20 de dez. de 2006

Werther

O período de férias da faculdade é o único em que consigo ler algum livro que não esteja relacionado com meu curso. Quando as férias chegam começo a ler feito louco, basicamente obras de literatura. Estou lendo no momento Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe, e estou pasmo com a poesia contida nele. São parágrafos e mais parágrafos que contam uma triste história sobre o espírito humano, mas com uma poesia absolutamente fantástica. Me delicio a cada página enquanto lembro que o primeiro livro - e um dos únicos - que me deixou com uma sensação parecida foi O Leopardo, de Lampedusa. Bem, fica aí a sugestão de leitura para o final do ano, e aqui um pequeno trecho dessa obra-prima:
Que a vida humana é apenas um sonho outros já disseram, mas também a mim esta idéia persegue por toda a parte. Quando penso nos limites que circunscrevem as ativas e investigativas faculdades humanas; quando vejo que esgotamos todas as nossas forças em satisfazer nossas necessidades, que apenas tendem a prolongar uma existência miserável; quando constato que a tranqüilidade a respeito de certas questões não passa de uma resignação sonhadora, como se a gente tivesse pintado as paredes entre as quais jazemos presos com feições coloridas e perspectivas risonhas - tudo isso, Guilherme, me deixa mudo. Meto-me dentro de mim mesmo e acho aí um mundo! Mas antes em pressentimentos e obscuros desejos que em realidade e ações vivas. E então tudo paira a minha volta, sorrio e sigo a sonhar, penetrando adiante no universo.(...) Quem tem noção de como o inferno se arrasta infatigável pelo caminho, sob seu fardo, interessado apenas em contemplar por um minuto a mais a luz do sol - este, asseguro, também é tranqüilo e, ao construir um mundo dentro de si, é feliz do mesmo jeito por ser humano. E então, por mais limitado que esteja em seus movimentos, ele mantém no coração a doce sensação da liberdade, sabendo que poderá deixar o cárcere quando quiser.

18 de dez. de 2006

Para entender o futebol

Não é preciso refletir por muito tempo para entender porque o futebol é o esporte mais popular do mundo. Ele é simplesmente o mais empolgante pelo simples fato de que de nada adianta ser o favorito; como trata-se de um esporte com poucos "pontos", vários fatores podem fazer com que um time mais fraco vença uma partida.

O problema é que, de tempos em tempos, os seres humanos esquecem certas premissas básicas sobre o funcionamento de algumas coisas. Um bom exemplo disso é o caso do futebol: sempre que tem um jogo entre um grande e um pequeno, tem sempre um monte de gente prevendo goleadas mil e um banho de bola. Isso pode ter acontecido lá nos primórdios do futebol, mas como o Galvão adora dizer, "não existe mais bobo no futebol". Alguns rápidos exemplos que passam pela minha cabeça agora:

O Maracanaço, em 1950: a seleção brasileira era franca favorita contra a seleção uruguaia. Só precisava de um empate e estava ganhando de 1 x 0 até os 21 minutos do segundo tempo, quando tomou uma virada histórica, perdeu de 2 x 1 e calou os mais de 200.000 torcedores brasileiros que estavam no Maracanã.

A tragédia de Sarriá: também com a seleção brasileira, que montara uma seleção aparentemente imbatível, que lembrava a de 1970. Em 5 de julho de 1982, a seleção da Itália, que vinha aos trancos e barrancos naquela Copa, derrotou o Brasil por 3 x 2 em uma partida sensacional.

Eurocopa, 2004: a Grécia, que nunca teve tradição nenhuma no futebol, chegou à copa das seleções da Europa com uma seleção, pra dizer o mínimo, bem comunzinha. Pois foi com ela que chegou ao título inédito da competição, desbancando as toda-poderosas seleções européias.

Copa Sul-Americana, 2006: o Pachuca, do México, havia empatado o primeiro jogo da final da competição com o chileno Colo-Colo por 1 x 1, em casa. Com esse resultado, o time do Chile precisava de apenas um empate no seu estádio lotado por 60.000 torcedores fanáticos. Saiu ganhando por 1 x 0, mas tomou a virada no segundo tempo e deixou o título, que já era certo, escapar das suas mãos.

Campeonato Argentino, 2006: o Boca Juniors, time mais vencedor da América Latina, precisa fazer apenas um ponto em três jogos para se sagrar tricampeão argentino (tricampeão mesmo, tres vezes seguidas). Não é que ele conseguiu perder OS TRÊS jogos, dois de virada, e deixou o título para o azarão Estudiantes de la Plata, que não ganhava um título argentino há 23 anos.

Pois bem, mesmo com todos esses antecedentes (alguns recentes, outros antigos) e muitos outros, os sabichões do futebol pregavam aos quatro ventos durante toda a semana passada que o Inter iria perder do Barcelona, talvez tomar uma goleada. Enfim, apenas um milagre faria com que os gaúchos levassem a taça de melhor do mundo. Tudo isso baseado em quê? No fato de o Inter ter vencido com dificuldades o bem mediano Al-Ahli, do Egito, e de o Barcelona ter atropelado o América do México com uma exibição de gala de Ronaldinho Gaúcho e companhia.

Vejam bem, apenas dois jogos (um de cada time) foram suficientes para gerar a teoria futebolística de que o Inter, que - é importante deixar bem claro - nunca havia enfrentado o Barcelona, era infinitamente inferior ao time catalão. Mais uma vez os deuses do futebol provaram que é dentro do campo, depois dos 90 minutos, que se descobre quem é o melhor. O melhor time no papel, o favorito, nem sempre é quem vai ganhar a partida. Para os que apostavam antes do jogo começar que o Inter certamente iria sair derrotado, uma lição, que parece óbvia: ganha quem faz mais gols. Simples assim. E faz mais gols quem joga MELHOR, e não mais bonito. E jogar melhor é, tal qual em um jogo de xadrez, saber anular o jogo do adversário e impor o seu. E o Inter fez exatamente isso. Por isso venceu o jogo. Mas só seria possível saber disso depois do jogo.

Por isso o futebol é o que é. Não que os outros esportes não tenham "zebras" ou resultados improváveis; mas nisso o futebol é muito mais rico. Para se ter uma idéia, os italianos já se referem ao vôlei masculino como "o esporte que tem seis jogadores de cada lado, uma rede no meio e que o Brasil sempre vence". No futebol, isso jamais vai acontecer. Se as pessoas se lembrarem sempre disso evitarão exercícios fúteis de futurologia futebolística e quem sabe até respeitarão os dois times que entrarem em campo, sem pré-conceitos.

Essa é a homenagem desse blog ao atual MELHOR TIME DO MUNDO


15 de dez. de 2006

A revolução não será televisionada

Graças à maior parte da imprensa brasileira, quase ninguém está sabendo do que se passa atualmente em Oaxaca, no México. Desde maio, quando milhares de pessoas saíram às ruas para apoiar as reivindicações de aumento salarial dos professores, passando pela duvidosa eleição para presidente do México e chegando até o mês de dezembro, tumultos sistemáticos vêm tomando conta do cotidiano local. Porém, quase nada (às vezes nada mesmo) saiu até agora na imprensa do Brasil.

Para entender o que acontece no México atualmente, é preciso voltar um pouco no tempo e enxergar o contexto atual daquele país. A princípio, tudo começou em maio, quando estourou uma greve de professores em Oaxaca. Depois, a Assembléia Popular dos Povos de Oaxaca (APPO), formada por uma grande parcela da população para enfrentar o Estado mexicano, passou a defender a causa dos professores. Ela também iniciou forte apoio à eleição do candidato da esquerda, Andrés Manuel López Obrador, aparentemente derrotado nas eleições de junho. Essa eleição teve como vencedor Felipe Calderón, da direita, por uma diferença de apenas 0,58%, o que gerou especulações de fraude eleitoral. Obrador criou um governo paralelo, com ministros e reuniões próprios e independentes do governo eleito.

Com essa situação o governo de Calderón, que assumiu em dezembro e que é o sucessor do ex-presidente Vicente Fox, perdeu muita credibilidade - e legitimidade - perante a população. A APPO se aproveitou da situação e conseguiu reunir milhares de pessoas para fazer megamarchas por toda Oaxaca, tomando cidades, edifícios públicos, fazendo marchas e barricadas nas ruas da capital. Talvez a maior conquista até agora tenha sido a tomada da sede de uma transmissora do canal Televisa, tão hegemônico para o México quanto o é a Rede Globo para nós.

Essa situação gerou um contra-ataque por parte do governo: Vicente Fox exigiu que a Polícia Federal Preventiva (PFP) usasse de todos os meios para conter os tumultos. É como se hoje Oaxaca estivesse em estado de exceção, no qual as garantias individuais são postas de lado para o controle da população. Dessa maneira, a situação lá é, no mínimo, caótica. São enfrentamentos quase diários pelas ruas, em um clima de verdadeira guerra civil, entre populares e a polícia.

Mas nada disso aparece para nós. Nossa imprensa seletiva faz o favor de deixar bem distante dos brasileiros qualquer notícia que avente que existe a possibilidade de mudança no status quo. Porque o que acontece no México atualmente é muito claro: tem-se uma situação em que não há legitimidade popular do presidente, denúncias de fraude eleitoral e um governo paralelo que em algumas regiões goza de muito mais popularidade do que o governo oficial. Só que tudo isso só está acontecendo por conta da mobilização popular, justamente o que deve ser afastado do pensamento do brasileiro. Sim, porque no Brasil paga-se muito imposto, não se tem acesso a quase nenhum serviço público de qualidade e sustenta-se políticos corruptos com salários astronômicos, mas isso parece não irritar suficientemente a população para que ela exija mudanças. Uma das razões pode ser encontrada na nossa imprensa.

Se alguém duvida que a situação no México esteja tão feia assim para não passar na nossa televisão - eu cheguei a duvidar -, acompanhe aqui boletins diários e aqui e aqui duas mostras dos enfrentamentos entre polícia e povo.

14 de dez. de 2006

E a imprensa continua numa boa...

É mais ou menos assim: alguém é acusado de alguma coisa, qualquer coisa, e daí já sai na imprensa a foto do cara como se ele já fosse o culpado. Já foi assim com o caso da Escola Base, em São Paulo, e recentemente com a decisão do TSE de impugnar as candidaturas daqueles que tivessem casos abertos contra eles - mesmo que não tivessem sido julgados. Ora, cadê o princípio constitucional da presunção da inocência, que diz que todos são inocentes até que se prove o contrário?
Pois bem, aconteceu de novo. Durante as últimas semanas fomos bombardeados com notícias envolvendo a "mãe de Taubaté", que envenenou a filha colocando cocaína em sua mamadeira. A filha, Victoria, morreu, a mãe foi presa, caso encerrado. Tudo por conta de um laudo provisório - eu disse provisório - que examinou um pó branco encontrado na mamadeira e na boca do bebê já sem vida.
Daniele Toledo do Prado, 21 anos, ficou presa por 37 dias - eu disse 37 dias -, nos quais foi brutalmente espancada pelas companheiras de cela - visto que matar o próprio filho é tão hediondo para as presas quanto o estupro é para os presos. Daniele teve a mandíbula quebrada, hematomas pelo corpo e lesões na cabeça, oriundos das pancadas contra as grades da cela. Além disso, teve uma caneta enfiada no ouvido e quebrada lá dentro mesmo, o que a fez perder parte da audição. Nesse dia ela só foi atendida, inconsciente, duas horas depois.
Como se não bastasse, ela e a filha já eram velhas conhecidas daquele hospital. O bebê tinha uma doença desconhecida, tomava até cinco remédios por dia - um deles era o do tal pó branco - e visitou aquele hospital várias vezes. No dia 8 de outubro, com a filha internada, Daniele foi estuprada dentro do hospital. Na delegacia, ela acusou um quintanista de medicina, do corpo de residentes do hospital. Depois da denúncia, médicos do hospital denunciaram ter encontrado um pó branco suspeito no pescoço de Victória. Sem autorização da mãe, foram recolhidas amostras de sangue e de urina da criança. Suspeita: cocaína. O resultado deu negativo. A mãe ainda denuncia que, no momento da última crise da filha, o hospital negligenciou atendimento.
Putz, como é que ninguém, nesses 37 dias em que Daniele ficou presa, teve a capacidade de apurar os fatos descritos no parágrafo anterior? E como é que a imprensa brasileira consegue comprar mais uma vez gato por lebre, acusando injustamente uma pessoa inocente, que acabou tendo sua vida transformada para sempre por um "engano" muito conveniente por parte do hospital?
A culpa nesse caso não foi só da imprensa, mas é ela quem repassa a informação ao grande público. Portanto, ela deveria ter mais cuidado ao apurar informações que podem mexer com a vida de outros. O grande serviço que o Cocadaboa fez nos últimos anos foi exatamente nesse sentido: denunciar como a imprensa pesca uma informação e a publica sem ao menos correr atrás para ver sua veracidade ou verossimilhança.
O pior é que a acusação é sempre mostrada em letras garrafais na manchete do jornal. Já a retratação pelo erro é sempre uma nota ao pé da página, com fonte 0,25, se tanto.
Mais aqui.

12 de dez. de 2006

Crazy World

Filho destrói fotos eróticas e mãe processa

Garoto de 12 anos é preso por abrir presente antes do Natal

Criança vomita e livra mãe de multa de trânsito

Roda-gigante pode atrapalhar sexo de rinocerontes

Sugestão

Essa é para quem gosta de humor nonsense e sem frescuras ou limites: Linha do Trem, blog de quadrinhos do Raphael Salimena, conta com tirinhas diárias que versam sobre um pouco de tudo, sempre com um humor absolutamente genial. Ele me lembra um pouco o Nicholas Gurewitch, do Perry Bible, mas é óbvio que imprime um estilo próprio e único. Para ilustrar o que está escrito aí em cima, segue uma pequena amostra:

Título: Sobre a importância da atividade física para o desenvolvimento infantil

11 de dez. de 2006

Pinochet e o problema da História

E morreu mais um ditador da América Latina. Augusto José Ramón Pinochet Ugarte faleceu ontem, aos 91 anos de idade, de ataque cardíaco. Deixa um legado dividido: mais ou menos metade das pessoas lembrará dele como o salvador do Chile, o homem que colocou o país no rumo do progresso e da prosperidade econômica; outra metade se recordará de Pinochet como um dos mais sanguinários ditadores que a América Latina conheceu.

Essa dualidade não é exclusiva só no caso de Pinochet - basta mencionar a nossa ditadura, que gera tantas interpretações díspares. Ela se calca em duas premissas básicas:

- a primeira diz respeito aos resultados práticos, ou seja, o que foi conseguido pelo regime do ditador, não importando o que foi feito durante o processo - em uma categoria maquiavélica de pensamento, na qual os fins justificam todos os meios -, ou o inverso: todos os horrores cometidos para tão pouco conseguido, em uma visão mais, digamos, humanitária;

- a segunda aponta na direção da dicotomia socialismo x capitalismo, tão em voga na época e que ecoa até hoje na sociedade latinoamericana. Isso significa que ou Pinochet foi um herói por ter livrado o Chile - e até certo ponto a América Latina - da ameaça vermelha, ou ele deve ser lembrado como um monstro, patrocinado pelas armas e dólares americanos em uma conspiração contra o socialismo.

Pois bem, o grande problema da História é esse aí mesmo: essas visões contraditórias - e ao mesmo tempo tão ricas em argumentação - sobre o mesmo tema, que nunca encerram a discussão. É como se não houvesse um lado certo, mas sim apenas ângulos diferentes. E isso acontece tanto na história recente quanto na história mais, ãh, velha.

Por um lado, na História do Tempo Presente as visões contraditórias aparecem claramente de acordo com a visão de mundo e a idelogia que cada um possui, inflamando a discussão de maneira apaixonada e claramente tendenciosa. Por outro lado, quanto mais se recua no tempo, mais fácil é escrever qualquer besteira que anule o que foi escrito anteriormente sobre determinado assunto, visto que sempre tem meia dúzia para acreditar nelas - e os revisionistas do Holocausto estão aí para não me deixar mentir.

E no final, o que sobra é a versão vencedora. É aquela que, literalmente, entrará para a História. Será ensinada para as crianças e adolescentes em sala de aula, será transmitida em inúmeros documentários de televisão e passará de boca a boca através dos tempos para inúmeras gerações, passada como a verdade tal qual ela ocorreu. E aí, como Pinochet entrará para a História? (continua...)

8 de dez. de 2006

Ainda sobre Turistas

Navegando por aí, encontrei no Jacaré Banguela as seguintes notícias relacionadas com turistas no Brasil:

Empresários chineses são assaltados na Lagoa

Turista japonesa é esfaqueada e atropelada no Rio

Português é morto por ladrão na Praia de Copacabana

Francesa é esfaqueada no Rio durante assalto

Percebam que todas as notícias são de agosto para cá...

7 de dez. de 2006

Turistas, Brasil e nacionalismo

O brasileiro é bem conhecido por ser um povo meio relapso em relação a ser nacionalista. Já houve épocas em que o nacionalismo foi um pouco mais forte por aqui, mas de modo geral a gente gosta é da grama do vizinho, que é bem mais verde mesmo. Exemplos disso não faltam, mas o que eu mais gosto é o teste do hino nacional: quantas pessoas sabem cantar TODO o hino?

Porém, nos últimos anos, de tempos em tempos os brasileiros vêm tendo o seu nacionalismo exacerbado quando acham que são menosprezados ou ridicularizados por alguém de fora. O caso recente mais conhecido foi o de um episódio dos Simpsons em que a família vinha para um Brasil cheio de animais selvagens, assaltantes e favelas(?). E agora tem mais um caso desses causando polêmica: o do filme Turistas.

Com estréia prevista nos EUA para o dia 10 de dezembro e para o início do ano que vem no Brasil, Turistas conta a história de alguns turistas norte-americanos que vêm ao Brasil para umas férias. Aqui, são surpreendidos pelo golpe do “boa noite Cinderela”, seqüestrados, torturados e têm os órgãos roubados por uma quadrilha de venda de órgãos no câmbio negro. Enfim, é uma cópia escancarada de Albergue, filme de Eli Roth que foi adotado pelo Quentin Tarantino, só mudando o local e alguns detalhes aqui e ali – além do orçamento, infinitamente menor.

A Embratur ficou revoltada com o roteiro do filme, que supostamente denigre a imagem do país. Turistas tem até site, no qual expõe notícias de violências ocorridas no Brasil e outras coisas para promovê-lo. Tá, a Embratur encher o saco por causa disso é até natural. Afinal, é um órgão público nacional, é seu dever – acho que é. Mesmo assim, não concordo com esse pseudo-ufanismo, mas...

Mas agora está rolando na Internet um e-mail pedindo para boicotar o dito filme, “uma produção que só visa denegrir nossa imagem”. A mensagem segue adiante: “Só para se ter uma idéia, o trailer começa com a frase: ‘Num país onde vale tudo, tudo pode acontecer!!!’”.

Ora, qual é a imagem do Brasil para os gringos, senão a de um país em que vale tudo mesmo? Aliás, essa não é a imagem que a maioria tem dos brasileiros tem daqui? Quais são as notícias que os estrangeiros recebem sobre o nosso país? Ah, deixe-me ver: carnaval (como sinônimo de putaria – ou seja, vale-tudo), ataques organizados do PCC, uma organização para-estatal, em São Paulo (ou seja, vale-tudo), corrupção generalizada em todos os níveis da sociedade, particularmente entre políticos (ou seja, vale-tudo), impunidade em casos envolvendo membros da nossa elite (ou seja, vale-tudo) e esportes (futebol com Ronaldinho Gaúcho, vôlei com a nossa seleção e – adivinhem – Vale-tudo com os Grace!!!). Além disso, para quem não sabe, o Brasil é altamente recomendado pelos pedófilos europeus e americanos como lugar para tirar férias. Afinal, por aqui se consegue garotas de nove, dez anos, facinho, pelos puteiros da vida – mais uma vez, vale-tudo.

Alguma mentira nisso tudo aí em cima? Não, né? Tudo bem que todos os países têm problemas, mas vejam que não é essa a questão, e sim a de estarem maculando nossa imagem!

Percebam, isso acontece porque falam do Brasil, e falam de maneira rasteira, genérica e, por que não dizer, mentirosa. Mas a coisa mais normal do mundo é generalizar algo no qual não se tem conhecimento! Ou nós, brasileiros, quando vemos uma pessoa de olhos fechadinhos não nos referimos a ela como "japonesa", e se alguém diz que é chinesa a gente não responde algo do tipo "ah, é tudo igual"? A mesma coisa com árabes, com índios...

Quando O Albergue saiu, nenhum brasileiro se opôs pelo fato de tratarem de esteriótipos típicos do leste europeu - mulheres gostosas sexualmente superativas e loucos sádicos que provavelmente comem criancinhas. Mas mexeu no que é nosso (?), aí a gente fica louco...
Em último lugar, é só um filme, por Deus! Não estou nem chamando de arte, veja bem. Mas é um filme, um filme de ficção. Em nenhum momento ele se auto proclama "o possuidor da verdade sobre o Brasil" ou algo do gênero. Até o site que eles fizeram para promover o filme, e que conta com informações “assustadoras” sobre o Brasil, foi feito apenas para isso - promoção -, e qualquer pessoa com um QI maior do que o de um tomate sabe identificar isso ao visitá-lo. O filme se utiliza de informações correntes sobre um país distante (sim, porque o Brasil é, para os americanos e europeus, um país exótico e distante - assim como o Suriname, nosso vizinho, é para nós) para fazer um filme de ficção. Vejam bem, filmes costumam utilizar informações para criar um roteiro - se é bom ou não, aí é outra questão - nem sempre calcado na realidade. Para citar um exemplo, no filme O Homem Que Copiava, Jorge Furtado se utlizou de locações na Av. Presidente Roosvelt para fazer a loja em que o Lázaro Ramos trabalhava. Daí pegou uma outra loja - que ficava triii longe - para fazer o local em que a sua pretendente trabalhava. Mas, no filme, ele anda poucas quadras do seu trabalho para o dela e já está lá. E aí, qual é o problema? São licenças que os filmes podem ter, desde que não façam isso para promover alguma coisa hedionda – o que não é o caso.

Em suma, parece ser mais o caso de alguém que condena publicamente roubar, mas que rouba também e, quando alguém toca no assunto, se ofende.

Voltei!!

Atendendo a pedidos (poucos), estou de volta. Após alguns meses de muita correria (dois empregos, faculdade, etc.), finalmente me sinto seguro o suficiente para manter um blog minimamente atualizado.

Para quem já conhece a versão antiga, digo que essa versão vai manter mais ou menos o mesmo nível. Para quem não conheceu, bem vindo!

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