28 de abr. de 2009

Fenômeno

Ronaldo, o Fenômeno. Quando recebeu esse apelido, ainda com 21 anos, ele referia-se à qualidade diferenciada do cara, à forma como ele partia para o gol, a como ele era um jogador fenomenal, principalmente para a sua idade. Pois bem, mais de quinze anos depois, o cara ainda merece esse apelido - Fenômeno. É impressionante a capacidade que ele tem de ressucitar, tal qual Jason da série Sexta-Feira 13, apesar de todas as adversidades possíveis. Vai ter força de vontade assim na p$%#@.

Como exercício de raciocínio, gostaria de pedir que vocês imaginassem, por um segundo que seja, que são o Fenômeno, com toda a sua trajetória, os êxitos, as cagadas, etc. Tá imaginando? Então vamos lá.

Lembro-me de comprar uma Placar com ele na capa, em 1995, dizendo que a sua ida para o PSV da Holanda era a negociação mais cara da história até então. E ele tinha recém dezoito anos e uma Copa do Mundo nas costas. Rapidamente virou artilheiro e ídolo na Holanda, sendo transferido em 1996 para o Barcelona, onde ganhou pela primeira vez o título de melhor jogador do mundo. Em 1997, já na Internazionale de Milão, ganhou pela segunda vez o prêmio máximo que um jogador de futebol pode conquistar. Tudo isso com apenas 21 anos.

Chegou a Copa do Mundo de 1998, Ronaldo continuava no auge e a Seleção era a grande favorita ao título. Chegou à final, mas na véspera o Fenômeno teve uma convulsão que até hoje não foi muito bem explicada - exatamente por isso, abriu brechas para várias teorias da conspiração envolvendo a CBF, a Nike e provavelmente a CIA e extraterrestres -, mas resolveu jogar mesmo assim e viu a Seleção tomar uma goleada da França na final. Viu literalmente, porque não jogou porra nenhuma naquele jogo. Depois da Copa, começou a viver um declínio; já não era mais o mesmo, era muito criticado - justamente por ter sido o que foi tão cedo, e por ter sido tão rapidamente badalado pela imprensa do mundo inteiro, e não só a imprensa esportiva. Para se ter uma idéia do sucesso mundial do Fenômeno, Ronaldo chegou a ser a personalidade mais reconhecida do mundo, ganhando até do Papa João Paulo II.

Então, em 2000, a primeira lesão séria - quando eu vejo aquela imagem, a da contusão, eu SEMPRE faço um "argh" e viro o rosto -, que o afastou dos gramados por quase um ano. Quando ele voltou, estava mal e acima do peso - é importante lembrar que ele já vinha em franca decadência pouco antes de se machucar. Foi mal na Inter, mal nas Olimpíadas de 2000 e na Copa América de 2001. Ninguém queria saber dele. A sua carreira parecia ter ido pra banha. Artigos como esse pipocavam pelo mundo inteiro. Ronaldo estava derrotado. Desacreditado. Morto.

Nessa época, pouco antes da Copa do Mundo de 2002, ele já era multiziliardário. As suas negociações, sempre bem-sucedidas, aliadas aos ótimos contratos que fez ao longo dos anos - particularmente um muito lucrativo de exclusividade com a Nike - deram-lhe todo o dinheiro que umas quatro gerações de sua família não conseguiriam gastar. Ele poderia muito bem parar por ali. Mas o cara é chato - ou, como diria uma recente propaganda ufanista, ele é brasileiro e não desiste nunca - e não parou. Luis Felipe Scolari, técnico da Seleção na época, apostou no Fenômeno em detrimento a Romário, que na época estava voando, mas aprontou umas numa concentração na Bolívia, e levou Ronaldo à sua terceira Copa - e como titular. Ninguém acreditava nele, eu torcia contra ele e contra a Seleção, de tanta raiva do esquema paternalista que parecia existir ali. E eu não era o único.

Aí o cara vai e faz oito gols em sete jogos na Copa, dois na final, vira o artilheiro daquela Copa e de lambuja ainda ajuda o Brasil a conseguir o pentacampeonato mundial, mesmo com o cabelo de Cascão que ele exibiu naquela final. Enfim, o cara dava a volta por cima. Foi o melhor do mundo naquele ano, de novo, e se transferiu para o Real Madrid, que na época estava montando uma espécie de seleção mundial - o que se convencionaria chamar de "Os Galáticos".

Na primeira temporada na Espanha, foi campeão nacional e artilheiro da competição. Porém, a partir da segunda metade de 2003, começou a alternar boas e más atuações e a se contundir seguidamente. Com essas contusões e várias noitadas, começou a engordar muito. Foi convocado para a Copa de 2006, mas com o clima de oba-oba da seleção do Parreira, chegou lá com quase 100 quilos. Mesmo assim, conseguiu fazer três gols na Copa, conseguiu não ser um péssimo jogador, comparado ao fiasco de vários outros da equipe, e ainda sagrou-se o maior artilheiro da história das Copas do Mundo. Entretanto, foi duramente criticado, principalmente por estar nessa seleção lamentável de 2006, em que tudo foi feito, menos jogar bola, e por seu peso muito, mas muito acima da média.

A partir daí, repetiu-se o que havia acontecido em 2001; Ronaldo virou alvo de muitas críticas e de piadas por causa da sua gordura, e acabou trocando o Real Madrid pelo Milan. Lá, conseguiu ajudar a equipe a se classificar para a Champions League de 2007-2008, mesmo com o Milan tendo tomado uma punição de dez pontos no início do campeonato. Além disso, descobriu-se que Ronaldo tinha um problema na glândula tireóide que o fazia aumentar de peso. Depois disso, ele novamente se reergueu, conseguindo diminuir de peso e iniciar um processo de volta ao bom futebol. Porém, ele ainda se contundia com facilidade e tinha que lutar muito contra a balança, o que o deixou afastado de muitos jogos do Milan - ele jogou apenas cerca de 25% de todos as partidas do time italiano enquanto esteve lá, mas quando jogou o fez com resultados acima da média. Enfim, ele estava lutando e parecia estar vencendo a luta, novamente, com muito esforço.

Aí, no início de 2008, Ronaldo teve mais uma lesão gravíssima no joelho, parecida com a de 2000. O Milan rescindiu o contrato com ele e Ronaldo voltou ao Brasil, desempregado, para se tratar. Parecia que agora já era. Não tinha mais jeito. Os Deuses do Futebol estavam conspirando contra o cara: "Chega, Ronaldo. Tu já tem dinheiro e fama, já escreveu teu nome na história do futebol. Não precisa fazer mais nada, não precisa provar mais nada pra ninguém". Mas, novamente, ele tentou. E, tal qual Jason Voorhees, tentava ressucitar para mais um capítulo da série de sua vida.

Foi para o Flamengo, não como jogador, mas para treinar e se recuperar da cirurgia. Mais uma vez, ficou muito acima do peso e, para piorar, se envolveu em muitos escândalos do tipo "WTF??" em questão de poucos meses: engravidou e noivou com uma modelo, para em seguida ser flagrado com três travestis (?) no Rio de Janeiro (ele alegou ter "se enganado", achando que eram mulheres) e terminar com a noiva, não sem antes ter se envolvido em uma briga com o cunhado em uma festa de aniversário. Enfim, elementos que são o prelúdio de fim de carreira mesmo, e daquelas que o cara tenta manter mas que só vai se atrofiando cada vez mais. Para piorar, foram publicadas umas fotos no final do ano mostrando Ronaldo muito, mas muito gordo mesmo, quase um Maradona. Mas Ronaldo é brasileiro, não desiste nunca.

Em 9 de dezembro de 2008, o Corinthians surpreendou a todos - principalmente o Flamengo, que queria ter ficado com o craque - anunciando que Ronaldo era jogador do clube. Todo mundo desconfiou que o Timão estava fazendo merda. Afinal, era um contrato de risco, com dinheiro que o clube não tinha, mas dizia que iria buscar por meio de patrocínios que viriam por conta da imagem do Fenômeno. Resumindo, parecia uma idéia muito idiota. O ano começou, o Corinthians começou a jogar e nada de Ronaldo nem de patrocínio. Três meses (?) se passaram sem Ronaldo ou patrocínio, e parecia que a idéia de jerico dos caras ia mesmo afundar, quando Mano Menezes decide colocar o homem pra jogar. Na sua segunda partida, contra o maior rival - o Palmeiras - Ronaldo salva seu time da derrota no último minuto, com um gol de cabeça. A partir daí, os patrocinadores aparecem, Ronaldo começa a jogar partidas inteiras, perder peso e fazer muitos gols. Isso tudo até chegarmos à partida do último fim de semana, quando ele acabou com o jogo tocando meia dúzia de vezes na bola e marcando dois golaços, o primeiro com uma matada de bola improvável e o segundo com uma bola por cima do goleiro, de esquerda e depois de ter fintado o marcador com uma facilidade impressionante.

Depois de imaginar ser Ronaldo e passar por tudo isso, me responda: você continuaria tentando, depois de tudo o que aconteceu? Escrevo isso pra dizer que a história de Ronaldo é digna de um filme - ou de um livro de auto-ajuda, depende do público. Eu, que nunca fui muito fã dele, que sempre fui incrédulo a respeito das suas recuperações, tenho que admitir: o cara me emocionou. Mesmo que ele não faça mais nada no futebol, ele já escreveu seu nome na história não só como o ótimo jogador que é, mas como um ser humano com uma capacidade de recuperação e uma força de vontade impressionantes. Porque, além das dificuldades físicas de ter passado por várias cirurgias complicadas no joelho - só para mal comparar, recentemente eu rompi um ligamento do joelho e tive que operá-lo, então posso dizer que é MESMO uma merda todo esse processo, a cirurgia, a recuperação, etc. -, Ronaldo foi exposto ao ridículo várias vezes (muitas vezes por culpa dele mesmo), foi alvo de fofocas, de artigos que o humilharam, de interesseiros, de comentaristas esportivos de nível duvidoso... Enfim, ele tinha todos os motivos para desistir de jogar; afinal, como falei antes, já tinha dinheiro, fama e nome suficientes para tal. Mas não. Ele lutou, ele foi atrás - e conseguiu. Nem as propagandas de cerveja que ele insiste em fazer ou outras eventuais merdas vão apagar isso. Ele ultrapassou os limites do futebol, ele virou um exemplo de superação, um exemplo de vida.

Depois de tudo, esse ano vou torcer para o Colorado em primeiro lugar - claro -, e depois para o Ronaldo. Ele merece. Ele é um fenômeno.

8 comentários:

André disse...

Eu ia comentar aqui, mas ia ficar muito comprido, vou escrever um post no cataclisma ao invés, aí boto o link pra esse teu.

Anônimo disse...

(Jorge Nogueira)

Valter, o Campeão de Tudo vai estar lançanco um DVD de auto-ajuda chamado "O Massacre dos Aflitos - pq Batalha é coisa de Segunda" para ajudar aqueles q tem dificuldades contra moinhos abandonados e tem q promover verdadeiras "batalhas" contra eles! KKK

Eu mesmo disse...

Para o Jorge:

Huahuahuahuahauhauhauhau!!!!!

Só trocaria uma palavra na tua última frase: "...e tem que inventar verdadeiras "batalhas"..." ;)

Anônimo disse...

(Jorge Nogueira)

Valter seria massa fazer uma montagem no computador de uma capa de DVD sobre essa corneta né?
Vc sabe fazer?

Eu mesmo disse...

Infelizmente, não. Manda pro Kibe Loco que de repente ele faz! ;)

Anônimo disse...

(Jorge Nogueira)

Eu ñ tenho o e-mail dele pode mandar pra mim?

Eu mesmo disse...

Jorge, o e-mail do cara, que tá lá no site dele, é kibelocoARROBAkibeloco.com.br

Anônimo disse...

(Jorge Nogueira)

Ae Valter minha corneta está lá no Beco do Sapulha.

Dá uma olhada!

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