Então, viva o Enem!
Régis Gonzaga (Zero Hora, 12 de julho de 2009)
Quando o ministro da Educação disse que destinaria verbas especiais somente para as universidades que adotassem o Enem para selecionar seus candidatos, fiquei esperando a reação dos professores da Ufrgs, pois intervenções de tal ordem na autonomia universitária só ocorreram durante o Estado Novo e a ditadura militar.
Quando o MEC afirmou que o vestibular era uma prova apenas de “decoreba”, fiquei esperando pela manifestação das centenas de professores da Ufrgs que, no transcurso das últimas quatro décadas (exceção feita a curto período), prepararam incontáveis provas da mais alta competência, lisura e de justa avaliação dos vestibulandos, a tal ponto, que os ex-alunos desta universidade são hoje filósofos, médicos, políticos, administradores, engenheiros, cientistas e profissionais de todos os setores, disputados no mercado e reconhecidos por sua excelente formação.
Quando autoridades educacionais do MEC atacaram o conhecimento, numa fúria irracionalista, propondo uma prova de charadinhas ao invés de conteúdos, fiquei esperando pelo protesto dos doutores da UFRGS que se alçaram pelo culto ao saber, pela ânsia de informação, pelo esforço ilimitado, muitas vezes sacrificando sua vida pessoal, sua família, quando não a própria saúde, para que o conhecimento esclarecesse a realidade física ou espiritual em que todos estamos inseridos.
Fiquei também esperando pela manifestação dos professores de Letras, que durante anos lutaram pela implantação da lista de leituras obrigatórias; dos professores de História, que, com enormes dificuldades, conseguiram colocar elementos da formação rio-grandense nos tópicos do vestibular; dos professores de Engenharia, que só podem trabalhar com alunos que saibam o básico de álgebra, trigonometria, geometria etc.; dos professores de Medicina, que precisam de jovens com fortes noções de genética e fisiologia, e assim por diante.
Dado o silêncio geral, entendi que o ministro tinha razão. Que, ao contrário dos países desenvolvidos, aqui, em nossas escolas, há conhecimento demasiado, saberes inúteis, conteúdos tolos. Entendi que a memorização é um crime, que ter noções universais da ciência, das línguas, da história e da literatura é babaquice burguesa e que decorar a tabuada é uma violência contra pobres seres indefesos. Entendi que os pensadores iluministas (do século 18 ao século 20), que acreditavam na força da ilustração como elemento libertador do homem, eram apenas cavalgaduras face aos novos pedagogos da nação brasileira. Assim, o problema do nosso ensino não são os baixos salários, a ausência de reciclagem e motivação dos professores, as teorias pedagógicas estarrecedoras (e que não foram aplicadas em nenhum país próspero do mundo), a falta de reais e sedutores desafios cognitivos aos alunos etc. etc. etc. Não. O nosso problema é o conhecimento em demasia.
Sendo assim, só nos resta uma saudação: Viva o Enem!
Quando o ministro da Educação disse que destinaria verbas especiais somente para as universidades que adotassem o Enem para selecionar seus candidatos, fiquei esperando a reação dos professores da Ufrgs, pois intervenções de tal ordem na autonomia universitária só ocorreram durante o Estado Novo e a ditadura militar.
Quando o MEC afirmou que o vestibular era uma prova apenas de “decoreba”, fiquei esperando pela manifestação das centenas de professores da Ufrgs que, no transcurso das últimas quatro décadas (exceção feita a curto período), prepararam incontáveis provas da mais alta competência, lisura e de justa avaliação dos vestibulandos, a tal ponto, que os ex-alunos desta universidade são hoje filósofos, médicos, políticos, administradores, engenheiros, cientistas e profissionais de todos os setores, disputados no mercado e reconhecidos por sua excelente formação.
Quando autoridades educacionais do MEC atacaram o conhecimento, numa fúria irracionalista, propondo uma prova de charadinhas ao invés de conteúdos, fiquei esperando pelo protesto dos doutores da UFRGS que se alçaram pelo culto ao saber, pela ânsia de informação, pelo esforço ilimitado, muitas vezes sacrificando sua vida pessoal, sua família, quando não a própria saúde, para que o conhecimento esclarecesse a realidade física ou espiritual em que todos estamos inseridos.
Fiquei também esperando pela manifestação dos professores de Letras, que durante anos lutaram pela implantação da lista de leituras obrigatórias; dos professores de História, que, com enormes dificuldades, conseguiram colocar elementos da formação rio-grandense nos tópicos do vestibular; dos professores de Engenharia, que só podem trabalhar com alunos que saibam o básico de álgebra, trigonometria, geometria etc.; dos professores de Medicina, que precisam de jovens com fortes noções de genética e fisiologia, e assim por diante.
Dado o silêncio geral, entendi que o ministro tinha razão. Que, ao contrário dos países desenvolvidos, aqui, em nossas escolas, há conhecimento demasiado, saberes inúteis, conteúdos tolos. Entendi que a memorização é um crime, que ter noções universais da ciência, das línguas, da história e da literatura é babaquice burguesa e que decorar a tabuada é uma violência contra pobres seres indefesos. Entendi que os pensadores iluministas (do século 18 ao século 20), que acreditavam na força da ilustração como elemento libertador do homem, eram apenas cavalgaduras face aos novos pedagogos da nação brasileira. Assim, o problema do nosso ensino não são os baixos salários, a ausência de reciclagem e motivação dos professores, as teorias pedagógicas estarrecedoras (e que não foram aplicadas em nenhum país próspero do mundo), a falta de reais e sedutores desafios cognitivos aos alunos etc. etc. etc. Não. O nosso problema é o conhecimento em demasia.
Sendo assim, só nos resta uma saudação: Viva o Enem!
2 comentários:
O texto caiu na prova do concurso que fiz domingo e achei bem bom, vale a pena dar uma olhada:
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2504504.xml&template=3898.dwt&edition=12271§ion=1012
Meu, tu estas ironizando o texto ou estás de acordo?!
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