Rapa Nui e uma metáfora para a Humanidade
Rapa Nui é o nome que os polinésios dão à Ilha de Páscoa (nome europeu), descoberta pelos europeus em 1772 e que ainda hoje maravilha muita gente pelas suas impressionantes estátuas de pedra, os gigantescos Moai. Considerado o pedaço de terra mais isolado do mundo, Rapa Nui também era chamada pelos nativos de Te-Pito-Te-Henua, ou “Umbigo do Mundo”.
Não, eu não vou falar sobre quem construiu os Moai, se foram os polinésios, os incas, os extraterrestres ou sei lá quem. Prefiro me concentrar no que os arqueólogos acreditam que tenha acontecido com a população local antes da chegada do primeiro explorador europeu, o capitão Jakob Roggeveen, e como esse acontecimento pode nos fornecer uma valiosa metáfora para os dias de hoje.
Segundo estudos de pólen, lá pelo século V (data da possível chegada dos primeiros habitantes da ilha) havia uma grande floresta que cobria quase toda a ilha. Porém, quando da chegada dos europeus, no século XVIII, Rapa Nui estava completamente desmatada, à exceção de algumas poucas árvores esparsas. O que teria acontecido?
A madeira era utilizada para quase tudo, da cozinha à construção de barcos e casas, passando pela confecção de roupas. Enquanto houve abundância de madeira a população da Ilha de Páscoa cresceu e prosperou. O problema é que o desmatamento na ilha era feito numa taxa maior do que o crescimento de novas árvores, e não demorou para que começasse uma escassez de madeira na região. Com ela, não havia como construir novas casas e a questão da moradia virou um problema, pois não havia caverna para todos; pescar também se tornou uma atividade rara, já que as redes de pesca também eram feitas com madeira, e isso fez com que o frango se tornasse praticamente a única fonte de alimento, defendido a unhas e dentes dos saques que se tornavam cada vez mais freqüentes (até, finalmente, começarem com a prática do canibalismo); construir barcos para tentar encontrar outro lugar para morar (no caso, somente a milhares de quilômetros dali) também era complicado, visto que demandava muita madeira. Como dá para notar, a outrora civilização próspera que, entre outras conquistas, construiu e transportou os Moai (se não dermos bola para as teorias de ajuda externa - ou extraterrestre) agora estava ruindo e assistia a barbárie tomar seu lugar. Prisioneiro da sua própria ilha – que ajudou a construir e destruir –, o povo de Rapa Nui foi reduzido de uma população de cerca de 10000 pessoas para poucas centenas quando da chegada dos europeus.
A interessante metáfora que pode ser lida aqui é que, assim como eles, hoje em dia nós também vivemos em nossa própria “ilha”, dispondo de uma quantidade limitada de recursos naturais que ano após ano torna-se cada vez menor. Tal qual os antigos habitantes daquela ilha, não temos para onde fugir; apesar de algumas idéias insanas de nos mudarmos para outro planeta, a verdade é que estamos tão presos no planeta Terra como eles estavam na Ilha de Páscoa. Será que a Humanidade pode tirar alguma lição do fracasso do povo de Rapa Nui e pensar em uma maneira de deixar de ser tão predadora dos meios naturais existentes? Afinal, a cada dia somos bombardeados com notícias de que vários recursos primordiais estão acabando (pra citar o principal, a água) e que o aumento do calor no planeta está diretamente ligado com ações humanas como o desmatamento desenfreado e a poluição. Em todo caso, está na hora de ações mais incisivas por parte da Humanidade para que a história do povo de Rapa Nui permaneça apenas como uma inocente metáfora.
3 comentários:
Bela metáfora, mesmo. O problema é que as pessoas só se dão conta das coisas depois que a merda já aconteceu.
Ótimo post! Vou recomendar a leitura lá no Cão.
Abraços
O que farei para ajudar será comprar uma cadeira de praia, pra não cansar esperando que a "Humanidade" pare pra pensar.
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