E a imprensa continua numa boa...
É mais ou menos assim: alguém é acusado de alguma coisa, qualquer coisa, e daí já sai na imprensa a foto do cara como se ele já fosse o culpado. Já foi assim com o caso da Escola Base, em São Paulo, e recentemente com a decisão do TSE de impugnar as candidaturas daqueles que tivessem casos abertos contra eles - mesmo que não tivessem sido julgados. Ora, cadê o princípio constitucional da presunção da inocência, que diz que todos são inocentes até que se prove o contrário?
Pois bem, aconteceu de novo. Durante as últimas semanas fomos bombardeados com notícias envolvendo a "mãe de Taubaté", que envenenou a filha colocando cocaína em sua mamadeira. A filha, Victoria, morreu, a mãe foi presa, caso encerrado. Tudo por conta de um laudo provisório - eu disse provisório - que examinou um pó branco encontrado na mamadeira e na boca do bebê já sem vida.
Daniele Toledo do Prado, 21 anos, ficou presa por 37 dias - eu disse 37 dias -, nos quais foi brutalmente espancada pelas companheiras de cela - visto que matar o próprio filho é tão hediondo para as presas quanto o estupro é para os presos. Daniele teve a mandíbula quebrada, hematomas pelo corpo e lesões na cabeça, oriundos das pancadas contra as grades da cela. Além disso, teve uma caneta enfiada no ouvido e quebrada lá dentro mesmo, o que a fez perder parte da audição. Nesse dia ela só foi atendida, inconsciente, duas horas depois.
Como se não bastasse, ela e a filha já eram velhas conhecidas daquele hospital. O bebê tinha uma doença desconhecida, tomava até cinco remédios por dia - um deles era o do tal pó branco - e visitou aquele hospital várias vezes. No dia 8 de outubro, com a filha internada, Daniele foi estuprada dentro do hospital. Na delegacia, ela acusou um quintanista de medicina, do corpo de residentes do hospital. Depois da denúncia, médicos do hospital denunciaram ter encontrado um pó branco suspeito no pescoço de Victória. Sem autorização da mãe, foram recolhidas amostras de sangue e de urina da criança. Suspeita: cocaína. O resultado deu negativo. A mãe ainda denuncia que, no momento da última crise da filha, o hospital negligenciou atendimento.
Putz, como é que ninguém, nesses 37 dias em que Daniele ficou presa, teve a capacidade de apurar os fatos descritos no parágrafo anterior? E como é que a imprensa brasileira consegue comprar mais uma vez gato por lebre, acusando injustamente uma pessoa inocente, que acabou tendo sua vida transformada para sempre por um "engano" muito conveniente por parte do hospital?
A culpa nesse caso não foi só da imprensa, mas é ela quem repassa a informação ao grande público. Portanto, ela deveria ter mais cuidado ao apurar informações que podem mexer com a vida de outros. O grande serviço que o Cocadaboa fez nos últimos anos foi exatamente nesse sentido: denunciar como a imprensa pesca uma informação e a publica sem ao menos correr atrás para ver sua veracidade ou verossimilhança.
O pior é que a acusação é sempre mostrada em letras garrafais na manchete do jornal. Já a retratação pelo erro é sempre uma nota ao pé da página, com fonte 0,25, se tanto.
Mais aqui.
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