Turistas, Brasil e nacionalismo
O brasileiro é bem conhecido por ser um povo meio relapso em relação a ser nacionalista. Já houve épocas em que o nacionalismo foi um pouco mais forte por aqui, mas de modo geral a gente gosta é da grama do vizinho, que é bem mais verde mesmo. Exemplos disso não faltam, mas o que eu mais gosto é o teste do hino nacional: quantas pessoas sabem cantar TODO o hino?
Porém, nos últimos anos, de tempos em tempos os brasileiros vêm tendo o seu nacionalismo exacerbado quando acham que são menosprezados ou ridicularizados por alguém de fora. O caso recente mais conhecido foi o de um episódio dos Simpsons em que a família vinha para um Brasil cheio de animais selvagens, assaltantes e favelas(?). E agora tem mais um caso desses causando polêmica: o do filme Turistas.
Com estréia prevista nos EUA para o dia 10 de dezembro e para o início do ano que vem no Brasil, Turistas conta a história de alguns turistas norte-americanos que vêm ao Brasil para umas férias. Aqui, são surpreendidos pelo golpe do “boa noite Cinderela”, seqüestrados, torturados e têm os órgãos roubados por uma quadrilha de venda de órgãos no câmbio negro. Enfim, é uma cópia escancarada de Albergue, filme de Eli Roth que foi adotado pelo Quentin Tarantino, só mudando o local e alguns detalhes aqui e ali – além do orçamento, infinitamente menor.
A Embratur ficou revoltada com o roteiro do filme, que supostamente denigre a imagem do país. Turistas tem até site, no qual expõe notícias de violências ocorridas no Brasil e outras coisas para promovê-lo. Tá, a Embratur encher o saco por causa disso é até natural. Afinal, é um órgão público nacional, é seu dever – acho que é. Mesmo assim, não concordo com esse pseudo-ufanismo, mas...
Mas agora está rolando na Internet um e-mail pedindo para boicotar o dito filme, “uma produção que só visa denegrir nossa imagem”. A mensagem segue adiante: “Só para se ter uma idéia, o trailer começa com a frase: ‘Num país onde vale tudo, tudo pode acontecer!!!’”.
Ora, qual é a imagem do Brasil para os gringos, senão a de um país em que vale tudo mesmo? Aliás, essa não é a imagem que a maioria tem dos brasileiros tem daqui? Quais são as notícias que os estrangeiros recebem sobre o nosso país? Ah, deixe-me ver: carnaval (como sinônimo de putaria – ou seja, vale-tudo), ataques organizados do PCC, uma organização para-estatal, em São Paulo (ou seja, vale-tudo), corrupção generalizada em todos os níveis da sociedade, particularmente entre políticos (ou seja, vale-tudo), impunidade em casos envolvendo membros da nossa elite (ou seja, vale-tudo) e esportes (futebol com Ronaldinho Gaúcho, vôlei com a nossa seleção e – adivinhem – Vale-tudo com os Grace!!!). Além disso, para quem não sabe, o Brasil é altamente recomendado pelos pedófilos europeus e americanos como lugar para tirar férias. Afinal, por aqui se consegue garotas de nove, dez anos, facinho, pelos puteiros da vida – mais uma vez, vale-tudo.
Alguma mentira nisso tudo aí em cima? Não, né? Tudo bem que todos os países têm problemas, mas vejam que não é essa a questão, e sim a de estarem maculando nossa imagem!
Percebam, isso acontece porque falam do Brasil, e falam de maneira rasteira, genérica e, por que não dizer, mentirosa. Mas a coisa mais normal do mundo é generalizar algo no qual não se tem conhecimento! Ou nós, brasileiros, quando vemos uma pessoa de olhos fechadinhos não nos referimos a ela como "japonesa", e se alguém diz que é chinesa a gente não responde algo do tipo "ah, é tudo igual"? A mesma coisa com árabes, com índios...
Quando O Albergue saiu, nenhum brasileiro se opôs pelo fato de tratarem de esteriótipos típicos do leste europeu - mulheres gostosas sexualmente superativas e loucos sádicos que provavelmente comem criancinhas. Mas mexeu no que é nosso (?), aí a gente fica louco...
Em último lugar, é só um filme, por Deus! Não estou nem chamando de arte, veja bem. Mas é um filme, um filme de ficção. Em nenhum momento ele se auto proclama "o possuidor da verdade sobre o Brasil" ou algo do gênero. Até o site que eles fizeram para promover o filme, e que conta com informações “assustadoras” sobre o Brasil, foi feito apenas para isso - promoção -, e qualquer pessoa com um QI maior do que o de um tomate sabe identificar isso ao visitá-lo. O filme se utiliza de informações correntes sobre um país distante (sim, porque o Brasil é, para os americanos e europeus, um país exótico e distante - assim como o Suriname, nosso vizinho, é para nós) para fazer um filme de ficção. Vejam bem, filmes costumam utilizar informações para criar um roteiro - se é bom ou não, aí é outra questão - nem sempre calcado na realidade. Para citar um exemplo, no filme O Homem Que Copiava, Jorge Furtado se utlizou de locações na Av. Presidente Roosvelt para fazer a loja em que o Lázaro Ramos trabalhava. Daí pegou uma outra loja - que ficava triii longe - para fazer o local em que a sua pretendente trabalhava. Mas, no filme, ele anda poucas quadras do seu trabalho para o dela e já está lá. E aí, qual é o problema? São licenças que os filmes podem ter, desde que não façam isso para promover alguma coisa hedionda – o que não é o caso.
Em suma, parece ser mais o caso de alguém que condena publicamente roubar, mas que rouba também e, quando alguém toca no assunto, se ofende.
5 comentários:
Legal tu ter voltado!
Quero assistir esse filme.
Isso tudo me lembra um texto do antigo blog sobre a nossa ignorância para com outros países. Quando acontece com a gente, o povo pira.
Abraço!
Em primeiro lugar, welcome back (preferi usar o inglês, pq "seja bem-vindo de volta", assim, em português, acho horrível).
Em segundo lugar, discordo de ti em um ponto: saber cantar o hino definitivamente não é um sinal de nacionalismo.
Em terceiro lugar, vale a pena visitar o site do filme para ver dois tipos de comentários:
(1)os de brasileiros indignados, pregando o boicote e xingando os realizadores da obra num inglês parco e primário; e
(2) os de brasileiros que, elevando à 10a potência essa coisa do "a grama do vizinho é mais verde", dizem que querem mais é q o brasil se exploda, que é um país de merda e que todo brasileiro é um idiota - obviamente, eles são uma espécie de brasileiros diferenciada, que provavelmente nasceram no brasil por um reles erro geográfico da cegonha.
Vou assistir a "Turistas" sim, provavelmente para dar algumas gargalhadas - se é um suspense/terror de baixo orçamento, vai ser engraçado paca.
Pior é que recebi um e-mail pedindo o boicote a esse filme! Pensei exatamente a mesma coisa que tu: afinal, não é verdade a idéia de que no Brasil "vale-tudo"? Claro que é! O problema é que nós brasileiros não fazemos nada para mudar isso, nos acostumamos. E aí ficamos indignados quando alguém de fora do país fala a verdade!
estréia valteriana, digo, fenomenal.
esse é nosso nacionalismo estupido criado nas escolas durante os hinos. tens toda a razão. mas não sei se um nacionalismo puro não seria ainda pior
Em uma tarde destas passou um filme com o Chuquenórris na TV... O Exército Libertador Não-sei-o-que Brasileiro sequestrou a 1ª Lady Americana e o Big Hérói foi chamado para resolver a situação. Bem, ele salta de pára-quedas no RJ, em cima de um arranha-céu em Copacabana (ou Ipanema, mata todos os rebeldes (que falavam espanhol)e joga a madame na Baía da Guanabara onde outros mariners aguardavam...
Não sei se a Embratur reclamou alguma coisa, mas é non-sense completamente. Ou não é?
Postar um comentário