadão brasileiro?
A resposta para todas as perguntas até aqui expostas é NÃO!
O que aconteceu naquela seção fechada, gravada para arquivo histórico, mas que ninguém tem acesso, foi a celebração da corrupção, do jeitinho brasileiro, da total desconsideração pelas palavras "respeito" e "ética". Imperou o poder velado de uma imensa rede de rabos presos.
A seção fechada foi para que os eleitores não pudessem reconhecer os cúmplices de Renan. E essa decisão foi talvez a que mais machucou o povo brasileiro. Povo honesto e lutador, mas hoje indignado com a decisão, impotente diante do absurdo e humilhado pelas mesmas pessoas a quem confiou um mandato de oito anos.
E, não bastasse tudo isso, veio o "grand finale", a cereja do bolo, a humilhação-mor: o próprio Renan, em pura ironia e escárnio, se pronunciando sobre a absolvição classificando o ocorrido como "uma vitória da democracia".
Será que será sempre assim? Gosto de ser otimista, mas confesso que depois desse episódio ficou bastante difícil.
E quanto às próximas eleições, lembrem de, por segurança, não votar em NENHUM dos senadores que estão lá. Afinal, se não nos deixam ver quem é honesto e quem é pilantra, não temos escolha, senão julgar todos da mesma forma: cúmplices do presidente da Casa.
Será só imaginação?
Será que nada vai acontecer?
Será que é tudo isso em vão?
Será que vamos conseguir vencer?
Marcel Bittencourt
Músico