28 de mar. de 2008

Religião não praticante (II)

Continuando a série que se iniciou ontem, veremos hoje algumas normas do código religioso da Igreja Católica e como elas NÃO são seguidas por quem as deveria seguir, os que dizem ser católicos.

Para a Igreja Católica – como para várias outras religiões – a castidade é algo a ser mantido até o casamento. Isso quer dizer que TODOS os católicos devem casar virgens. Depois de casado, o bom católico deve manter relações sexuais apenas com fins de procriação – teoricamente, “uma trepada e um nenê”, como diria Mano Changes. Portanto, é proibido o uso de camisinha ou qualquer outro método anticonceptivo. Se esse casto e obediente católico por acaso se arrepender da união matrimonial com sua esposa, não poderá, sob hipótese alguma, pedir divórcio, já que este é proibido.

Bem, acho que não preciso escrever muito para convencer vocês que NADA do parágrafo acima é seguido por grande parte dos religiosos – sempre com a desculpa de ser não praticante. Ora, como vamos ver mais à frente, “religioso não praticante” é uma contradição em termos. Enfim, para a maioria das pessoas o sexo é um ato corriqueiro, necessário e muito prazeroso, o que vai de encontro a absolutamente tudo o que o catolicismo prega. Os métodos anticonceptivos são amplamente utilizados e encorajados por quase todo mundo, não só por causa da gravidez, mas também pelas ameaças da AIDS e de outras doenças sexualmente transmissíveis (também veremos mais sobre isso posteriormente). Já o divórcio é visto com tanta naturalidade pelas pessoas que não vale nem a pena comentar, basta ver os índices de divórcios de casais católicos.

Já que estamos falando de proibições, vamos às regras mais conhecidas do catolicismo, os Dez Mandamentos e os Sete Pecados Capitais. Para quem não lembra, os mandamentos que Deus passou para as tábuas de pedra e entregou a Moisés são:

1 - Adorar a Deus e amá-lo sobre todas as coisas.
2 - Não invocar o Seu santo nome em vão.
3 - Guardar os domingos e festas.
4 - Honrar pai e mãe (e os outros legítimos superiores).
5 - Não matar (nem causar outro dano, no corpo ou na alma, a si mesmo ou ao próximo).
6 - Não pecar contra a castidade (em palavras ou em obras).
7 - Não furtar (nem injustamente reter ou danificar os bens do próximo).
8 - Não levantar falsos testemunhos (nem de qualquer outro modo faltar à verdade ou difamar o próximo)
9 - Não desejar a mulher do próximo.
10 - Não cobiçar as coisas alheias.


Como podemos ver, o único mandamento que pouca gente desobedece é o quinto – e talvez o sétimo também –, e mesmo assim pode-se argumentar que isso se deve ao fato de que existem leis para punir gravemente autor de tal ação. Quanto aos outros mandamentos, conheço inúmeros “católicos” que não cumprem NENHUM dos outros nove (ou oito). Veja bem que, partindo da idéia de obediência incondicional e irrestrita ao código religioso, mesmo que se desobedecesse apenas um já teríamos um pecador, enfim, um católico de meia tigela.

Entre os Pecados Capitais a coisa não é muito diferente. Vejamos a lista da Igreja Católica:

Vaidade;
Inveja;
Ira;
Preguiça;
Avareza;
Gula;
Luxúria.


Nossa, na verdade aqui fica pior. Todos esses pecados fazem, em maior ou menor grau, parte da vida de praticamente todos os católicos (talvez porque façam parte da natureza humana).

Tudo bem, a própria Bíblia admite que todos temos falhas e que iremos pecar uma hora ou outra. Porém, ela também fala no nosso arrependimento perante os pecados, e não em aceitação subjetiva das normas impostas por ela. Uma coisa é eu desejar a mulher do vizinho e me arrepender, me confessar, dizer pra mim mesmo “nunca mais vou fazer isso” e de fato não fazer. Outra coisa é dizer “sou católico não praticante”, desejar a mulher do próximo e pensar que essa norma é uma coisa muito antiga ou coisa que algum ser humano escreveu ou qualquer outra “auto-desculpa” para continuar no pecado. Ou seja, pecar não é o problema, mas sim dizer que eu ajo de determinada maneira (que é pecaminosa na minha religião) porque aquela determinada regra não se aplica a mim.

Depois de alguns exemplos práticos, estamos vendo que as pessoas parecem selecionar, entre as regras do código religioso, aquelas que mais lhes convém. Antes de encerrar por hoje é necessário lembrar que a questão do livre-arbítrio (que parece ser o caso dessa postagem) já foi largamente discutida dentro do catolicismo, tendo Santo Agostinho como expoente de maior destaque. Segundo a Igreja Católica, todo mundo tem o livre-arbítrio, ok. Mas, se tu usa o teu para desobedecer o que Deus disse, tu vai pro Inferno e ponto final. Portanto, ao duvidar das imposições religiosas estamos pecando e não somos verdadeiros cristãos.

Aguardem a terceira parte...

27 de mar. de 2008

Religião não praticante (I)

Antes de começar esse post, quero avisar que a minha intenção não é ofender ninguém. Afinal, religião é um assunto muito delicado, que mexe com fé e paixões e normalmente deixa as pessoas meio exaltadas. Aconselho a ler o que está abaixo com a mente aberta, sem pré-julgamentos. Depois, quero dizer que, quando comecei a escrever sobre o assunto, não esperava que tivesse tanto a dizer. Por isso, vou dividir a leitura em várias postagens (mais uma série para vocês), para torná-la mais interessante. Vou começar hoje falando sobre o que faz de uma pessoa uma religiosa e as contradições existentes na maioria dos brasileiros, que vivem dizendo que são de determinada religião, mas de forma “não praticante”. A maioria dos exemplos que dou aqui é oriunda do catolicismo, mas apenas porque teoricamente o Brasil tem 73,8% de católicos. Evidentemente, o grosso do texto aplica-se a todas as religiões.

O Brasil é considerado o país com o maior número de católicos do mundo. Pelo último censo do IBGE, 73,8% dos brasileiros declararam serem fiéis aos princípios do catolicismo. Muito bonito. Uma nação de católicos, de religiosos. Aproximadamente 140 milhões de pessoas. Lindo. Esses dados, vistos de longe, são realmente impressionantes. Porém, após uma análise mais aprofundada eles não se mostram tão seguros assim.

Antes de mais nada, existe uma questão filosófico-teológica aqui: o que deveria ser necessário, a priori, para um sujeito se considerar pertencente a uma religião? Ora, a primeira exigência que passa pela minha cabeça é a obediência às normas, regras, regulamentos e qualquer que seja o nome dado a um padrão estabelecido que dita o que é certo e o que é errado em uma religião – vamos chamá-lo de agora em diante de “código religioso”. Para mim, essa obediência deve ser incondicional e irrestrita; afinal, esse código religioso normalmente veio à Terra através de um escolhido ou iluminado divino ou do(s) próprio(s) deus(es). Logo, é infalível. E mais: visto que ter fé é acreditar sem ter provas ou evidências que comprovem aquilo em que se acredita, porque duvidar do código religioso, se nos é dito que sua origem é divina?

Isso posto, vamos a alguns fatos do cotidiano que mostram como nossa nação não é assim tão religiosa. Em primeiro lugar, as igrejas estão cada vez mais vazias. É obrigação de todo católico participar pelo menos da missa de domingo, assistir o sermão do padre, comungar com a comunidade e de repente até se confessar, se estiver precisando. A maioria dos católicos nem sabe como funciona uma missa e dentre os poucos que comparecem grande parte não o faz de maneira periódica. Tá, mas na Bíblia não está escrito assim, de modo claro, que a gente deva ir à igreja todos os domingos. Então eu dou esse argumento de lambuja pra quem ainda quer enxergar milhões de católicos no país, porque ele não vai fazer falta. Vamos nos ater ao que a Bíblia e o Papa (que, segundo o catecismo da Igreja Católica, é o “Bispo de Roma e sucessor de apóstolo Pedro, é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade da Igreja. É o vigário de Cristo, cabeça do colégio dos Bispos e pastor de toda a Igreja, sobre a qual, por instituição divina, tem poder pleno, supremo, imediato e universal” nos dizem e vamos avaliar se existe obediência incondicional e irrestrita ao código religioso do catolicismo.

Amanhã tem a segunda parte, não percam e não deixem de comentar – se quiserem.

25 de mar. de 2008

Historinha do dia

"Esquimó: – Se eu não soubesse nada sobre Deus e pecado, eu iria para o inferno?
Missionário: – Não, não se você não soubesse.
Esquimó: – Então por que você me disse?"

Annie Dillard

Visto aqui.

22 de mar. de 2008

Futebol também é teatro...

\o/

Realmente acho que agora as atualizações do blog estão constantes: março é o mês com o maior número de postagens no ano! Tá, ainda não está na média do ano passado, mas eu chego lá.


Sigam prestigiando o Moldura.

20 de mar. de 2008

Apanhado III

Finalmente, do Malvados vem a notícia de que a Nike estaria comprando conteúdo em blogs através de uma empresa de marketing viral. O ruim aqui não é, como alguns inocentes acreditam, o fato de acompanharmos tristemente a “compra” de blogs por grandes corporações; afinal, todo mundo tem o direito de ganhar dinheiro com o que quiser (desde que sem prejuízo a terceiros), ainda mais com o que gosta de fazer (no caso, escrever em um blog). O problema é que, na maioria dos casos, esses blogs escrevem um post por encomenda, normalmente com um link para uma grande empresa, E NÃO AVISAM do caráter publicitário do mesmo. Isso é, para dizer pouco, má fé. Se isso se aplica para blogs de conteúdo de entretenimento, mais grave ainda é vermos esse tipo de prática em blogs de profissionais do jornalismo. Apesar de acompanhar diariamente esse tipo de interferência nos grandes meios de comunicação, me surpreendeu – e entristeceu – ver isso acontecendo entre blogs também. Não sei se eu sou romântico demais, mas acho que eu estava me enganando... Como bem disse o Dahmer, “Façam como eu. A partir de hoje, leiam as notícias dos blogs com a mesma desconfiança com que assistem aos noticiários de TV”. A matéria completa está aqui.

19 de mar. de 2008

Se liga!

A Páscoa está chegando e, se você ainda não comprou os ovos para dar de presente ou comer, se liga nos preços, que chegam a ter diferenças de até 71,15% no mesmo ovo!

Moldura Digital também é serviço de utilidade pública.

O mundo é dos nets

Esse blog nunca foi muito de contar casos pessoais diretamente. Porém, recentemente eu e minha mulher tivemos uma grande dor de cabeça com a NET que pensei em postar por aqui. Refleti um pouco e acabei deixando a idéia de lado. Só que, após ler essas postagens da Lady Clementine , do André e do Érico, decidi mudar de idéia e compartilhar com vocês o horror que é o atendimento da NET. Vamos lá.

Como a maioria de vocês sabe, eu e minha mulher nos mudamos para São Paulo no início do ano. Por questões logísticas, decidimos transferir o plano dela (que incluía NET TV e NET Virtua) para São Paulo, já que não dava para cancelá-lo por causa do plano de fidelidade – por ter NET há menos de um ano, se a cancelássemos teríamos que pagar uma multa. Ela ligou pra NET e agendou a retirada do equipamento. No dia 8 de dezembro, um funcionário retirou o modem e o decodificador da casa dela e disse que era só telefonar pro serviço de atendimento para agendar a instalação em São Paulo. Em 13 de dezembro ela telefonou para lá. A atendente disse que um técnico ligaria para ela em até 48 horas para pegar o endereço e agendar um horário. Passaram-se dois dias e nada. Ela ligou de novo e novamente lhe foi informado que um técnico retornaria em até 48 horas... Passou o tempo e nada. Na terceira ligação, uma novidade: agora o prazo para que o técnico ligasse havia aumentado para cinco dias úteis. Os cinco dias foram embora sem que houvesse um retorno da NET. Chegou então o Natal e o final de ano, então deixamos para ligar novamente em 2008.

Na segunda semana de 2008 eu assumi a responsabilidade de contatar a NET. Então, pude perceber bem como funciona o atendimento dos chamados call centers; em primeiro lugar, uma gravação lhe dá boas vindas e oferece um super útil pacote pay-per-view do BBB, e então somos apresentados a várias opções (se você quer fazer isso, tecle 1, se quer fazer aquilo, tecle dois – no caso da NET, não era preciso teclar, mas falar (?) determinada palavra). O curioso é que, apesar de ser a Central do Assinante, não há nenhuma opção de cancelamento da conta. Enfim, após seguir as instruções, somos instruídos a teclar o número de instalação (a sua “identidade” da NET). Após teclar o número lhe é perguntado se você gostaria que o telefone de onde está ligando fosse armazenado no sistema deles, para facilitar o próximo atendimento. Uma verdadeira maravilha!

Depois de todo esse processo (que já leva uns bons minutos), uma gravação diz que o tempo de espera está elevado (é impressionante como em todas as vezes que eu liguei pra lá o tempo de espera era elevado) e que você deve esperar mais de X minutos. Somos então apresentados a uma propaganda irritante da NET que dura mais ou menos um minuto. Como o tempo de espera é de mais de cinco minutos, você está quase decorando o texto deles quando finalmente um atendente lhe diz “Net Digital, Fulano de Tal, boa tarde” e, independente do que seja o seu problema, pede o seu número de instalação. É estranho, pois essa informação já me foi pedida, mas mesmo assim passo a informação.

Informo o acontecido e ela me transfere para outro setor. Aguardo mais uns cinco minutos (estou quase decorando a propaganda) e então a outra funcionária me diz que em até 48 horas um técnico vai me ligar para marcar a instalação. Como era a primeira vez que eu ligava, e já que estava na casa nova, começando um ano novo, tudo me fez pensar que isso realmente iria acontecer. Pois passaram-se dois dias e nada. Liguei de novo, segui as instruções, digitei o código de assinante e respondi de novo a pergunta para facilitar o próximo atendimento (?). Esperei uns dez minutos, fui atendido, falei o número de assinante novamente e fui transferido. Após mais uns cinco minutos, uma outra atendente me deu a mesma informação. Então eu expliquei que isso já havia sido prometido quatro vezes e que queria saber se estava havendo algum problema. Ela disse que não tinha acesso à parte do sistema que via isso e pediu pra eu ligar novamente e escolher outra opção no menu. Liguei, passei por toda a via-crucis de novo e aí... a ligação caiu! Liguei de novo, tudo igual, expliquei o problema e exigi uma explicação. A moça disse que ia me passar para um responsável e desligou na minha cara. Puto da cara, liguei de novo, respondi as perguntas do menu, blá, blá, blá, e a moça (de nome Suzana, essa informação vai ser relevante daqui a pouco) disse que ia me passar para um responsável. Eu quase implorei pra que a linha não caísse. Fiquei esperando QUINZE MINUTOS, escutando aquela porra de propaganda, quando uma voz diz “Net Digital, Suzana, boa tarde”. Eu quase não acreditei; era a mesma pessoa!!! Já gritando, exiji que ela resolvesse meu problema. Ela me disse que não podia e que ia me transferir para um responsável. Eu perguntei que garantia eu tinha que a ligação não ia cair nela de novo, ou em outra pessoa que, como ela, não poderia resolver a questão, e escutei um “Nenhuma”. Ela ainda disse que se eu não quisesse que ela me transferisse ela iria desligar. Em outras palavras, eu estava refém do péssimo atendimento da NET. Irado, permiti que ela me transferisse novamente. VINTE MINUTOS depois, outra pessoa me atendeu. Aí eu tive que explicar pela zilionésima vez o problema, e escutei que não havia nada de errado no cadastro e que a pessoa não sabia o que podia estar acontecendo. Então fui comunicado que seria transferido para outra pessoa, que então resolveria meu problema. Então me passaram para a primeira pessoa que falou como um ser humano comum e não como uma máquina – que é como esses operadores de telemarketing costumam falar. Ela me disse que passaria o caso para o seu superior e que eu ligasse no dia seguinte e passasse o número do protocolo de atendimento para ter um retorno. Eu respondi que não faria isso, que não tinha que correr atrás de uma resposta, que era obrigação deles, etc., e ela então pediu meu telefone para entrar em contato comigo no dia seguinte, SEM FALTA. Nem preciso dizer que o dia seguinte passou e nada de um retorno por parte da NET.

Acabamos parando no Procon, onde para ser atendido é preciso esperar cerca de três horas e ainda voltar em outro dia para terminar o serviço. No fim, pedimos o cancelamento do plano da NET sem multa e acabamos comprando um plano novo, porque não podíamos ficar sem internet e telefone - minha mulher trabalha em casa, e o combo da NET ainda é o mais em conta.

Continua...

17 de mar. de 2008

Apanhado II

Agora, do Cão Uivador vem uma bem-humorada crítica a livros que supostamente vendem a fórmula de como ser feliz, bem-sucedido ou rico, como O Segredo. Eu, como bom cético que sou, não posso emitir uma sentença em relação a esse tipo de literatura, visto que um dos grandes méritos dela é justamente se munir de eventuais críticas, justamente por alguns dos pontos abordados no link acima. Afinal, se não há como provar que dá certo, deve-se admitir que também não há como provar que não dá – assim como religião e terapias. Até a ciência já tem algumas evidências de que o pensamento positivo pode ajudar em algumas situações (o efeito placebo poderia ser colocado no mesmo balaio). Porém, citando o último link, “o placebo pode ser uma porta aberta para o charlatanismo”, o que não deixa de ser ruim. Em todo caso, o que eu queria dizer aqui é que o que mais me chamou a atenção no post do Polemikos foram os comentários: apesar do tom claramente irônico da postagem, várias pessoas acreditaram que o autor realmente estava escrevendo aquilo de maneira séria, para posteriormente escrever o tal livro “A Receita”! É, realmente há muita gente crédula no mundo, está aí o Cocadaboa e seus boatos que não me deixam mentir...

16 de mar. de 2008

Humor brasileiro

Acabei de assistir um amistoso de futsal entre Brasil e Sérvia, disputado aqui no país. No time adversário estava Burovic, com menos de 1,60 de altura. Perto dos outros jogadores ficava evidente a diferença de tamanho entre eles e o pequeno jogador sérvio. Foi o que bastou para que a torcida brasileira começasse a comemorar a cada vez que Burovic tocava na bola. É o típico humor politicamente incorreto brasileiro; após alguns minutos em quadra, a torcida já havia bolado alguns cantos em "homenagem" ao atleta. Quando era substituído e ficava de fora por algum tempo, por exemplo, os torcedores cantavam: "Ão, ão, ão, queremos o anão". Mas o mais engraçado foi o narrador da Globo equivocadamente dizendo que a torcida brasileira estava pedindo a entrada do Falcão. É impressionante a falta de "malícia" dos narradores da Globo...

15 de mar. de 2008

Animação vs. Animador

Essa animação é antiga, mas como eu nunca a tinha postado aqui, vale a pena dar outra conferida. E para quem ainda não conhecia, uma oportunidade de conhecer uma animação super bem feita!

Apanhado I

Vou fazer um apanhado de algumas coisas interessantes que andei lendo nos últimos dias e que merecem pelo menos um comentário meu, todas de sites que estão indicados aí do lado:

Para começar, do Adubo de Rosas, um artigo do Noam Chomsky sobre o relativismo existente no discurso norte-americano (principalmente) a respeito do terrorismo internacional, há pelo menos uns 25 anos. É longo, mas interessantíssimo de ler. Entre outros méritos, Chomsky mostra de forma indireta no texto que criticar as fraquezas de um ponto de vista não significa necessariamente compactuar com o ponto de vista oposto. É a velha questão que já discuti algumas vezes com alguns colegas: criticar certos pontos do capitalismo (ou todo ele), por exemplo, não faz de você, necessariamente, um socialista/comunista. Reduzir qualquer discussão um pouco mais elaborada a esses termos é de um reducionismo alarmante, paralelo ao que se fazia durante a Guerra Fria (“se não está conosco, está contra nós). Parece que só existe sempre duas opiniões contrárias entre si, e ao negar uma automaticamente está se optando pela outra. Eu até entendo que tenha muita gente assim, mas fazer disso uma regra já é exagero. Chomsky mostra isso; ele não está defendendo os atos dos palestinos, está tentando mostrar que o discurso do Ocidente para ações muito similares (às vezes idênticas) muda de acordo com sua origem. Ou, nas palavras do próprio, “Os apologistas mais vulgares dos crimes dos EUA e Israel explicam com solenidade digna de melhor causa que, enquanto os árabes têm o propósito de matar pessoas, os EUA e Israel não têm a menor intenção de fazê-lo. Seus mortos são, simplesmente, acidentais e não podem ser comparados com os de seus adversários”.


13 de mar. de 2008

Rapa Nui e uma metáfora para a Humanidade

Rapa Nui é o nome que os polinésios dão à Ilha de Páscoa (nome europeu), descoberta pelos europeus em 1772 e que ainda hoje maravilha muita gente pelas suas impressionantes estátuas de pedra, os gigantescos Moai. Considerado o pedaço de terra mais isolado do mundo, Rapa Nui também era chamada pelos nativos de Te-Pito-Te-Henua, ou “Umbigo do Mundo”.

Não, eu não vou falar sobre quem construiu os Moai, se foram os polinésios, os incas, os extraterrestres ou sei lá quem. Prefiro me concentrar no que os arqueólogos acreditam que tenha acontecido com a população local antes da chegada do primeiro explorador europeu, o capitão Jakob Roggeveen, e como esse acontecimento pode nos fornecer uma valiosa metáfora para os dias de hoje.

Segundo estudos de pólen, lá pelo século V (data da possível chegada dos primeiros habitantes da ilha) havia uma grande floresta que cobria quase toda a ilha. Porém, quando da chegada dos europeus, no século XVIII, Rapa Nui estava completamente desmatada, à exceção de algumas poucas árvores esparsas. O que teria acontecido?

A madeira era utilizada para quase tudo, da cozinha à construção de barcos e casas, passando pela confecção de roupas. Enquanto houve abundância de madeira a população da Ilha de Páscoa cresceu e prosperou. O problema é que o desmatamento na ilha era feito numa taxa maior do que o crescimento de novas árvores, e não demorou para que começasse uma escassez de madeira na região. Com ela, não havia como construir novas casas e a questão da moradia virou um problema, pois não havia caverna para todos; pescar também se tornou uma atividade rara, já que as redes de pesca também eram feitas com madeira, e isso fez com que o frango se tornasse praticamente a única fonte de alimento, defendido a unhas e dentes dos saques que se tornavam cada vez mais freqüentes (até, finalmente, começarem com a prática do canibalismo); construir barcos para tentar encontrar outro lugar para morar (no caso, somente a milhares de quilômetros dali) também era complicado, visto que demandava muita madeira. Como dá para notar, a outrora civilização próspera que, entre outras conquistas, construiu e transportou os Moai (se não dermos bola para as teorias de ajuda externa - ou extraterrestre) agora estava ruindo e assistia a barbárie tomar seu lugar. Prisioneiro da sua própria ilha – que ajudou a construir e destruir –, o povo de Rapa Nui foi reduzido de uma população de cerca de 10000 pessoas para poucas centenas quando da chegada dos europeus. 

A interessante metáfora que pode ser lida aqui é que, assim como eles, hoje em dia nós também vivemos em nossa própria “ilha”, dispondo de uma quantidade limitada de recursos naturais que ano após ano torna-se cada vez menor. Tal qual os antigos habitantes daquela ilha, não temos para onde fugir; apesar de algumas idéias insanas de nos mudarmos para outro planeta, a verdade é que estamos tão presos no planeta Terra como eles estavam na Ilha de Páscoa. Será que a Humanidade pode tirar alguma lição do fracasso do povo de Rapa Nui e pensar em uma maneira de deixar de ser tão predadora dos meios naturais existentes? Afinal, a cada dia somos bombardeados com notícias de que vários recursos primordiais estão acabando (pra citar o principal, a água) e que o aumento do calor no planeta está diretamente ligado com ações humanas como o desmatamento desenfreado e a poluição. Em todo caso, está na hora de ações mais incisivas por parte da Humanidade para que a história do povo de Rapa Nui permaneça apenas como uma inocente metáfora.

Prometo...

...tentar atualizar mais seguido o blog. Prometo.

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