Bizarramente hipócritas
A coisa é bastante óbvia: em Black or White, Michael Jackson fala, também, sobre si mesmo, declarando que não importa se ele era branco e virou negro, ou se era negro e virou branco, porque ainda é quem ele é. Infelizmente, foi uma daquelas mensagens que as pessoas acham bonito na hora mas se esquecem no minuto seguinte, tornando o ato de concordar com as palavras mais importante do que agir de acordo com elas. Qualquer atitude levemente diferente por parte de Michael Jackson era elevada à décima potência, tornando-se o estopim para que todos bradassem, do alto de suas inocências, que Jackson era doente. Que não era humano. A simples acusação de pedofilia já o tornou um pedófilo. Suas músicas foram deixadas de lado, e a pauta era encontrar qualquer coisa que pudesse ser noticiada nos tablóides como bizarra. Mais do que ver alguém chegar ao estrelato, as pessoas gostam de ver uma estrela cair.
No tributo de hoje foi dito publicamente a Michael tudo o que ele gostaria de ter ouvido em vida. Personalidades subiram ao palco e declararam aos quatro ventos que não havia nada errado com Jacko. Os microfones ecoaram palavras bonitas, e de uma hora pra outra todos viraram defensores ferrenhos do artista. Mas com exceção de um ou outro discurso, uma ou outra performance, foi uma cerimônia protocolar. Destemperada. Tudo indica que um palco foi construído às pressas para ser transmitido pela televisão e fazer as pessoas chorarem ao redor do mundo. Mais um show do que um tributo.
Esse trecho está lá no Cataclisma e resume bem o que eu penso sobre o espetáculo necrófilo que aconteceu em torno da morte do Rei do Pop. Michael Jackson foi O cara dentro do que se convencionou (graças e ele e à Madonna, basicamente) chamar de pop. Mas, dentro do que se convencionou chamar de vida, ele foi um coitado. Coitado porque teve que carregar ao longo de sua vida traumas obviamente causados por um pai autoritário e que enxergava nos seus filhos apenas máquinas de fazer dinheiro. Porque, ao ser alçado a um nível de sucesso nunca antes visto - e que, em nossa era de sucesso efêmero, talvez nunca mais seja visto -, teve que enfrentar um mundo em que cada peido seu era noticiado e muitas vezes aumentado. E se, para uma pessoa comum, já é difícil viver de forma "normal" entre tantos traumas e pressões, imagina para a maior celebridade dos anos 80. Sim, porque todos temos nossos problemas, todos temos nossas manias, todos temos nossas extravagâncias. As de Michael obviamente eram maiores do que as da maioria, mas talvez as minhas, as suas, também fossem maiores se tivéssemos o poder e o dinheiro que Michael teve para alimentá-las. Michael Jackson foi um coitado por não saber equilibrar suas extravagências, suas loucuras, com sua fama. Talvez ele acreditasse que as pessoas não fossem hipócritas a ponto de achar que ele era o único que tinha problemas, que ele fosse o único negro a querer ser branco, que ele fosse o único a querer morar em um lugar estranho, construído exatamente do jeito que ele quis, etc.
Entretanto, o que Michael não sabia (ou negava para si) é que o nosso mundo, como o conhecemos hoje, é construído na base da hipocrisia. Enquanto ele era acusado de pedofilia, ninguém falava a respeito do comportamento dos pais das crianças que o acusaram, que largaram deliberadamente seus filhos para dormirem junto com um estranho - muitos já cientes da primeira acusação de pedofilia contra o cantor. Se era realmente um pedófio, não sei. Vocês também não sabem. O que eu sei é o quanto foram hipócritas os meios de comunicação ao transformarem a vida de Michael Jackson em um circo, no que ele mesmo ajudou a aumentar com a coleção de bizarrices que não parecia tentar esconder. E talvez não as escondesse mesmo, justamente por imaginar que todos nós somos seres bizarros. Ou, como diria Caetano, que de perto ninguém é normal. Mas acontece que não somos só bizarros, somos bizarros e bizarramente hipócritas.
Aí esperam ele morrer para fazer todas as homenagens possíveis. Esperam ele morrer para comprar seus discos (depois da sua morte, ele está ocupando os 15 primeiros lugares das vendas de discos da Amazon), tudo o que poderia ter feito ele mais feliz EM VIDA. Ah, tá. Enquanto isso, muita gente ganha dinheiro em cima dele.
Bizarro.
No tributo de hoje foi dito publicamente a Michael tudo o que ele gostaria de ter ouvido em vida. Personalidades subiram ao palco e declararam aos quatro ventos que não havia nada errado com Jacko. Os microfones ecoaram palavras bonitas, e de uma hora pra outra todos viraram defensores ferrenhos do artista. Mas com exceção de um ou outro discurso, uma ou outra performance, foi uma cerimônia protocolar. Destemperada. Tudo indica que um palco foi construído às pressas para ser transmitido pela televisão e fazer as pessoas chorarem ao redor do mundo. Mais um show do que um tributo.
Esse trecho está lá no Cataclisma e resume bem o que eu penso sobre o espetáculo necrófilo que aconteceu em torno da morte do Rei do Pop. Michael Jackson foi O cara dentro do que se convencionou (graças e ele e à Madonna, basicamente) chamar de pop. Mas, dentro do que se convencionou chamar de vida, ele foi um coitado. Coitado porque teve que carregar ao longo de sua vida traumas obviamente causados por um pai autoritário e que enxergava nos seus filhos apenas máquinas de fazer dinheiro. Porque, ao ser alçado a um nível de sucesso nunca antes visto - e que, em nossa era de sucesso efêmero, talvez nunca mais seja visto -, teve que enfrentar um mundo em que cada peido seu era noticiado e muitas vezes aumentado. E se, para uma pessoa comum, já é difícil viver de forma "normal" entre tantos traumas e pressões, imagina para a maior celebridade dos anos 80. Sim, porque todos temos nossos problemas, todos temos nossas manias, todos temos nossas extravagâncias. As de Michael obviamente eram maiores do que as da maioria, mas talvez as minhas, as suas, também fossem maiores se tivéssemos o poder e o dinheiro que Michael teve para alimentá-las. Michael Jackson foi um coitado por não saber equilibrar suas extravagências, suas loucuras, com sua fama. Talvez ele acreditasse que as pessoas não fossem hipócritas a ponto de achar que ele era o único que tinha problemas, que ele fosse o único negro a querer ser branco, que ele fosse o único a querer morar em um lugar estranho, construído exatamente do jeito que ele quis, etc.
Entretanto, o que Michael não sabia (ou negava para si) é que o nosso mundo, como o conhecemos hoje, é construído na base da hipocrisia. Enquanto ele era acusado de pedofilia, ninguém falava a respeito do comportamento dos pais das crianças que o acusaram, que largaram deliberadamente seus filhos para dormirem junto com um estranho - muitos já cientes da primeira acusação de pedofilia contra o cantor. Se era realmente um pedófio, não sei. Vocês também não sabem. O que eu sei é o quanto foram hipócritas os meios de comunicação ao transformarem a vida de Michael Jackson em um circo, no que ele mesmo ajudou a aumentar com a coleção de bizarrices que não parecia tentar esconder. E talvez não as escondesse mesmo, justamente por imaginar que todos nós somos seres bizarros. Ou, como diria Caetano, que de perto ninguém é normal. Mas acontece que não somos só bizarros, somos bizarros e bizarramente hipócritas.
Aí esperam ele morrer para fazer todas as homenagens possíveis. Esperam ele morrer para comprar seus discos (depois da sua morte, ele está ocupando os 15 primeiros lugares das vendas de discos da Amazon), tudo o que poderia ter feito ele mais feliz EM VIDA. Ah, tá. Enquanto isso, muita gente ganha dinheiro em cima dele.
Bizarro.
Um comentário:
Melhor texto. Eu, por ser fã, sempre duvidei das acusações contra ele, e também sempre questionei a intensidade das críticas ao cara ("OH MEU DEUS ELE SAIU COM UMA MASCARA NA RUA ELE É DE MARTE!"), mas entendo quem tenha um ponto de vista diferente - desde que, claro, ainda mantenha tal opinião.
Por isso, senti vergonha alheia ao ver o USHER chorando no palco, sem conseguir mais cantar, e botando a mão no caixão (e deixar o caixão exposto, aliás, foi por si só uma bizarrice). Simplesmente deplorável.
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