18 de dez. de 2006

Para entender o futebol

Não é preciso refletir por muito tempo para entender porque o futebol é o esporte mais popular do mundo. Ele é simplesmente o mais empolgante pelo simples fato de que de nada adianta ser o favorito; como trata-se de um esporte com poucos "pontos", vários fatores podem fazer com que um time mais fraco vença uma partida.

O problema é que, de tempos em tempos, os seres humanos esquecem certas premissas básicas sobre o funcionamento de algumas coisas. Um bom exemplo disso é o caso do futebol: sempre que tem um jogo entre um grande e um pequeno, tem sempre um monte de gente prevendo goleadas mil e um banho de bola. Isso pode ter acontecido lá nos primórdios do futebol, mas como o Galvão adora dizer, "não existe mais bobo no futebol". Alguns rápidos exemplos que passam pela minha cabeça agora:

O Maracanaço, em 1950: a seleção brasileira era franca favorita contra a seleção uruguaia. Só precisava de um empate e estava ganhando de 1 x 0 até os 21 minutos do segundo tempo, quando tomou uma virada histórica, perdeu de 2 x 1 e calou os mais de 200.000 torcedores brasileiros que estavam no Maracanã.

A tragédia de Sarriá: também com a seleção brasileira, que montara uma seleção aparentemente imbatível, que lembrava a de 1970. Em 5 de julho de 1982, a seleção da Itália, que vinha aos trancos e barrancos naquela Copa, derrotou o Brasil por 3 x 2 em uma partida sensacional.

Eurocopa, 2004: a Grécia, que nunca teve tradição nenhuma no futebol, chegou à copa das seleções da Europa com uma seleção, pra dizer o mínimo, bem comunzinha. Pois foi com ela que chegou ao título inédito da competição, desbancando as toda-poderosas seleções européias.

Copa Sul-Americana, 2006: o Pachuca, do México, havia empatado o primeiro jogo da final da competição com o chileno Colo-Colo por 1 x 1, em casa. Com esse resultado, o time do Chile precisava de apenas um empate no seu estádio lotado por 60.000 torcedores fanáticos. Saiu ganhando por 1 x 0, mas tomou a virada no segundo tempo e deixou o título, que já era certo, escapar das suas mãos.

Campeonato Argentino, 2006: o Boca Juniors, time mais vencedor da América Latina, precisa fazer apenas um ponto em três jogos para se sagrar tricampeão argentino (tricampeão mesmo, tres vezes seguidas). Não é que ele conseguiu perder OS TRÊS jogos, dois de virada, e deixou o título para o azarão Estudiantes de la Plata, que não ganhava um título argentino há 23 anos.

Pois bem, mesmo com todos esses antecedentes (alguns recentes, outros antigos) e muitos outros, os sabichões do futebol pregavam aos quatro ventos durante toda a semana passada que o Inter iria perder do Barcelona, talvez tomar uma goleada. Enfim, apenas um milagre faria com que os gaúchos levassem a taça de melhor do mundo. Tudo isso baseado em quê? No fato de o Inter ter vencido com dificuldades o bem mediano Al-Ahli, do Egito, e de o Barcelona ter atropelado o América do México com uma exibição de gala de Ronaldinho Gaúcho e companhia.

Vejam bem, apenas dois jogos (um de cada time) foram suficientes para gerar a teoria futebolística de que o Inter, que - é importante deixar bem claro - nunca havia enfrentado o Barcelona, era infinitamente inferior ao time catalão. Mais uma vez os deuses do futebol provaram que é dentro do campo, depois dos 90 minutos, que se descobre quem é o melhor. O melhor time no papel, o favorito, nem sempre é quem vai ganhar a partida. Para os que apostavam antes do jogo começar que o Inter certamente iria sair derrotado, uma lição, que parece óbvia: ganha quem faz mais gols. Simples assim. E faz mais gols quem joga MELHOR, e não mais bonito. E jogar melhor é, tal qual em um jogo de xadrez, saber anular o jogo do adversário e impor o seu. E o Inter fez exatamente isso. Por isso venceu o jogo. Mas só seria possível saber disso depois do jogo.

Por isso o futebol é o que é. Não que os outros esportes não tenham "zebras" ou resultados improváveis; mas nisso o futebol é muito mais rico. Para se ter uma idéia, os italianos já se referem ao vôlei masculino como "o esporte que tem seis jogadores de cada lado, uma rede no meio e que o Brasil sempre vence". No futebol, isso jamais vai acontecer. Se as pessoas se lembrarem sempre disso evitarão exercícios fúteis de futurologia futebolística e quem sabe até respeitarão os dois times que entrarem em campo, sem pré-conceitos.

Essa é a homenagem desse blog ao atual MELHOR TIME DO MUNDO


6 comentários:

luciano disse...

Já diria o ditado: O futebol é uma caixinha de surpresas. Nem precisa dos exemplos internacionais. Basta lembrar jogos pessoalmente vividos e/ou jogados pra ver q não é o nome do time/jogador que faz o placar.
Mas discordo, justamente por isso, da tua última afirmação: melhor time do mundo. É um dos grandes, sem dúvida alguma, no mesmo nível do barça, do real madri e da inter. não há dúvidas. Mas o melhor, acho difícil dizer. o que resolveu o placar não foi ser um melhor ou pior - ambos são muitos bons -, mas foi questão de acontecimento. muito bem a última falta do ronaldinho podia ter ido 20 cm pra direita. e se o barça vencesse, num desses acasos, o inter seria pior que ele? acho q não. O resultado pode mostrar que o inter tem uma puta estrutura, é um dentro do grupo dos melhores: o mais nobre entre os nobres. mas o absolutamente melhor, sei não. Não é rixa de gremista, mas questão de conceito.
Existem os melhores, mas não o melhor.

Kleiton disse...

Pois é, cara, é a única ressalva que eu faço no teu post, que a (o?) Lu já fez: o futebol é, decididamente, uma coisa de MOMENTO. Naquele domingo, o nobre rival estava em um momento melhor que o Barcelona. E tudo bem que dois jogos não são suficientes para se criar uma teoria, mas o teu time não jogou quase nada contra o Al Ahly, e o Barça massacrou o América. Se os dois times repetissem as suas atuações anteriores, o Braça ganhava.

E o favoritismo do Barça não tem só a ver com o jogo contra o América. Tem a ver também com o fato de que, mesmo com Eto'o, Messi e Saviola machucados, ele ainda tem Ronaldinho, Giuly, Deco, Zambrotta, enfim, uma quantidade grande de bons jogadores. E um bom técnico. O Barça tinha (e tem) mais time que o Inter.

Mas bem como tu disse, futebol se ganha no campo, e não no papel.

Infelizmente, nesse momento =D

Rodrigo disse...

Outro exemplo de zebra foi a final do Gauchão desse ano! O Inter era o favoritaço e quem levou a taça foi o GRÊMIO!!!
"Vocês podem ser campeões do mundo, mas no Rio Grande quem manda somos nós!" Esta frase, dita pelos gremistas hoje, foi dita pelos colorados em 1983...

Abraços tricolores

Anônimo disse...

Bem, com relação a ser melhor, discordo dos outros dois pq ser melhor é o time que se posta melhor em campo e não o q tem os melhores jogadores...o time melhor é o q anula as melhores jogadas do oponente e usa de suas fraquesas pra alcançar a vitória, ou seja, o inter é o melhor time do mundo pq venceu um torneio onde estávam os melhores de cada continente...o barcelona é o melhor time da europa e o inter venceu o melhor de todos da europa...que por critérios de competição decidiram um título onde estávam os melhores do planeta!!! O inter como venceder é o melhor clube d futebol do planeta e isso é inquestionável em qualquer aspecto!
Quanto ao gaúchão...o grêmio foi campeão por conta de um regulamento que não premia o melhor de todo o campeonato...ou seja, o time invicto!! que é o inter. Mas sim o grêmio, que perdeu ao longo do campeonato e não ganhou do inter...ficou com a taça mas não nos superou...
Abraço...Falooooooooow.

Kleiton disse...

Quanto ao gaúchão, se não concordam com o regulamento, não participem do campeonato.

Anônimo disse...

Faltou a Hungria de 54 (dizem que se o Maracanazo foi uma tragédia, a derrota da Hungria foi um cataclismo) e a Holanda de 74 (que seleção chata essa da Alemanha, sempre cortando as asas dos times geniais).

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