Political Compass
Dias atrás, recebi por e-mail do Rodrigo um teste muito interessante a respeito de um assunto que estou há tempos querendo escrever por aqui: posicionamento esquerda/direita. Esse assunto (direita e esquerda) há algum tempo é algo confuso; para mim, ele soa meio "datado", não no sentido do Fukuyama de que a História acabou, mas sim pelo fato de que essa dicotomia talvez tenha se tornado simplista demais perante a complexidade que o século XX ofereceu.
Exemplificando, o que o Partido dos Trabalhadores é, atualmente? Esquerda? Se sim, o que o define como tal? Se não, o que o exclui disso? Nesse exemplo, parecem existir elementos suficientes para corroborar as duas respostas, o que pode nos levar a sugerir uma terceira: o PT é de centro. Isso, por sua vez, nos leva a mais questionamentos em relação às características desse "centro", que parece bem mais uma tentativa de explicação de quem não sabe direito do que está falando do que qualquer outra coisa. Complicado, não?
Enfim, isso me leva ao teste. Ele adiciona um eixo ao padrão "esquerda/direita", que é o "conservador/liberal", sendo o primeiro um eixo basicamente econômico e, o segundo, social. Essa abordagem é muito interessante e adiciona novos elementos à discussão (eu, por exemplo, penso que nem um eixo nem outro deveria ser tão condicionado a uma dimensão específica - no caso, econômica ou social. Afinal, uma pessoa pode ser considerada economicamente conservadora ou liberal de acordo com a sua definição política de esquerda ou direita - que por sua vez está condicionada também por padrões sociais, como ajuda aos mais carentes ou ampla confiança nas grandes corporações, etc. Se o que está nesses parênteses está muito confuso, juro que tento explicar melhor em outra postagem). Mas divago. Gostei tanto dos textos que antecedem o teste e o seu resultado que resolvi traduzi-los, pois tem muitas coisas com as quais concordo. A seguir, o texto. No final, o link para o teste em espanhol e em inglês. Se você o fizer, por favor coloque o resultado nos comentários, como curiosidade mórbida. Ah, em tempo: o meu resultado foi -5,50 no eixo econômico e -7,23 no eixo social.
"Existem muitas evidências disso [a necessidade de mais um eixo]. As velhas categorias unidimensionais de "direita" e "esquerda", estabelecidas de acordo com o arranjo da Assembléia Nacional da França de 1789, são simplistas demais para a complexidade do quadro político atual. Por exemplo, quem são os "conservadores" na Rússia atualmente? Seriam os ultrapassados stalinistas ou os reformadores que adotaram visões de direita dos conservadores como Margaret Thachter?
Na escala padrão esquerda-direita, como se distingue esquerdistas como Stalin e Gandhi? É insuficiente dizer que Stalin era simplesmente "mais à esquerda" que Gandhi. Existem diferenças políticas fundamentais entre eles que as velhas categorias não conseguem explicar. Da mesma forma, geralmente descrevemos os reacionários sociais como "direitosos", o que deixa reacionários de esquerda como Robert Mugabe e Pol Pot de fora.
SOBRE O COMPASSO POLÍTICO
Na introdução, explicamos as inadequações da linha tradicional esquerda-direita.
Se assumirmos que essa é uma linha essencialmente econômica, então ela é suficiente, dentro dos seus limites. Podemos ver, por exemplo, Stalin, Mao Tse Tung e PolPot, com seu compromisso com uma economia totalmente controlada, na extrema esquerda. Socialistas como Mahatma Gandhi e Robert Mugabe ocupariam uma posição na esquerda, mas menos extrema. Margaret Thachter estaria bem à direita, porém mais à direita ainda estaria alguém como o General Pinochet, com seu pensamento superextremista de livre mercado.
Isso dá conta da parte econômica, mas a dimensão social também é importante em política. É por isso que o parâmetro esquerda-direita não é plenamente adequado. Então adicionamos outro, abrangendo posições que vão do autoritarismo extremo à liberdade extrema.
Tanto a dimensão econômica quanto a social são fatores importantes para uma análise política apropriada. Ao adicionar a dimensão social, pode-se ver que Stalin foi um autoritário de esquerda (ou seja, o Estado é mais importante do que o indivíduo) e que Gandhi, acreditando no valor supremo de cada indivíduo, é um esquerdista liberal. Enquanto o primeiro envolve coletivismo arbitrário imposto pelo Estado, na esquerda-baixo extrema está o coletivismo voluntário em nível regional, sem o envolvimento do Estado. Centenas de comunidades anarquistas existiram na Espanha durante o período da Guerra Civil Espanhola.
Você também pode colocar Pinochet, que foi preparado para sancionar assassinatos em massa para o bem do livre mercado, na extrema direta e também na posição mais autoritária. No lado não-socialista você pode distinguir alguém como Milton Friedman, que é anti-Estado mais por questões fiscais do que sociais, de Hitler, que queria fazer um Estado mais forte, mesmo se para isso metade da humanidade fosse varrida do mapa no processo.
O gráfico também deixa claro que, apesar das percepções populares, a oposição de fascismo não é o comunismo, mas sim o anarquismo (isto é, socialismo liberal), e o oposto de comunismo (isto é, uma economia inteiramente planejada pelo Estado) é o neoliberalismo (isto é, economia não-regulada extrema).
O entendimento usual do anarquismo como uma ideologia de esquerda não leva em conta o "anarquismo" neoliberal encampado por Ayn Rand, Milton Friedman e o Partido Libertário norteamericano, que junta teorias econômicas do darwinismo social de direita com posições liberais para a maioria das questões sociais. Com frequência os seus impulsos liberais param um pouco antes de se oporem a leis fortes e posições de ordem, e são mais econômicos em substância (isto é, sem impostos). Portanto, eles não são tão extremamente liberais como são extremamente de direita. Por outro lado, o coletivismo liberal clássico do anarcossindicalismo (socialismo libertário) está no canto esquerdo inferior.
Em nossa página, desmontamos o mito de que o autoritarismo é necessariamente "de direita", com os exemplos de Robert Mugabe, Pol Pot e Stalin. Da mesma forma, Hitler, em uma escala econômica, não é de extrema direita. Sua política econômica foi amplamente Keynesiana, e à esquerda de alguns partidos trabalhistas de hoje. Se fosse possÌvel colocar Hitler e Stalin para sentar e discutir economia, os dois autoritários teimosos encontrariam uma série de coisas em comum.