26 de jun. de 2007

O Despertar de uma Paixão

O Despertar de uma Paixão é um filme inspirado no romance O Véu Pintado, do britânico Somerset Maugham, que conta uma história interessante do ponto de vista das histórias de amor. Vivendo nos anos 1920, Walter e Kitty Fane formam um casal que está junto por motivos distintos: enquanto ele casou com alguém idealizado, ela o fez apenas para se livrar da sua família. Um tempo depois do casamento, o casal muda-se para a China, onde Kitty trai o marido com Charles Townsend, por quem se apaixona. Walter descobre o adultério e, como vingança, se muda com ela para um vila chinesa que está tomada por uma epidemia de cólera, onde ele trabalhará como médico voluntário. Kitty, depois de ser recusada por Charles, é obrigada a ir junto para evitar o escândalo que viria pelo divórcio. A partir daí, o filme mostra a relação conflituosa do casal em um ambiente hostil, em que a cólera é apenas uma das ameaças; por serem britânicos, os Fane são alvo fácil de retaliação por parte dos chineses nacionalistas que lutavam por independência.

Nos quesitos técnicos, o filme se mostra muito bom. Contando com uma fotografia excelente, auxiliada pela linda natureza do lugar (o plano em que uma parte do vilarejo é mostrada sob raios de Sol é fabuloso), O Despertar de uma Paixão faz um retrato fiel da China dos anos 1920 ainda tomada pelos ingleses. A direção de arte é muito boa, recriando o clima tanto da Inglaterra quanto da China. É interessante perceber a diferença das cores usadas nos diferentes locais do filme: a casa em que o casal Fane mora na China, por exemplo, sempre aparece em tons escuros, quase claustrofóbicos. A montagem do filme é outro ponto positivo: o primeiro ato conta com uma estrutura interessante, pois nos adianta questões futuras sem entregar nada; somos gradativamente informados sobre o que aconteceu no passado para que a situação no presente se desvele para nós. Depois do primeiro ato, a montagem passa a ser mais tradicional, e essa mudança de estilo é feita de maneira natural, sem prejuízo ao andamento da história.

Andamento este que é propositadamente, lento, arrastado. O diretor John Curran optou por fazer um filme contemplativo, em que a câmera parece apenas acompanhar os personagens e suas ações. Aos poucos, conseguimos compreender o âmbito psicológico do casal Fane e até que ponto o amor leva as pessoas a atos extremados: da tentativa de vingança – quase suicida – por parte do sr. Fane à relativa redenção encontrada pelo casal, somos testemunhas de momentos sublimes por parte de Edward Norton e Naomi Watts – dois dos melhores atores da sua geração, sem dúvida alguma. Afinal, Walter idealizou uma pessoa na figura de Kitty, criando expectativas que esta, obviamente, não pôde atender. Já Kitty se apaixona por Charles pois vê nele o homem que Walter, com quem casou apenas para agradar a família e ao mesmo tempo se ver livre dela, não era – nesse sentido, a cena em que Charles descreve para Kitty uma apresentação teatral chinesa é reveladora.

Dos grandes momentos do casal no filme, podemos citar, por exemplo, quando Kitty come a salada não lavada, arriscando a sua vida de maneira kamikase na frente de Walter, que por orgulho decide comer também. Ou quando uma determinada notícia é dada a Walter por sua esposa, em que a interpretação dos dois atores é crucial para o entendimento da profundidade dramática da cena. Os atores coadjuvantes também fazem um trabalho eficiente, tornando o filme mais forte e coeso.

Apesar de tudo isso, O Despertar de uma Paixão não é um filme bom apenas nos quesitos técnicos; sua história, longe de ser um dramalhão que apela para velhos clichês, trata de encarar como amor e ódio levam as pessoas para longe de si mesmas, como fazem com que pessoas tomem certas atitudes sem pensar e, principalmente, como duas pessoas podem se dar bem juntas em determinadas situações; se estivessem em outro momento ou lugar, talvez a relação fosse diferente – para o bem ou para o mal.

FICHA TÉCNICA:

O Despertar de uma Paixão (The Painted Veil) - 2006 - Nota A
Direção: John Curran. Com: Edward Norton e Naomi Watts.

Um comentário:

André disse...

Caraleo, Edward Norton e Naomi Watts? Eu nunca tinha ouvido falar nesse filme.

Assistirei.

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