14 de set. de 2007

Economic Shock Treatment

"Only a crisis actual or perceived produces real change" (Somente uma crise atual ou percebida produz mudança real).
Milton Friedman

A escritora, jornalista e ativista política Naomi Klein está prestes a lançar "The Shock Doutrine: The Rise of Disaster Capitalism" (A Doutrina de Choque: O Nascimento do Capitalismo de Desastre). Nele, a autora estabelece um paralelo entre os supostos benefícios do tratamento com eletrochoque em doentes mentais, que muitos médicos adoravam e que a CIA se utilizou para interrogar suspeitos, e as idéias do economista norte-americano Milton Friedman, um dos grandes ideólogos do neoliberalismo. Friedman foi um dos responsáveis pelo sucesso neoliberal de governos como os de Thatcher e Reagan, que fizeram a festa das elites econômicas em troca de um severo arrocho para as classes mais baixas da população. Os médicos viram que os pacientes psiquiátricos, após levarem um bom choque, ficam com um comportamento mais "infantil", ficando mais suscetíveis às ordens médicas. O pessoal da CIA percebeu que as pessoas, depois de torturadas, costumam ficar em choque, o que as torna mais vulneráveis a aceitar ordens (como por exemplo, a abrir o bico). E parece que isso não serve só para indivíduos, mas também para sociedades.

Segundo a teoria da autora, os melhores momentos para os governos implementarem práticas políticas que servirão apenas a poucos ricos seriam aqueles em que existe uma forte crise perceptível; então, a sociedade estaria em uma situação de choque tão grande que levaria tempo para se recuperar. Durante esse tempo de recuperação, estaria pronto o cenário para que os governos pusessem em prática quaisquer medidas mais ou menos embasadas sob o véu de reformas necessárias ou algo que o valha, mas que na verdade só beneficiam uma elite. Friedman chamou sua teoria de Economic Shock Treatment (Tratamento de Choque Econômico, mas Klein prefere chamá-la de The Shock Doutrine (A Doutrina do Choque).

É o que vem acontecendo atualmente nos EUA, por exemplo; desde o atentado às torres gêmeas, o governo Bush pôde, através de uma ação baseada no terror coletivo em que a população americana se enfiou, implantar uma série de políticas que, ao mesmo tempo em que restringiram a liberdade e os direitos dos cidadãos, estabeleceram lucros enormes a poucos sortudos amigos (inclusive a sua família e o vice-presidente Dick Cheney), através do que a autora chama de "a maior guerra de privatização" no Iraque. E não são poucos os cidadãos americanos que apóiam o seu presidente. No fim, autora alerta: "Information is shock resistance. Arm Yourself" (Informação é resistência ao choque. Arme-se.).

Por que estou escrevendo sobre isso? Em primeiro lugar, porque esse é mais um livro que eu quero ler (já são tantos que eu nem sei o que fazer...). Em segundo lugar, porque vou escrever nos próximos dias um post sobre as minhas primeiras experiências em sala de aula e vou acabar retornando a esse assunto (parece que não tem a ver, mas acredito que existe uma grande relação entre os assuntos).

Como prévia, fiquem com um curta metragem produzido e escrito pela autora e por Alfonso Cuarón (aquele do excepcional Filhos da Esperança) e dirigido pelo filho do cara, sobre o livro. Ele está em inglês, mas mesmo quem não entende vai ter uma boa idéia do que se trata.


6 comentários:

Paula Carolinny disse...

opa!!!

mais um livro para ler... uhhhhh mt bom...
recomendo uns bons tbm... pelo jeito esse é mui bom...


bjs

Kleiton disse...

"os melhores momentos para os governos implementarem práticas políticas que servirão apenas a poucos ricos seriam aqueles em que existe uma forte crise perceptível; então, a sociedade estaria em uma situação de choque tão grande que levaria tempo para se recuperar"

A situação de choque gera uma expectativa tão grande por mudança que, como tu falou, qualquer medida "mais ou menos embasada" já chega como salvação.

Foi desse jeito, por exemplo, que os militares chegaram ao poder em 1964 aqui no Brasil - a suposta "ameaça vermelha".

Anônimo disse...

Não, meu, tem tudo a ver.

Anônimo disse...

Após ler a ativista econômica, recomendo fortemente a leitura do Friedman. "Liberdade de escolher", em especial. É bom pra fugir um pouco do estereótipo acerca do liberalismo fabricado em salas de aula e repetido mecanicamente por uma massa que se orgulha de ser tão politizada...

Governos totalitários não-liberais também se aproveitam de situações de total desespero social pra surgirem como "paizões" do povo, prontos pra "fazer a festa do povão". Uma pena que a autora tenha focado seu livro apenas naqueles governos que lhe desagradam ideologicamente, e não naqueles que optam por serem avessos às liberdades individuais.

André disse...

Tinha visto o curta no blog do Pablo Villaça.

Sobre o livro: também está na minha lista.

Anônimo disse...

A Nova Fronteira lançará em abril a tradução. E possivelmente a autora virá para o Brasil para divulgar o livro.

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