3 de jul. de 2008

Poupar ou não poupar?

Ainda não foi desta vez. O Fluminense não conseguiu vencer a Libertadores e entrar no seleto clube dos times brasileiros que conquistaram a América. Não vou escrever aqui sobre a raça que o Flu teve, o baita jogador que é aquele ponta da LDU (que inclusive já foi vendido pra Europa) ou a ironia que é ser o autor dos três gols que salvam o teu time e o levam à prorrogação e aos pênaltis, mas também ser o cara que perdeu uma das cobranças e que é ao mesmo tempo um dos responsáveis pelo fracasso da noite. Vou, na verdade, utilizar o Fluminense como exemplo para refletir sobre uma ação cada vez mais cotidiana no futebol brasileiro: poupar jogadores em certas competições, visando a ganhar outra.


O Fluminense é um ótimo exemplo por dois motivos: primeiro, é o mais atual. Segundo, é o que melhor corrobora a minha tese. E qual é a minha tese mesmo? É de que poupar jogadores é arriscado e desnecessário. Vamos aos argumentos.


É claro que já houve épocas em que poupar jogadores era necessário. Basta lembrar do dia em que o Grêmio jogou TRÊS jogos no mesmo dia. Todavia, hoje em dia isso já não acontece mais; temos no máximo dois jogos por semana para cada time. A CBF chegou a tirar da Copa do Brasil os clubes que disputam a Libertadores para evitar maiores estresses. É perfeitamente possível jogar duas vezes por semana E ainda por cima ir bem. Vejam só: jogando assim, o time pega ritmo e entrosamento e dá ao treinador a oportunidade de testar na prática todas as possibilidades que ele quer. 


Quanto ao argumento de que não poupar o time é arriscado porque pode gerar lesões nos jogadores, ah, por favor... O futebol atual, de fato, é mais competitivo que antigamente, tem mais força física, blá, blá, blá. Porém, a preparação física e a medicina esportiva também tiveram avanços fantásticos, a ponto de deixar as coisas mais ou menos empatadas. Por mais que se diga que um jogador hoje em dia sofre mais do que antigamente, um dado prático que enterra esse argumento é a idade média com que os jogadores se aposentam: se, antes, aos trinta anos os atletas já estavam se aposentando, agora temos Romários, Edmundos, Marcelinhos Cariocas, Jardels, etc., todos provando que dá pra chegar aos quarenta jogando bola profissionalmente.


Todo mundo sabe que a nossa sociedade tem o que eu vou chamar de “síndrome do único vencedor”. Isso quer dizer que apenas o primeiro lugar entrará para os anais da História e será lembrado. Como diria Nelson Piquet, “o segundo lugar é o melhor último colocado”. Como diria Quincas Borba, “ao vencedor, as batatas”. No futebol, isso se reflete basicamente no final das temporadas. Quando termina o ano e os torcedores, dirigentes e jogadores fazem o balanço da temporada, fica muito chato se um time grande não venceu nada. Nessa hora, qualquer torneiozinho tá valendo, até aquele estadual que no início do ano ninguém dava muita bola. Por isso, ao priorizar um torneio grande em detrimento a outro, menor, o time corre o risco de não conquistar o maior e prejudicar o seu andamento no menor, não conquistando nada. Por outro lado, se a equipe se dedicar igualmente aos dois, tem mais chance de ganhar pelo menos o campeonato de menor expressão (esse é o caso, principalmente, dos estaduais), terminando o ano campeão de alguma coisa, pelo menos. O Fluminense, por exemplo, não ganhou porra nenhuma no ano e foi vice-campeão da Libertadores. Alguém acredita que no final do ano alguém vai comemorar esse vice-campeonato?


Por último, vejam a situação atual do Fluminense e reflitam se a decisão de poupar jogadores foi boa: o time das Laranjeiras não conseguiu vencer a Libertadores, título que almejava ao disputar o Campeonato Carioca e o Brasileiro com times ora mistos, ora reservas. Ainda por cima, não venceu o Carioca e está em último lugar no Brasileiro, com três pontos em oito jogos, pior campanha de um time no Brasileiro enquanto disputava a Libertadores, desde que começaram os pontos corridos. Agora a moral de todos por lá está baixa e provavelmente esse vice-campeonato ainda sirva para fazer com que os clubes europeus comprem alguns jogadores e desmontem o time no segundo semestre. E é nessa situação que o Fluminense tem de disputar o único torneio que lhe resta, correndo um risco ainda moderado (mas que em breve pode tornar-se grave) de cair para a 2ª divisão. Tudo isso por poupar jogadores para não ganhar nada.


Só pra constar, o Colorado já venceu duas competições em 2008...

4 comentários:

Kleiton disse...

E no desespero por valorizar as conquistas, vai fazer até um DVD da Copa Dubai...

Convenhamos, tchê: DVD da Dubai Cup é exagero, né?

Anônimo disse...

Pois é...
Com o Grêmio ano passado, se passou o mesmo. Por poupar jogadores para a final da Libertadores, perdeu dois jogos que podia ter ganho (contra o Vasco e contra o Cruzeiro, em pleno Olímpico). Resultado: perdeu a Libertadores, os pontos perdidos contra Vasco e Cruzeiro fizeram falta no final, e assim o Grêmio não conseguiu a vaga na Libertadores 2008.

Anônimo disse...

Junior, teu post tá muito "Colorado" pro meu gosto!

De fato o Flu nadou e morreu na praia, e na minha opinião merecia ter ganho pelo o que apresentou no campeonato... mas um vice-campeonato da América TEM SIM o seu valor! Ou agora tu vai me dizer que antes do "Sport Club 2006" ter ganho a Libertadores, tu não ficava lembrando do vice de 1980 com Falcão e cia? Ou do Brasileiro de 2005 em que o Colorado foi vice (roubado, mas isso é outra história)? Ou do Brasileiro de 1988, que vcs perderam em casa pro Bahia? Essas lembranças sempre ficam na memória, sejam boas ou ruins.

Mas enfim, com o resto todo eu concordo! hehe
:D

Abraço

Thiago F.B disse...

Bom citar o inter no final,porque o inter em 2006 fez um belo brasileirão jogando com time misto ou totalmente reserva no campeonato daquele ano. Mas tinhamos um grupo MUITO forte. Em 2007 o inter colocou reservas no gaúcho e fracassou... Pq o grupo não era mais TÃO forte. Em 2008 ninguém foi poupado e temos dois títulos. Porém, saimos da copa do brasil pq não temos um grupo tão bom quanto 2006 e também pq tinhamos 7 desfalques importantes( incluindo toda a zaga reserva ). O que quero dizer com tudo isso? Simples, a tática de poupar jogadores só funciona quando vc tem um grupo tão forte e completo como o colorado de 2006, ou o Grêmio de 1995... se não for assim, esqueça!!!
Ps: O Luiz Alberto, capitão do Fluminense, não joga de titular em lugar nenhum do RS com aquela bolinha...hahuahauhauhua

Falooooooooow.

Creative Commons License

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.